‘Sem previsão de sair’, diz mãe de militar aquartelado há uma semana após sumiço de armas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cerca de 480 militares do Exército Brasileiro estão aquartelados há sete dias no AGSP (Arsenal de Guerra de São Paulo), em Barueri, de onde desapareceram 21 metralhadoras de alto calibre na semana passada. Os investigadores coletam depoimentos da tropa para tentar descobrir o destino do armamento e trabalham com a hipótese de furto ou extravio.

Por medida de segurança, ninguém pode entrar ou sair da base durante as investigações, e todos os militares, incluindo oficiais, soldados e praças, tiveram os celulares recolhidos. O único contato com o exterior ocorre durante visitas de familiares, permitidas entre as 9h e as 21h.

“É uma situação incomum, e ele me pareceu bastante tenso, já que não sabe direito o que está acontecendo”, disse a cientista de dados Amanda Carvalho, 24, que visitou o marido nesta terça (17), acompanhada da mãe. “No próximo dia 5 nós completamos um ano de casamento. Espero que até lá ele já tenha saído, mas, se não for possível, meu plano B é vir comemorar com ele. Vou fazer o máximo para a data ser especial.”

Assim como Amanda, dezenas de pessoas lotavam a recepção do AGSP nesta tarde. A área foi reservada para os encontros de parentes com os militares aquartelados, que aproveitavam o pouco tempo juntos para matar a saudade e trocar informações em meio ao clima de incerteza. Muitos visitantes levavam sacolas com alimentos, itens de higiene e outros objetos pessoais. Todas as bolsas eram revistadas antes de entrar na base.

A dona de casa Euzeni Souza Pinto, 45, contou que não via o filho havia uma semana e disse que os dois nunca ficaram tanto tempo sem comunicação. Na pequena recepção, aproveitou para abraçar e entregar alimentos ao jovem.

“Ele estava muito tenso com a situação e acho que conseguiu aliviar um pouco. Ficou feliz de ver o irmãozinho”, disse ela, acompanhada do caçula de cinco anos e da namorada do militar.

A eletricista Andressa Carvalho, 27, também levou o filho até a base militar em que trabalha o ex-marido. O menino de 4 anos tem autismo e, segundo a mãe, passou por diversas crises ao longo da semana, motivadas pela ausência do pai.

“Quando tudo aconteceu, era para o pai buscar ele na escola, e desde então tem a expectativa, por parte do meu filho, de o pai chegar. Essa ansiedade acabou gerando muitas crises, mas agora ele está mais tranquilo”, relatou.

Andressa conta que o tratamento da criança foi interrompido por causa do fechamento do quartel, já que o FUSEx (Fundo de Saúde do Exército), que emite guias de encaminhamento para os atendimentos médicos, fica no interior do AGSP. “Dessa vez me disseram que a situação seria resolvida e que eu poderia retomar a terapia do meu filho amanhã [quarta], mas não me entregaram nenhuma guia, disseram que vão mandar direto para a clínica”, disse.

Procurado pela reportagem, o Exército não esclareceu se tomou alguma providência para garantir atendimento médico aos beneficiários do FUSEx.

Algumas pessoas que visitaram a base nesta terça disseram que a rotina de trabalho dos militares é mantida com pouca alteração, apesar de todas as restrições impostas pela investigação. “É difícil, mas faz parte da carreira dele e logo a situação deve se resolver”, disse a operadora de logística Isabel Lima, 56, que levou frutas e um bolo para o filho.

“Eles estão bem, trabalhando normal, mas não têm previsão de sair. E disseram que não passam nenhuma informação”, relatou Fernanda Luísa da Silva, 47, depois de visitar o filho mais velho, de 24 anos. “Amanhã vem a noiva, ele disse que está ansioso. Também está com saudade do irmãozinho de 6 anos, que vou trazer no sábado”, acrescentou.

De acordo com o Exército, a ausência de 13 metralhadoras de calibre .50 (antiaéreas) e oito de calibre 7,62 foi notada no último dia 10, durante uma inspeção de rotina no arsenal. As armas estariam “inservíveis”, sem utilidade, e foram levadas até Barueri para passar por manutenção.

A princípio, o Exército considerou a possibilidade de que algum erro de conferência pudesse ter resultado na discrepância na contagem do armamento. A hipótese, no entanto, já foi descartada, e a investigação tem como principais hipóteses furto ou extravio dos armamentos.

A investigação é conduzida pelo Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército Brasileiro e conta com o apoio do Comando Militar do Sudeste. No fim de semana, militares do Rio de Janeiro e do Distrito Federal estiveram no Arsenal de Guerra como parte da apuração. O Inquérito Policial Militar tem prazo de 40 dias e é conduzido sob sigilo.

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) disse que, em razão do “evidente risco de desdobramentos para a segurança da população”, as polícias Civil e Militar trabalham para auxiliar na localização do armamento desaparecido, ainda que o Exército não tenha registrado boletim de ocorrência sobre o caso. “Estão sendo analisados registros digitais sobre veículos e pessoas nas vias próximas e de acesso ao local do crime com o objetivo de identificar alguma anormalidade de interesse policial”, diz o texto.

De acordo com o Instituto Sou da Paz, este é o maior desvio de armas registrado pelas Forças Armadas desde 2009, quando sete fuzis foram roubados de um batalhão em Caçapava, no interior de São Paulo. Os armamentos foram recuperados pela polícia na ocasião.

LEONARDO ZVARICK / Folhapress

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