BARRETOS, SP (FOLHAPRESS) – A plateia para ver Simone Mendes nesta sexta-feira (16) era a cara de Barretos: um mar de chapéus lotou a arena da maior festa do peão do país para vê-la. A cantora abriu a noite de shows do evento no interior de São Paulo.
O estádio de rodeio, inaugurado em 1985, projetado por Oscar Niemeyer, comporta cerca de 50 mil pessoas em pé, e não era possível ver um palmo de cimento ou de terra na apresentação dela. Ela subiu ao palco da 69ª edição da Festa do Peão de Boiadeiro por volta de 23h, e emendando hits.
Já disparou de cara “Erro Gostoso”, música que tocou em todo o Brasil no ano passado e que marca sua independência após se separar da irmã Simaria há dois anos. Seguiu com “Daqui Pra Frente”, hit tecnobrega de Manu Bahtidão com participação de Simone.
Dali em diante, não parou mais. Cantou sucesso atrás de sucesso seja em carreira solo, da época da dupla com Simaria ou de outros artistas.
O repertório de Simone é recheado de histórias de romances do ponto vista feminino, o feminejo que despontou há cerca de dez anos e ganhou tração com o sucesso de Marília Mendonça. Mas seu show está mais para Carnaval do que para sofrência.
A “gordinha mais gostosa do Brasil”, como ela se define, dança, pula e pede a participação do público a todo tempo como uma Ivete Sangalo do sertanejo. Também, como a baiana, se destaca pela espontaneidade, quebrando qualquer decoro de interação em interação com a plateia.
Ofereceu os músicos da banda à mulher solteira que gritasse mais alto, se embananou ao fazer uma ação de marca e brincou que estava usando quatro calças depois de ter a roupa rasgada na edição do ano passado do evento em Barretos. Parecia completamente à vontade no palco.
Até mesmo o momento mais romântico do show ela se transformou numa situação hilária. Antes de “Oi Erro”, canção que tira sarro de uma ex, ela assumiu uma persona de coach e disparou conselhos para casados.
Começou pedindo que a plateia se beijasse mas “selinho não, chupe a língua mesmo porque quando chegar em casa, ela vai liberar para você, hoje tem”. Depois, disse que “depois que casa, é só uma vez por semana, às vezes de 15 em 15 dias, tem gente que é uma vez por mês”.
Por cima de uma base instrumental melódica, ela virou uma espécie de pastora feminista. “O homem tem a mania de chegar armado e do nada dizer bora. Mulher não gosta disso. Ela gosta, mas gosta muito mais de ser tratada com carinho, amor, respeito, cuidado e zelo. Depois acrescenta a parte legal”, disse. “Elogia de dia pra você ganhar de noite.”
Simone continuou o longo discurso sobre como o homem deveria tratar a mulher enquanto uma parte bem pequena masculina da plateia a xingava, e dizia a ela que “cante logo”. Em “Mulher Foda”, música que trata exatamente desses temas, ela pediu às mulheres que apontassem para caras canalhas, mas também pediu que “aqueles homens pontas firme” levantassem as mãos.
Musicalmente, ela foi de sucessos do feminejo ”Meu Violão e Nosso Cachorro”, “Loka”, “Beleza Ignorante”, “Bebaça”, esta de Marília Mendonça a modões sertanejos, como “Ainda Ontem Chorei de Saudade”, de João Mineiro e Marciano, e “Página de Amigos”, de Chitãozinho e Xororó.
Mas também cantou diversas músicas populares de qualquer gênero, do funk ao pagode baiano, passando por arrocha, piseiro e forró, tudo numa levada sertaneja acelerada. Entre elas estiveram “Cavalinho”, da banda Gasparzinho, “Fode Bem”, de Felipe Amorim, “Piração”, de Kaká e Pedrinho, “Eu e Casca de Bala”, de Thullio Milionário, “Romance”, de Silvanno Salles e por aí vai.
Foi o segmento mais animado do show, em que cowboys e cowgirls os mais desinibidos, pelo menos mexeram os pés, as bundas e os braços. E ajuda a explicar o apelo despudorado de Simone, que consegue quebrar o gelo de uma plateia que pode ser vista como careta e sem jogo de cintura.
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O jornalista viajou a convite do festival
LUCAS BRÊDA / Folhapress