BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Senado aprovou nesta terça-feira (10) os nomes de Nilton David, Gilneu Vivan e Izabela Correa -indicados pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)- para três diretorias do Banco Central. Eles assumem os novos postos em 1º de janeiro de 2025.
Escolhido para chefiar a área de Política Monetária -cadeira ocupada hoje por Gabriel Galípolo, futuro presidente do BC-, David recebeu 50 votos favoráveis, 3 contrários e 1 abstenção. Mais cedo, na votação preliminar na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), ele foi aprovado por 22 votos a favor e 5 contra.
Com 53 votos favoráveis e 3 contrários, Vivan recebeu aval dos senadores para substituir Otavio Damaso na diretoria de Regulação no ano que vem. Na CAE, ele teve 23 votos a favor e 4 contra.
Correa, por sua vez, foi aprovada para suceder Carolina de Assis Barros na diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta depois de contar com 48 votos a favor e 3 contra, sem abstenções. Na CAE, foram 24 votos favoráveis e 3 contrários.
Na sabatina, mais cedo, David defendeu firme atuação do BC para manter o controle da inflação e falou em “serenidade” e “perseverança” como atributos fundamentais para a autoridade monetária.
“O país possui um dos menores desempregos da sua história, acompanhado da expansão do crédito, da atividade e da renda. Ao mesmo tempo, a inflação e as expectativas têm se mantido acima do centro da meta e requerem a atuação firme do Banco Central para o cumprimento do mandato que lhe foi conferido. Processo que, aliás, já está em curso”, afirmou ele, em seu discurso inicial.
“As defasagens de política monetária são longas e variáveis. Os choques de preços precisam ser avaliados à luz de suas causas e graus de persistência. Além da firmeza, a serenidade e a perseverança são atributos indispensáveis para um adequado cumprimento desse mandato”, acrescentou.
Segundo o boletim Focus, os analistas projetam que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fique acima do teto da meta neste ano e também em 2025 -4,84% e 4,59%, respectivamente. Para 2026, a estimativa está em 4%.
Desde 2019, Nilton David chefiava a área de operações de tesouraria do Bradesco. No banco, era responsável pela precificação e gestão de riscos de mercado das operações com clientes e atuava como gestor de equipes responsáveis por câmbio, commodities, ações e derivativos.
Trabalhou no Morgan Stanley (2016-2019) como chefe da mesa de operações, responsável por juros locais no Brasil e no México, moedas estrangeiras e estruturação. Atuou em instituições no Brasil e no exterior, como Citi, Barclays e Goldman Sachs. Foi sócio da gestora Canvas Capital. É graduado em engenharia de produção pela Poli-USP (Escola de Engenharia Politécnica da Universidade de São Paulo).
Na leitura do relatório, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) destacou a vivência de David no mercado financeiro. “Nada melhor do que quem esteve do outro lado do balcão para operar do lado de cá na regulação, no acompanhamento, no monitoramento, para que nosso país não sofra os ataques especulativos que a gente tem sofrido”, disse.
Questionado pelos senadores sobre a situação fiscal do país, David disse que não cabe ao BC comentar sobre a “qualidade” ou dizer o que é certo ou errado nesse tema. No entanto, descartou que o Brasil se encontre em uma situação de dominância fiscal (temor indicado por economistas após a frustração com o pacote de contenção de despesas apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad).
“Eu tenho convicção que nós não estamos próximos de dominância fiscal”, disse. Na visão dele, o cenário mostra que a política monetária cumpriu o papel de conter um aumento ainda maior da inflação.
Numa situação de dominância, os instrumentos do BC para controlar o avanço dos preços, como a taxa básica de juros (Selic), perdem potência e podem até mesmo impulsionar a inflação, tendo efeito contrário ao desejado.
O dólar rompeu a barreira dos R$ 6 no fim de novembro, em reação ao anúncio do pacote fiscal. Desde então, a moeda norte-americana vem superando dia após dia o maior valor histórico. Nesta terça, a divisa caiu a R$ 6,047, depois de ter renovado seu recorde histórico nominal na véspera (R$ 6,081).
“Eu não tenho a menor dúvida que a intervenção do Banco Central altera temporariamente o preço do câmbio. Mas a minha experiência mostra que ela é apenas efêmera”, afirmou David.
Correa também destacou o objetivo fundamental do BC de assegurar a estabilidade do preços. “O Copom tem sido bastante vocal e claro com relação ao seu compromisso firme de convergência à meta de inflação. Esse é o mandato que vamos perseguir”, afirmou.
Ela destacou ainda que ao BC compete trabalhar para alcançar a meta definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) e que a autoridade monetária se reporta “ao poder democraticamente eleito”. “Essa autonomia não é isolamento”, disse.
Servidora do BC desde 2006, Correa trabalhava como secretária de Integridade Pública para a CGU (Controladoria-Geral da União) desde fevereiro de 2023. No órgão, atuou previamente como assessora na diretoria de Prevenção da Corrupção e como coordenadora-geral de Transparência, Ética e Integridade.
No BC, foi assessora no gabinete da diretoria de Relações Institucionais, Cidadania e Supervisão de Conduta em temas relacionados à prevenção à lavagem de dinheiro e combate ao financiamento do terrorismo. Trabalhou também como chefe adjunta da Secretaria do CMN.
Foi pesquisadora de pós-doutorado na escola de governo da Universidade de Oxford e possui doutorado em governo pela LSE (London School of Economics and Political Science). Ela é mestre em ciência política pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e graduada em administração pública pela escola de governo da Fundação João Pinheiro, em Minas Gerais.
Vivan, em seu discurso inicial na sabatina, ressaltou que o país enfrenta novamente um ciclo inflacionário, com um ambiente externo desafiador e expectativas distantes do alvo central de 3%.
“O Comitê de Política Monetária em sua comunicação tem enfatizado seu firme compromisso com a convergência da inflação à meta. As decisões que tomarei, se tiver a honra de ser aprovado, serão seguir o bom trabalho daqueles que me antecederam, dentro do mandato legal, sempre alicerçado na excelência do corpo técnico do Banco Central”, disse.
Questionado sobre a estabilidade de preços, Vivan ressaltou que o BC vai agir “quando necessário” para conter a inflação. Segundo ele, o BC tem condições hoje de, ao menos, mitigar os impactos de crises sobre a solidez do sistema financeiro nacional.
O IPCA desacelerou a 0,39% em novembro, apontam dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mas, no acumulado de 12 meses, o índice ganhou força, acelerando a 4,87% até novembro.
Sobre a questão fiscal, reconheceu que é uma variável que afeta “o processo”. “Mas o compromisso legal [da autoridade monetária] é com a meta, não outra coisa”, disse.
Vivan é servidor do BC desde 1994 e chefiava o departamento de Regulação do Sistema Financeiro. Durante 11 anos, foi responsável pelo monitoramento da estabilidade do sistema financeiro nacional. Também representou o Brasil em diversos grupos internacionais, tais como Analytical Group on Vulnerabilities, do FSB (Financial Stability Board).
É mestre em gestão econômica de negócios pela UnB (Universidade de Brasília) e bacharel em economia pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Os três nomes foram anunciados pelo BC em 29 de novembro e encaminhados pelo Executivo ao Senado na noite da última terça (3), em edição extra do DOU (Diário Oficial da União). O trio teve menos de uma semana para se reunir com os parlamentares até a data da sabatina na CAE.
NATHALIA GARCIA / Folhapress