SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Estudo publicado na revista científica Nature Mental Health apontou sete fatores relacionados ao estilo de vida que podem diminuir o risco de depressão. O trabalho mostrou, por exemplo, que a quantidade de horas dormidas diariamente e a frequência com a qual se interage com outras pessoas influencia mais as chances de desenvolver ou não depressão do que fatores genéticos
Uma equipe internacional de pesquisadores analisou uma combinação de agentes como estilo de vida, genética, estrutura cerebral e funcionamento de sistemas imunológico e metabólico para identificar os mecanismos que podem explicar a incidência da doença.
Eles analisaram dados de quase 290.000 pessoas durante nove anos entre elas, 13.000 tinham depressão. As informações foram retiradas do UK Biobank, que reúne dados genéticos, de estilo de vida e saúde de seus participantes.
Os fatores que diminuem o risco da doença e estão relacionados à vida saudável são:
– Consumo moderado de álcool;
– Dieta saudável;
– Atividade física regular;
– Sono adequado;
– Nunca fumar;
– Comportamento sedentário baixo a moderado;
– Conexão social frequente.
Ter uma boa noite de sono entre sete e nove horas foi o fator de maior impacto, diminuiu o risco de desenvolver o transtorno, incluindo episódios depressivos únicos e a doença resistente ao tratamento, em 22%. Já a conexão social frequente reduziu em 18%.
A descoberta dialoga com a Medicina do Estilo de Vida, abordagem que utiliza hábitos saudáveis como forma de tratar, prevenir e reverter doenças crônicas não transmissíveis.
A abordagem segue seis pilares principais, segundo o psiquiatra Arthur H. Danila, coordenador do Programa de Mudança de Hábito e Estilo de Vida do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo). São eles:
– Sono;
– Alimentação saudável;
– Atividade física (150 minutos por semana);
– Manejo do estresse (práticas que ajudem a administrar o estresse);
– Evitar substâncias de risco como álcool e tabaco;
– Conexão social.
“Depressão é um transtorno multifatorial. Se você tem esse risco de depressão pela genética, mas sempre teve uma vida muito saudável, faz exercícios, esse risco acaba diminuindo por causa de fatores protetivos ou seja, a expressão desses genes é modificada pelo ambiente, que é o estilo de vida”, diz o psiquiatra.
No estudo publicado pela Nature, os pesquisadores examinaram o DNA dos participantes, atribuindo a cada um uma pontuação de risco genético. Essa contagem foi baseada no número de variantes genéticas conhecidas pela sua ligação com o risco de depressão que os participantes tinham.
Um estilo de vida saudável pode reduzir o risco da doença mesmo em pessoas com alto risco genético para a depressão. Não se deve, porém, descartar medicações que agem nos neurotransmissores, além da psicoterapia. “Sou psiquiatra, também prescrevo medicações no meu consultório, a questão é que não é só isso [que funciona]”, diz Danila.
Um estudo publicado em maio deste ano no periódico Journal of Affective Disorders concluiu que recomendar a prática de corrida a pacientes com transtornos depressivos e de ansiedade é equiparável à prescrição de antidepressivos.
O trabalho, comandado por institutos de psiquiatria de Amsterdã, acompanhou 141 pacientes com depressão e/ou transtorno de ansiedade por 16 semanas. Destes, 45 participantes receberam medicação antidepressiva e 96 passaram praticaram corrida.
Segundo Danila, a recomendação de um estilo de vida saudável deve ser levada tão a sério quanto a prescrição de medicamentos. “A gente estabelece com o paciente as prioridades que ele pode fazer e, no momento que ele está preparado para mudar o comportamento, acompanha com metas atingíveis.”
GEOVANA OLIVEIRA / Folhapress