WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Há meses as pesquisas de intenção de voto mostram basicamente um empate técnico entre Donald Trump e Kamala Harris. A quatro dias da eleição, especialistas em projeção admitem o fracasso: está acirrado demais para saber.
Diante dessa incerteza, americanos recorrem a métodos alternativos aos tradicionais levantamentos eleitorais para tentar formular um palpite. Vale mercado financeiro, bolsa de apostas, campeonato de beisebol, torcer e retorcer estatísticas de voto antecipado, checar mais uma vez se Allan Lichtman, o historiador que previu corretamente quase todas as eleições presidenciais dos últimos 40 anos, não mudou de opinião e, por que não, dar uma olhada no que dizem os astros.
Primeiro, o movimento das ações. Considerando o índice S&P 500, Kamala é a favorita, de acordo com a regra geral de que, quando o mercado vai bem, o incumbente é eleito. Em quase cem anos, essa previsão não se concretizou em apenas quatro eleições presidenciais.
A lógica por trás é de que o mercado vai melhor quando não acha que vai precisar lidar com a incerteza de uma troca de comando da Casa Branca. Por outro, se o mercado acredita na derrota do partido que então governa o país, pisa no freio.
Como a S&P acumula alta de 15% nos últimos seis meses deste ano, seria um sinal favorável a Kamala de que o mercado acha que ela ganha. Trump, no entanto, tem contra-atacado esse argumento em seus comícios, dizendo que o mercado está indo bem justamente porque acredita que o republicano será o vencedor.
Outro mercado usado de bússola é o de apostas. O mais utilizado, chamado Polymarket, coloca o empresário na frente quase todo o tempo ao longo do último ano -Kamala fez algumas ultrapassagens desde agosto, mas em outubro Trump recuperou a dianteira, e com folga. Nesta sexta-feira (1º), os apostadores dão a Trump 62% de chance de vencer.
No entanto, reportagens nos últimos dias apontam que há um grande volume de operações feitas com o objetivo de manipular o mercado. Segundo a revista Fortune, por exemplo, uma análise feita pela empresa de blockchain Chaos Labs concluiu que um terço do volume transacionado na bolsa de apostas para presidente do Polymarket é, na verdade, “wash trading” -uma forma de gerar artificialmente volume e atividade. O site se defende dizendo que proíbe explicitamente manipulação de mercado.
As estatísticas sobre voto antecipado –opção que a maior parte dos estados oferece a eleitores para votar antes de 5 de novembro– são outro campo fértil para todo tipo de teoria. Republicanos, por exemplo, estão comemorando o percentual mais alto de filiados do partido votando antecipadamente, em comparação com pleitos anteriores, como um sinal de maior empolgação de suas bases.
Especialistas, porém, rebatem que isso pode ser tanto fruto de uma mudança de hábito adquirida em 2020, quando a Covid alterou profundamente o método de votação do eleitorado, quanto uma simples reação a Trump incentivando seus apoiadores a voltarem mais cedo -algo que ele não fez em campanhas anteriores, quando disse que o método seria alvo de fraude.
Da sua parte, democratas têm alardeado a alta participação de mulheres na eleição até agora, assim como de filiados ao partido com mais de 60 anos na Pensilvânia (uma fatia em que Trump costuma ter vantagem). Da mesma forma, especialistas recomendam cautela para quem tenta tirar conclusão desses dados -filiação não equivale a voto no partido, e a maior parte do eleitorado ainda vai deixar para votar no dia 5.
Na contramão de toda a obsessão estatística, o historiador Allan Lichtman rebate que o que importa são 13 critérios usados por ele para prever o resultado da eleição desde 1984. Exceto pela derrota de Al Gore para George W. Bush em 2000, ele de fato acertou todas.
Newsletter Lá Fora Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo *** Neste ano, ele vem dizendo desde agosto, quando Kamala substituiu Biden, que ela vai ganhar. Na última semana, publicou um novo vídeo do YouTube reiterando sua previsão.
O que Lichtman faz é basicamente mapear se a correlação de forças é favorável ou não ao incumbente. Seus critérios levam em conta, por exemplo, força do partido do governo na Câmara, se há uma recessão em curso, turbulências sociais, vitórias e fracassos de política externa e carisma dos candidatos.
Há muitos questionamentos em torno do método, mas sua capacidade de acertar tantos pleitos deu certa fama a Lichtman, que se tornou uma espécie de celebridade eleitoral nos EUA. Neste ano, o historiador de 77 anos está no TikTok.
E finalmente chegamos ao terreno da superstição. Na última quarta, o time de beisebol Los Angeles Dodgers venceu a World Series, derrotando os New York Yankees. A última vez que a equipe levou esse campeonato foi em 2020, uma semana antes da vitória de Joe Biden. Desde então, explodiram comentários associando a vitória dos Dodgers a uma de Kamala na próxima terça.
A democrata também é vista como a candidata mais forte por astrólogos. No entanto, as previsões são acompanhadas por um alerta de turbulência após o pleito e até possível recontagem. Segundo os planetas, o desfecho está longe de ser resolvido na próxima semana.
FERNANDA PERRIN / Folhapress