WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Nem Donald Trump nem Ron DeSantis. Tim Scott, senador pela Carolina do Sul, desponta como um candidato cada vez mais competitivo a obter a indicação do Partido Republicano para disputar a eleição à Casa Branca em 2024. E essa terceira via tem incomodado adversários.
Scott corre por fora, muito atrás de Trump, até aqui o franco favorito para obter a indicação, e figura nas pesquisas nacionais atrás de outros pré-candidatos. Mas três levantamentos recentes chamaram a atenção.
Pesquisa da Fox Business, canal da rede conservadora voltado a temas econômicos, divulgada no domingo (23) mediu a tração dos candidatos para a primária republicana em Iowa. A votação em 15 de janeiro é considerada chave por ser a primeira entre as que escolherão o nome que constará nas urnas em novembro do ano que vem.
À frente está Trump, com 46% das intenções de voto. Na sequência, DeSantis, com 16%. Mas, empatado na margem de erro de 3,5 pontos percentuais, aparece Tim Scott, que encostou no governador da Flórida, com 11%. E o senador tem a maior chance de crescer, uma vez que conta com a menor rejeição entre os três –apenas 12%.
Também no domingo, outra pesquisa mostrou o senador colado com DeSantis, desta vez na Carolina do Sul, com 10% das intenções de voto, enquanto o governador da Flórida tinha 13%.
Outro nome que aparece bem posicionado por lá, porém, é o de Nikki Haley, ex-governadora do estado, com 14%. E, à frente de todos, Trump, com 48%. Uma terceira pesquisa, desta vez da Universidade de New Hampshire, apontou Scott em terceiro lugar nas primárias do estado.
A seis meses das primárias, no entanto, os resultados podem variar muito. E em outros estados Scott aparece atrás de nomes como o empresário Vivek Ramaswamy e o ex-vice-presidente Mike Pence.
Mas a trajetória crescente do senador chamou a atenção até de grandes doadores do partido, como o bilionário Ronald Lauder, sobretudo os que procuram uma alternativa a Trump, primeiro ex-presidente a se tornar réu em casos criminais, e estão frustrados com a falta de tração de DeSantis. Scott também tem apoio de Larry Ellison, fundador da Oracle e quarta pessoa mais rica do mundo segundo a Forbes.
Tudo isso ensejou críticas de comitês de apoio de seus adversários, como o “Grande Retorno da América”, que levanta recursos para a campanha do governador da Flórida, conforme apontou memorando interno do grupo divulgado pelo canal NBC.
“A biografia de Tim Scott carece da luta que nosso eleitorado está procurando no próximo presidente. Esperamos que ele receba o escrutínio apropriado. Encontramos baixo ou nenhum interesse em Vivek [Ramaswamy], [Doug] Burgum e Nikki [Haley], enquanto muitos eleitores não considerarão [Mike] Pence e [Chris] Christie para que sejam remotamente viáveis”, diz o documento.
Scott, 57, é o único senador negro filiado ao Partido Republicano em atividade e um dos quatro únicos da história da legenda. Ele também acumula outros pioneirismos, como o fato de ser o único político negro a servir tanto na Câmara quanto no Senado e o primeiro senador negro eleito por um estado do sul do país desde a Guerra Civil, no século 19.
Quando entrou na política em 1995, como vereador pelo condado de Charleston, foi a primeira pessoa negra eleita para um cargo político em toda a Carolina do Sul desde 1902. Ocupou o posto por 14 anos, até ser eleito por um mandato para a Câmara estadual e, em 2011, para a Câmara dos Representantes. Serviu como deputado por apenas um mandato. Em 2013, a então governadora Nikki Haley, hoje sua adversária, o indicou para um cargo vago no Senado, e ele venceu todas as eleições que disputou desde então para se manter no posto.
Apesar da sequência de pioneirismos, o senador rejeita a questão racial. Em 2021, disse que nunca “experimentou a dor da discriminação, os EUA não são um país racista”. Mas Scott criticou Trump quando relativizou supremacistas brancos que marcharam em Charlottesville, na Virgínia, em 2017. Também apoiou pleitos de reforma policial após o assassinato de George Floyd em 2020.
A relação com Trump é a mais delicada, já que parcela dos candidatos evita criticar abertamente o ex-presidente, muito popular nas fileiras do partido. Na última semana, após Trump anunciar que era alvo de investigação do Departamento de Justiça pela invasão do Capitólio em 2021, afirmou que os manifestantes, não o ex-presidente, são responsáveis pelo episódio.
Mesmo atrás na corrida, o otimismo em relação à campanha de Scott contrasta com o pessimismo na campanha de DeSantis, que tem tido dificuldade de deslanchar. Nesta terça-feira (25), o governador demitiu 26 funcionários de sua campanha de reeleição, que se somam aos 12 demitidos na última semana. Pela manhã, DeSantis sofreu um acidente de carro no Tennessee, mas não houve feridos.
THIAGO AMÂNCIO / Folhapress