Só Track Boa traz brasilidade, mas que fica restrita aos palcos menores

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nas noites da última sexta-feira e do último sábado, o caminho entre a estação de metrô Corinthians-Itaquera e a Neo Química Arena, foi tomado por pessoas vestidas de preto, carregando copos e leques, andando em direção ao som alto.

O destino final era os palcos iluminados do festival de música eletrônica Só Track Boa, que aconteceu pela primeira vez na zona leste da capital –antes, o evento era realizado no Autódromo de Interlagos, na zona sul da cidade.

Com nova identidade visual e atrações nacionais no line-up, o Só Track Boa decidiu chamar a identidade brasileira para si neste ano. A brasilidade, no entanto, ficou ausente do palco principal batizado NSD, ou “never stop dancing”, nunca pare de dançar.

Lá, o techno melódico reinou, com canções em grande parte em inglês. O brasileiro Vintage Culture trouxe imagens e um discurso de Ayrton Senna no final do seu set, com um áudio do brasileiro em uma entrevista –em inglês. Este foi o ano em que o palco principal recebeu mais brasileiros, a exemplo de Anna, Dubdogz e Cat Dealers.

Nos palcos menores, chamados Oca e LuvLab, a brasilidade pôde aparecer. O maior destaque do terceiro palco, criado neste ano, foi a parceria entre Mochakk, do tech house, e Mu540, do funk. Juntos, atraíram público o suficiente para competir com a junção de Vintage Culture, headliner do festival, e Anna, que tocavam no espaço ao lado. As sonoridades do funk, do afrohouse e do trance que apareceram no palco menor serviam de refresco para quem se cansasse das batidas do techno.

Ao entrar, os sons dos dois palcos menores se misturavam. O Oca e o LuvLab eram o primeiro vislumbre dos que chegavam ao festival. As estruturas foram montadas nos estacionamentos ao redor do estádio, com a arena servindo de barreira sonora entre as duas principais áreas. Para chegar ao palco maior, a caminhada não era pequena. O esforço era atenuado por decorações luminosas que tentavam atenuar o desânimo dos frequentadores.

O palco Oca recebeu quatro vezes o investimento destinado ao mesmo espaço em edições anteriores, segundo a organização do evento. Em formato 360 graus, o espaço era cercado por torres que soltavam labaredas, de acordo com as batidas das músicas escolhidas pelos DJs.

Esse lugar recebeu menos iluminação e efeitos especiais do que os outros, apesar de abrigar algumas das principais atrações. O formato circular permite uma experiência imersiva, ao mesmo tempo que causou uma sensação claustrofóbica e complicou o trânsito das pessoas em momentos de lotação.

Entre os nomes principais a liderar as pick-ups no Oca estavam Mochakk, Kölsch, Adam Beyer, Eli Brown e Victor Lou. Entre estes, Adam Beyer e Eli Brown foram os que mais aqueceram o público, conseguindo atrair muitos para o palco secundário.

Na noite de sexta-feira, a sensação das redes sociais Mochakk chamou muitos para o Oca, mas, apesar de lotada, a pista ficou fria. O DJ dividiu o horário com a ucraniana Korolova, que acabou levando os fãs do techno melódico para o palco principal.

Esse espaço, assim como nos anos anteriores, recebeu telões, vídeos, fogos de artifício e iluminação abundantes, o que se tornou marca do Só Track Boa ao longo dos anos. Nesta edição, não foi diferente. O som nos volumes máximos e de alta qualidade não deixaram a desejar e continuaram agradando à audiência.

No sábado, o público se concentrou no NSD, visivelmente mais cheio que no dia anterior. Massano, Camelphat, Joris Voorn, Kölsch e Anna ecoaram o techno melódico por toda a madrugada, indicando que o crescimento da corrente na cena ainda não perde força.

Vintage Culture trouxe o set mais movimentado dos dois dias. Tradicional headliner do Só Track Boa, o DJ atraiu fãs com camisetas e bandeiras estampando seu nome. Durante a apresentação de duas horas, os truques de iluminação e pirotecnia apareceram mais do que no restante do festival. Com cara de show, e não de set, fãs disputavam a atenção do ídolo perto do palco. O DJ abriu o set com músicas do álbum recém-lançado “Promised Land” e terminou com favoritas do público, como “My Girl”.

Com fácil acesso ao transporte público e a carros de aplicativo, o novo espaço agradou aos fãs que já estiveram em outras edições do festival. Os banheiros e praças de alimentação do estádio foram disponibilizados, o que também gerou comentários positivos durante o evento.

O que não agradou ao público foi o horário de término. Neste ano, o Só Track Boa terminou às cinco horas da manh㠗em anos anteriores terminou às oito horas. Tanto na sexta-feira quanto no sábado, as reclamações após a interrupção do som eram audíveis. Muitos frequentadores consideraram o término cedo demais e saíram em busca de “afters” pela cidade.

LUANA FRAZÃO / Folhapress

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