SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Logo na abertura do primeiro episódio, a narradora destaca que o grupo religioso que caminha para ser o maior do país é “diverso e múltiplo”. E é exatamente isso que a série “Evangélicos”, que estreou no domingo (7), no GNT, mostra ao apresentar as diversas e múltiplas formas de fé entre cristãos no Brasil.
Em seis episódios, a série conta a história de seis cristãos de diferentes igrejas, cidades, profissões e formas de cultuar a Deus. Mas, têm em comum a mesma fé e esperança em Jesus Cristo. E um detalhe: cada um deles passa por um momento especial da vida, como casamento, aniversário e a estreia de uma peça no teatro, por exemplo.
Entre os protagonistas estão uma dentista de Goiânia, um ator da periferia de São Paulo e uma ambientalista do Acre. São de igrejas reformadas, pentecostais ou progressistas e vivem uma realidade social completamente diferente uns dos outros. Todos seguidores de Jesus Cristo.
O diretor e roteirista de “Evangélicos”, Alberto Renault, que também dirigiu a série “Casa Brasileira”, explica que os personagens e as histórias contadas são resultado de uma encomenda feita ao antropólogo e colunista da Folha, Juliano Spyer, que fez a consultoria da série. Spyer e sua equipe foram os responsáveis por selecionar os personagens.
“Eu aceitei [a consultoria] mas disse que seria muito difícil. Foi um trabalho de recrutamento intenso”, afirma o antropólogo. Ele recorda que foram contatadas mais de uma centena de pessoas e entrevistadas algumas dezenas para chegar aos seis protagonistas.
Segundo o antropólogo, “Evangélicos” não trata os cristãos como uma “figura estranha” como as séries que mostram o “mundo animal”, mas os apresenta como eles realmente são, o que pode fazer com que muitos se perguntem: “pode crente desse tipo?”. Ou algo como “se evangélico é isso, eu posso ser também”, disse.
“É uma variedade [de cristãos] tal qual a variedade humana”, diz Renault, que percebe “a forte presença da Bíblia” como o “traço comum” entre todos os protagonistas. E o resultado, segundo o diretor, é uma forma de “olhar para um mundo que pouco se olha” através de uma “pequena fresta”.
Spyer, porém, considera essa “pequena fresta” uma “janela imensa” para mostrar a realidade da vida dos cristãos que raramente se vê na televisão brasileira, seja na dramaturgia ou em documentários.
Segundo pesquisa Datafolha de 2022, o Brasil tem uma grande maioria cristã: 51% da população se declara católica, e 26%, evangélica. Ainda há 2% de adventistas, outra linha do cristianismo.
Renault disse que a série partiu de um convite do GNT que ele aceitou como desafio e com a curiosidade de um documentarista “que tem muito mais interesse naquilo que não conhece do que naquilo que já sabe”. “É um universo que eu desconhecia”, afirmou o diretor, que disse ser ateu.
O diretor admite que o termo “evangélico” foi contaminado e estigmatizado por questões políticas, porém, preferiu não abordar o tema no documentário. O que ele pretende, diz, é mostrar uma visão humanista da religião: o que é a fé para aquela pessoa, como ela se relaciona com Deus, o que significa orar e como isso tudo se insere na vida dela.
“Eu estou contando a vida de uma pessoa e não o que ela acha daquilo [política]. É uma biografia. Se não, falaria com antropólogos e pastores. Mas eu falei com fiéis”, afirmou Renault. A exceção é o pastor Kleber Lucas, um dos protagonistas da série.
“Evangélicos” mostra um pouco além da fé cotidiana de seus protagonistas e das pessoas que os cercam. No episódio em que conta a história de ator e pastor Guii Augusto, por exemplo, ficou claro como parte dos cristãos estão querendo se mostrar ao mundo também como ativistas sociais.
Guii é o protagonista do musical “Luther King”, que conta a história do pastor norte-americano e ativista de direitos humanos Martin Luther King, e pastor da igreja Somos Betel, em Osasco, na Grande São Paulo. Tanto por meio da arte como na liturgia da sua igreja luta contra o racismo.
“As pessoas falam ‘nossa, não sabia que a igreja se posicionava contra o racismo’. Mas a gente está aqui falando, sim. A nossa posição [contra o racismo] é através da nossa arte”, afirma Caíque Oliveira, diretor de “Luther King”, na série.
Gui finaliza com o desejo de que a sociedade compreenda as diferenças entre os cristãos. “As pessoas nos generalizam, nos colocam dentro de uma bolha e acham que todo mundo é igual”, afirma Guii na série.
EVANGÉLICOS
Quando Dois episódios por dom., às 23h; reprise aos sáb., às 12h
Onde GNT e no Globoplay
Produção Brasil, 2024
Direção Alberto Renault
REGIANE SOARES / Folhapress