SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Militares à esquerda sofreram perseguição ao longo do século 20 no Brasil, e destacar a vivência dessas minorias em uma instituição que se pretende homogeneamente de direita é importante para fomentar uma política de memória mais plural.
Essa é a premissa da coletânea “À Esquerda das Forças Armadas Brasileiras: Histórias de Vida de Militares Perseguidos e Anistiados Políticos”, que vai ser lançada neste sábado (30), na Alpharrabio Livraria, em Santo André (SP).
A coleção conta com cinco livros que tratam, além de outros temas, da história de militares à esquerda famosos e desconhecidos, os quais contam aos pesquisadores como foi o processo de resistência dentro e fora das Forças Armadas.
Segundo a historiadora Andrea Paula Kamensky, que organiza a coleção, a ideia é fazer circular a narrativa sobre essas minorias, em contraposição a um discurso oficial que destaca personagens de alta patente de direita.
Ela cita a ausência de documentos extensos e sistematizados sobre personagens que fizeram oposição. Também diz que, apesar de as instituições terem normalmente um discurso oficial sobre si mesmas sem nuances, elas costumam ser marcadas pela pluralidade.
“Fazer o estudo dessas minorias é importante porque, com isso, conseguimos analisar os conflitos dentro dessas instituições”, afirma.
Os livros falam sobre a trajetória dos militares durante o século 20. Segundo a historiadora, as Forças Armadas já foram mais plurais no Brasil, com militares à esquerda. “Significa dizer que eram legalistas, democratas e socialistas, não só comunistas.”
A partir da década de 30, porém, aumenta o anticomunismo e se intensifica a perseguição àqueles que não eram de direita. Isso é intensificado com o golpe militar de 1964, quando mais de 6.000 militares foram perseguidos, torturados ou punidos.
A coletânea fala de algumas dessas figuras que resistiram ao posicionamento hegemônico, como o brigadeiro Rui Barbosa Moreira Lima, que morreu em 2013, aos 94 anos.
Ele foi um herói da Segunda Guerra Mundial e fez oposição à ditadura militar. Segundo Kamensky, era antinazifascista e democrata. “Ficava muito difícil expulsar ou matar uma pessoa como essa. [Por causa da oposição ao regime], foi aposentado precocemente.”
Lima foi preso três vezes e sequestrado durante a ditadura. Além disso, foi o primeiro militar a dar depoimento à CNV (Comissão Nacional da Verdade), em 2012, motivando estudos sobre os parceiros perseguidos pelo regime.
De acordo com a historiadora, falar sobre isso é importante para fomentar a discussão a respeito de uma memória mais plural e sobre a importância de mudar a formação dos militares.
“Várias instituições organizam a memória nacional, como a educacional. Ela, dentro e fora das Forças Armadas, reforça uma memória nacional por meio do que é comemorado, dos monumentos e dos materiais de estudos”, diz Kamensky, apontando que, até hoje, essa educação transmite uma perspectiva anticomunista aos militares.
A coleção está disponível gratuitamente para download no seguinte endereço: https://www.jcsbm.info/esquerdamilitar.
“À ESQUERDA DAS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS: HISTÓRIAS DE VIDA DE MILITARES PERSEGUIDOS E ANISTIADOS POLÍTICOS”
Quando Lançamento neste sábado (30), às 10h30 na Alpharrabio Livraria, rua Eduardo Monteiro, 151, Santo André (SP)
Editora Alpharrabio Edições
Link https://www.jcsbm.info/esquerdamilitar
ANA GABRIELA OLIVEIRA LIMA / Folhapress