SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A marca e o preço dos ovos de Páscoa chamam mais a atenção do que a “lupa” que sinaliza alto teor em açúcares e gordura saturada em produtos alimentícios, de acordo com consumidores entrevistados em mercados da capital paulista na última terça (26).
Implementados nos ovos ainda na última Páscoa, a rotulagem tornou-se obrigatória em itens com mais de 15 gramas de açúcar adicionado a cada 100 gramas de produto e com mais de 5 gramas de gordura saturada a cada 100 gramas de chocolate.
Em uma pesquisa divulgada no início de março pela Bain & Company, 56% dos consumidores brasileiros disseram reparar no selo dos produtos ultraprocessados. A inserção da lupa, no entanto, não foi percebida por Adriano Cataldo. Procurando um ovo para o sobrinho em um supermercado na Vila Guilherme, zona norte de São Paulo, saiu sem nada nas mãos. Isso porque a criança queria um tipo específico de chocolate.
“Não me atentei ao selo, vim atrás do ovo que meu sobrinho pediu”, disse Cataldo, que é trainee de inteligência artificial da Vivo.
No mesmo supermercado, a psicóloga Rosimere Celestino comprava um ovo de Páscoa cor-de-rosa e disse que, além das preferências da criança, o que mais influencia na hora da compra é o preço. “Se a menina quer um ovo da Barbie, nem adianta o rótulo, a única atenção é o valor”, afirmou.
De acordo com Daniela Cierro, nutricionista e integrante da Asbran (Associação Brasileira de Nutrição), a obrigatoriedade da lupa representa um avanço. “É importante para informar o consumidor sobre ingredientes que estão em excesso e são prejudiciais.”
Em outro supermercado, no bairro Bela Vista, região central de São Paulo, a enfermeira Cleide Andrade observava alguns dos ovos expostos no corredor de Páscoa do estabelecimento e disse que o principal fator na hora de escolher o produto é a opinião infantil. “Vamos mais pelo que a criança quer, mesmo.”
Na avaliação dela, os rótulos não representam um perigo real. “Só consumimos nesta época do ano mesmo, além do mais, hoje em dia quase tudo tem esse tipo de selo”, complementou Cleide.
Analista de negócios, Heidiel Carvalho fazia compras no mesmo supermercado e compartilhava do posicionamento. “Só comemos um pouco, e somente neste período do ano, então para mim não atrapalha”, disse ele, que procurava um ovo específico para dar de presente.
Comer chocolate é uma prática saudável, de acordo com Daniela Cierro, desde que seja de maneira consciente e sem exageros. “O consumidor precisa saber se naquele ovo, barra ou bombom de chocolate a concentração de cacau está acima de 70%, pois aí sim estamos falando de chocolate de verdade, inclusive com benefícios”, afirmou a nutricionista.
A profissional lembra que os ovos de chocolates convencionais, vendidos em supermercados e lojas de guloseimas, costumam ser recheados com aditivos e conservantes. “É uma mistura feita para atrair o paladar, com alta densidade calórica, sem cacau e com malefícios para a saúde a depender da quantidade e periodicidade consumida”, explicou.
A rotulagem de alerta para produtos alimentícios industrializados com alto teor de açúcar, sal e gordura, instituída pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), tornou-se obrigatória em outubro de 2022.
Apesar do avanço com a lupa, a nutricionista avalia que ainda é necessária a incorporação de uma política pública efetiva e de fácil acesso. “Temos algumas implementadas, porém a eficácia ainda é baixa.”
ANDREZA DE OLIVEIRA / Folhapress