SÃO PAULO, SP E SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – A mãe de um menino de 4 anos morto durante uma ação da Polícia Militar no morro São Bento, em Santos, na noite de terça-feira (5) afirmou que seu filho brincava na rua com outras 15 crianças quando policiais militares chegaram atirando.
Conforme a cozinheira escolar Beatriz da Silva, 29, Ryan da Silva Andrade Santos estava próximo da casa de familiares quando o crime ocorreu.
A mulher disse para a Folha que os policiais perseguiam homens em uma motocicleta. Segunda ela, os suspeitos não atiraram, apenas os policiais militares.
A versão oficial do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) é que houve confronto entre os agentes e os suspeitos.
Além de Ryan, um adolescente de 17 anos também morreu na ação da PM.
A mãe do menino estava na rua a poucos metros do filho. Ela viu o menino ficar pálido e gemer de dor, pouco antes de desmaiar. Ela foi medicada para conseguir participar do velório e falar sobre o caso.
Ainda sem sentir o peso da perda de seu caçula -Ryan tinha um irmão e uma irmã mais velhos, segundo moradores da comunidade-, ela parecia desorientada ao falar da morte nove meses depois de seu marido ter sido morto, também pela PM.
“Perdi um pedaço de mim”, disse Beatriz durante o velório. “[É] Terrível. Eu estava tentando caminhar para criar eles, e aí acontece isso.”
Em 9 de fevereiro o pai da criança, Leonel Andrade Santos, 36, foi morto a tiros de fuzil por policiais militares do COE (Comandos e Operações Especiais) da PM durante a Operação Verão.
De acordo com Beatriz, Leonel tinha deficiência física e usava muletas.
Em entrevista coletiva na manhã desta quarta (6), o coronel Emerson Massera afirmou que, pela dinâmica dos fatos, o tiro que matou a criança provavelmente partiu da arma de um policial. Ele citou o histórico criminal do pai da criança.
A reportagem questionou a SSP sobre as passagens do homem pela polícia mencionadas pelo oficial da PM. Em nota, a gestão Tarcísio se limitou a responder que o caso é investigado pela Deic de Santos sob sigilo determinado pela Justiça. “O Inquérito Policial Militar sobre os fatos foi concluído e encaminhado ao Poder Judiciário”, declarou a pasta, em nota.
Naquela data, segundo o boletim de ocorrência, policiais participavam de uma ação contra o combate ao crime organizado no Morro de São Bento, quando, durante uma incursão em uma área de mata viram dois homens armados.
Um deles carregava uma mochila e outro, uma sacola. Ambos teriam atirado contra os policiais, que reagiram. Um sargento afirmou ter atirado três vezes. Um cabo, sete vezes. Leonel e um outro homem foram socorridos para a Santa Casa de Santos, mas os dois morreram.
De acordo com os policiais, duas armas foram apreendidas. Um revólver calibre 38 com a numeração raspada e uma pistola automática. Drogas teriam sido encontradas em uma pochete.
Um dos dois PMs envolvidos na morte de Leonel veio a ser assassinado um mês depois. O cabo Rahoney de Paula Viera, 31, foi morto por seus próprios colegas de farda na zona sul de São Paulo ao ser confundido com um ladrão.
PAULO EDUARDO SANTOS E TULIO KRUSE / Folhapress