SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Brasileiros tendem a expressar opinião mais favorável aos Estados Unidos do que à China, mas nunca antes a diferença entre os que veem com bons olhos Washington e os que simpatizam com Pequim foi tão expressiva, afirma o Pew Research Center.
Levantamento anual do instituto americano mostra em sua versão de 2023, divulgada nesta segunda-feira (6), que 63% dos brasileiros dizem ver Washington de forma positiva, enquanto 39% fazem essa afirmação sobre Pequim. A diferença de 24 pontos percentuais entre um e outro é a maior desde 2010, quando o Brasil foi incluído nesta pesquisa.
Ao longo destes 14 anos, Brasília ficou de fora quatro vezes (em 2016 e nos pandêmicos 2020, 2021 e 2022). Em 2019, ano dos últimos dados anteriores sobre brasileiros, essa diferença era de meros 5 pontos percentuais 56% simpáticos aos EUA, e 51%, à China.
O alargamento de uma visão positiva em relação à potência norte-americana em comparação com o gigante asiático não é exclusividade de Brasília. Os dados do Pew Research Center mostram que a média das opiniões favoráveis aos EUA nas regiões pesquisadas 59% é de fato muito superior às simpáticas à China 28%.
O levantamento do instituto incluiu, além do Brasil, outros 23 países, como México, Argentina, Hungria, Polônia, Grécia e Alemanha. Ao todo, 30,8 mil adultos foram ouvidos de 20 de fevereiro a 22 de março passado. No Brasil, a pesquisa foi conduzida presencialmente.
Analistas responsáveis pelo estudo ponderam que o cenário é resultado de dois movimentos concomitantes: a melhora da imagem americana e a piora da chinesa. Tome-se como exemplo o Brasil: este foi o ano de desempenho mais baixo na opinião dos brasileiros sobre Pequim.
A despeito da opinião pública, do ponto de vista diplomático o período marca uma reaproximação com Pequim conduzida pelo governo Lula após anos de afastamento postos em prática na gestão de Jair Bolsonaro.
Segundo a analista de pesquisa Laura Clancy, uma das responsáveis pelo levantamento, vem sendo observada globalmente a fragmentação de uma visão externa da China a partir da pandemia de coronavírus, que teve Wuhan como seu primeiro epicentro.
“Porém, mesmo antes disso, a opinião sobre a China já estava se deteriorando, em parte devido a eventos bilaterais específicos, a preocupações econômicas e a visões sobre o respeito do governo chinês pelas liberdades pessoais”, diz Clancy.
Já do lado de Washington, pesou a força da figura de Joe Biden no exterior, muito distinta das mensagens que emanava Donald Trump, seu antecessor e possível rival nas eleições de 2024.
Os líderes também foram tema de uma das perguntas desta pesquisa. Entre brasileiros, 44% afirmaram ter confiança no tino de Biden para a agenda global. Em relação à aptidão do chinês Xi Jinping para o assunto, a percentagem cai a menos da metade, em 18%.
O ápice da avaliação positiva de brasileiros em relação a Washington foi registrado há uma década, em 2013, no governo de Barack Obama, com 73%. Foi também naquele ano, o primeiro de Xi à frente da China, que foi registrada a melhor avaliação em relação a seu país (65%).
Apenas um ano da série histórica fugiu à curva e teve uma diferença percentual positiva para os chineses. Em 2017, com Trump na Casa Branca, 50% dos brasileiros manifestaram-se favoravelmente aos EUA, enquanto 52% o fizeram em relação à China.
No geral, brasileiros também avaliam melhor os EUA quando os assuntos são o poder econômico global, o poderio militar, a qualidade das universidades e do entretenimento em geral. Mas dão mais crédito à China quando a área de análise são os investimentos feitos em tecnologia e, consequentemente, o poder tecnológico.
MAYARA PAIXÃO / Folhapress