Série dos Lakers acaba sem fim com bom olhar para os egos feridos

FOLHAPRESS – O fim de “Lakers: Hora de Vencer” foi doloroso. A série terminou de forma abrupta no domingo (17), cancelada pela sua emissora, a HBO, logo depois da exibição do último episódio da segunda temporada. Criador e produtor do programa, Max Borenstein escreveu nas redes sociais que aquele não era o final planejado para a trama.

A declaração do showrunner é compreensível perante o desfecho irônico do seriado. A história acabou na famosa derrota do Los Angeles Lakers para os seus principais rivais, o Boston Celtics, nas finais da NBA de 1984. Apesar das circunstâncias, a decisão foi interessante —ainda mais em vista do que veio a seguir.

Para evitar um fim tão melancólico, a produção inseriu mais duas cenas, preparadas para o caso do cancelamento. A primeira, simples, mostra o dono do time, Jerry Buss, prometendo o time à filha Jeanie como herança.

A segunda, hilária, é uma montagem ao som de Pat Benatar mostrando os finais felizes de todos personagens humilhados na quadra.

O desfecho improvisado soou corporativo ao destacar o sucesso do Lakers, com ares de ridículo graças ao teor das cartelas da montagem. Ao informar sobre o diagnóstico de Aids de Magic Johnson, por exemplo, a série destaca que seu rival, Larry Bird, foi o primeiro a ligar para o colega.

O desfecho original da temporada, por sua vez, é a prova máxima dos méritos do segundo ano. A imagem de Johnson debaixo do chuveiro, sentado e cabisbaixo, foi o estranho fim adequado para uma série que, impossibilitada de construir um painel histórico completo, diagnosticou bem a lógica interna do esporte.

Uma baita ironia porque “Hora de Vencer” teve uma última temporada dedicada à derrota. Além de 1984, a série retomou a história no campeonato de 1980 e 1981, quando o Lakers foi eliminado de forma prematura, vexatória e em crise.

Com isso, o programa abraçou um escopo mais amplo para entender como a rivalidade do time com o Celtics definiu a década no basquete americano. Foi uma decisão arriscada, em especial comparada à ergonomia do primeiro ano, que acompanhava apenas uma edição da NBA, e pelo número reduzido de episódios, de dez para sete.

Nos piores momentos, a segunda temporada de “Hora de Vencer” fez jus às críticas de que seria um verbete da Wikipédia dramatizado. O penúltimo episódio corre tanto para chegar na final do campeonato que abrevia o drama do incêndio da casa de Kareem Abdul-Jabbar, líder do time dos Lakers.

A situação beira o alucinógeno, sobretudo por ser um evento que acontece no começo daquele torneio.

Mas o ritmo frenético serviu para Borenstein e os roteiristas explorarem melhor o que torna o esporte tão atraente ao público. Se a primeira temporada se obrigava a explicar o renascimento do time nos anos 1980, a segunda trabalha o lado emocional que moveu a liga naqueles anos.

No entendimento do programa, tudo mora no ego ferido —e masculino, o que sacrificou mulheres importantes na história, como Jeanie Buss e Claire Rothman.

Assim, os novos episódios deram amplo espaço para a pequenice de espírito, elevando figuras históricas a personagens fascinantes. A temporada se moveu na base da emasculação, em especial do lado dos técnicos do Lakers daquele momento, Paul Westhead e Pat Riley, vividos com esmero por Jason Segel e Adrien Brody.

A transição no comando foi a parte mais atraente do segundo ano. Segel teve amplo espaço para construir o isolamento e a queda de Westhead, demitido por sua insegurança e teimosia excêntricas. Já Brody contornou o tempo curto dado pela série para fabricar a ascensão de Riley —a maior liderança da história do time— na chave da personalidade impulsiva.

Os dois personagens também são criados nos entornos da figura midiática de Johnson, que se torna o centro do Lakers ao assinar um acordo milionário de 25 anos com a franquia.

O time, assim, é remodelado à figura de seu dono, Jerry Buss, que por acaso vê mais um casamento naufragar no período.

Daí que a decisão de fundamentar a temporada —e o fim— nas derrotas faz tanto sentido. Com tempo de vida abreviado, “Hora de Vencer” foi preciso ao olhar a influência da cultura dos Lakers no esporte como uma questão de temor dentro dos vícios. Nesse sentido, o terror de perder move muito mais um jogador que o prazer da vitória.

LAKERS: HORA DE VENCER

Avalição Bom

Onde Disponível na HBO Max

Classificação 16 anos

Elenco John C. Reilly, Quincy Isaiah e Adrien Brody

Produção EUA, 2023

Criação Max Borenstein e Jim Hecht

PEDRO STRAZZA / Folhapress

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