Símbolo do apogeu cafeeiro, Campos Elíseos volta a sediar parte do governo de SP após 18 anos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Palácio dos Campos Elíseos, no centro da capital, passou a última semana com mesas de trabalho em salas provisórias, cômodos tomados por caixas de papelão e alguns móveis empilhados. Funcionários andavam pelos corredores ocupados com a instalação de cabos elétricos, internet e equipamentos eletrônicos da Secretaria de Justiça e Cidadania, nova inquilina do prédio.

É a primeira vez em 18 anos que um órgão do governo estadual dará expediente no palácio. A intenção do governo Tarcísio de Freitas (Repúblicanos) é que esse seja o primeiro passo de um processo que deve alterar quase todos os quarteirões do entorno, com a construção do novo centro administrativo ao redor do parque Princesa Isabel.

Pouco mais de 80 funcionários já se mudaram para lá, e o secretário Fábio Prieto passa a receber autoridades no palácio a partir desta segunda-feira (30). Até março do ano que vem, o número de servidores no prédio deve chegar a cerca de 200.

A escolha da secretaria de Justiça para dar início ao plano é cheia de simbolismo, a começar pelo fato de que é a pasta mais antiga do governo estadual: existe desde 1892.

“Tem um significado a reocupação dos Campos Elíseos, e nós não queríamos reocupar com a polícia. Eu quero reocupar com a Justiça”, disse o secretário de Projetos Estratégicos, Guilherme Afif Domingos, que coordena o projeto do novo centro administrativo e defende a ideia há cerca de 15 anos.

A frase soa como um contraponto à política estadual de segurança –criticada pelo aumento em mais de 100% das mortes provocadas por ações policiais–, mas o governo já aumentou a presença da PM no entorno. Em fevereiro, foi inaugurada a sede de uma Companhia de Força Tática a 700 metros do palácio.

Na última quarta-feira (25), Afif fez uma vistoria no palácio acompanhado do secretário-executivo da pasta da Justiça, Raul Christiano, e da reportagem da Folha. O prédio ainda passava por adaptações estruturais. A principal delas é o teste do ar condicionado no terceiro andar.

O calor recorde na capital fez com que essa parte do prédio lembrasse uma estufa abafada. O equipamento de climatização amenizava a temperatura de uma área do sótão que abriga mesas de escritório.

Parte do telhado do palácio passou o último ano com lonas improvisadas para mitigar problemas de vazamento. Segundo Christiano e Afif, todos os reparos pendentes –inclusive do telhado– foram resolvidos após uma manutenção feita pelo Museu das Favelas, inquilino anterior, antes da entrega do prédio.

“Estamos fazendo testes com o ar condicionado [no sótão] e existe um problema de queda de energia elétrica na região, que estamos tentando resolver [para que não afete o palácio]”, disse Chritiano. A região central da cidade teve ao menos três apagões no último mês.

O secretário reparava nos detalhes, apontando a Christiano detalhes como pequenas falhas na pintura de persianas, sendo assegurado que reparos seriam feitos.

A secretaria de Justiça deve ficar no palácio por até seis anos. Só sairá de lá quando as torres do novo centro administrativo estiverem de pé. A antiga sede da pasta, no Pateo do Colégio (no centro histórico da cidade) vai receber o Museu das Favelas.

A gestão Tarcísio também estuda como se prevenir de possíveis impactos negativos envolvidos na demolição de centenas de imóveis, no deslocamento de 27 mil funcionários públicos para o centro e, consequentemente, na alienação de prédios públicos espalhados pela cidade.

“A primeira etapa foi diferenciar o joio do trigo, o que é propriedade que está sendo usada e o que é coisa do tráfico. Esse mapeamento foi feito”, diz Afif. “O que é do tráfico, eles fecham e vai ser demolido. É desapropriado, mas o dinheiro se deposita para quem, ao retirar, provar que está ali. Se não provar, tem perdimento.”

Quando é questionado sobre o risco de gentrificação do centro –ou seja, a expulsão famílias pobres que podem agravar o déficit habitacional da cidade, migrando inclusive para áreas de risco–, o secretário de Projetos Estratégicos responde com um plano recém-lançado em que o governo estadual pretende comprar 5.800 imóveis para famílias de baixa renda.

Parte desses apartamentos para o reassentamento de famílias removidas devido à construção do centro administrativo. O governo estadual também idealiza uma redução drástica da cracolândia, que ronda a região, nos próximos seis anos.

Uma colaboração entre governo estadual e municipal tem apostado no aumento das internações hospitalares de dependentes químicos, inclusive involuntárias, e na detenção de frequentadores que têm medidas cautelares vigentes.

Quando o centro administrativo for concluído, o Palácio dos Campos Elíseos deve tornar-se um espaço cerimonial, destinado à recepção de autoridades de alto escalão e grandes festejos.

Afif fez a visita com um calhamaço de sulfite a tiracolo, onde estão impressas plantas arquitetônicas do palácio e fotos dos salões tiradas em 1936 –ano seguinte à reforma que expandiu o prédio e o adequou ao uso como sede de governo. Sua intenção é restaurar lustres, candelabros, cadeiras e outros objetos, replicando o apogeu dos Campos Elíseos. Parte desses itens perdeu-se durante um incêndio, em 1967.

Desde 2008, o governo paulista teve várias tentativas frustradas de trazer a administração de volta à região, que não conseguiram impedir a degradação dos Campos Elíseos. “Fica provado que, se você trouxer equipamentos isolados, eles não promovem alteração”, opina Afif. “A ideia foi: vamos dar um choque. Estamos trazendo toda a administração de forma centralizada.”

TULIO KRUSE / Folhapress

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