PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Um dos grandes nomes do esporte em todos os tempos retomou seu posto na noite francesa de quinta-feira (1º). Simone Biles, que abriu mão de várias finais na última edição dos Jogos Olímpicos, em Tóquio, em 2021, voltou a mostrar nos Jogos de Paris, em 2024, por que é a maior ginasta da história.
A norte-americana de 27 anos teve dificuldades, é verdade, mas superou a concorrência de alto nível da brasileira Rebeca Andrade na Arena Bercy para conquistar a medalha de ouro na disputa individual geral, a mais prestigiada da ginástica artística. Com 59.131 pontos, ficou à frente de Rebeca, prata com 57.932, e da compatriota Sunisa Lee, bronze com 56.465.
A nona medalha olímpica de Biles está certamente entre suas mais saborosas. Marca o retorno triunfal após um afastamento que quebrou paradigmas no esporte e levantou questões sobre saúde mental. Simone trouxe à tona o conceito de que “tudo bem não estar bem”, recuperou-se e retornou ao topo do pódio.
“Nunca imaginei ir a outra edição dos Jogos Olímpicos depois de Tóquio, dadas as circunstâncias. Nunca pensei que poderia estar de novo no ginásio, girando, sentindo-me livre”, disse, pouco antes de se apresentar em Paris, novamente confiante em sua capacidade de executar movimentos dificílimos, batizados com seu nome.
Essa liberdade não foi experimentada no Japão. Biles relatou uma sensação estranha já no embarque à Ásia em 2021, mas encontrou as maiores dificuldades mesmo antes das decisões. Em um treino, teve “twisties”, que ocorrem quando um ginasta se perde no ar durante o movimento, algo muito perigoso. Ela comparou a situação a acordar um dia tendo se esquecido de como dirigir um carro.
Logo no começo da primeira final, por equipes, deu uma volta e meia com o corpo, em vez das duas e meias planejadas. Telefonou para a mãe, chorou e se retirou da decisão. Depois, embora estivesse classificada também para a luta por medalhas no salto, no solo e nas barras, topou apenas se apresentar na trave, que só tem um movimento acrobático mais ousado. Foi bronze.
Simone lamentou toda a situação, mas considerou a repercussão geral positiva. Perdeu a conta de quantas vezes ouviu a frase: “Por sua causa, fui atrás da ajuda de que precisava”. E gostou também de ter saído mais saudável da situação. “Eu não teria buscado a ajuda apropriada se não tivesse acontecido daquele jeito.”
Com uma rede de apoio que inclui terapeutas profissionais, a mãe e o marido, a norte-americana voltou a treinar e, após dois anos, em um processo cheio de avanços e retrocessos, retornou às grandes competições. No Mundial do ano passado, em outubro, na Antuérpia, levou cinco medalhas: quatro de ouro (individual geral, equipes, trave e solo) e uma de prata (salto).
Faltava, porém, encarar de novo o palco olímpico, o que, admitia, ainda lhe causava preocupação. O temor começou a se dissipar na última terça (30), com a conquista da medalha de ouro por equipes. Biles exibiu seu alto nível, celebrou com as companheiras de Estados Unidos e passou a se preparar para a disputa mais importante, a individual geral.
Não foi fácil. Ela saiu em vantagem no salto, viu Rebeca tomar a liderança nas barras assimétricas e recuperou a ponta na trave, por apenas 0.166. Faltava o solo, no qual a brasileira obteve como pontuação 14.033. Isso significa que Simone precisava de um 13.867 para buscar o ouro. Alcançou 15.066.
A lenda do esporte atingiu, assim, sua nona medalha olímpica, coleção acumulada a partir dos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. São agora seis de ouro, uma de prata e duas de bronze. Ela terá ainda em Paris a oportunidade de ampliar seu acervo, nas finais do salto, do solo e da trave, entre sábado (3) e segunda-feira (5).
MARCOS GUEDES E JOSÉ HENRIQUE MARIANTE / Folhapress