SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Três horas após a conversa entre o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, Tel Aviv parece ter cedido, ainda que parcialmente, à pressão de Washington.
O americano cobrou do israelense, segundo resumo divulgado pela Casa Branca, medidas “específicas, concretas e mensuráveis” para aliviar o sofrimento de civis no território palestino. Israel então anunciou, ainda na quinta-feira (4), a reabertura da passagem de Erez, no norte da Faixa de Gaza, e a retomada do uso do porto de Ashdod, no sul israelense para o envio de ajuda humanitária ao território palestino.
Além disso, o gabinete de Netanyahu também aprovou o aumento do fluxo de ajuda da Jordânia por meio da passagem de Kerem Shalom.
Na conversa com Netanyahu, Biden condicionou o apoio a Tel Aviv a uma mudança de postura do aliado na Faixa de Gaza, o que incluiria um cessar-fogo imediato para estabilizar a região, proteger civis e combater a crise humanitária.
Ao sair da Casa Branca nesta sexta-feira (6), o presidente americano foi questionado por jornalistas se teria ameaçado suspender a ajuda militar a Israel em caso de não cumprimento das condições. A resposta de Biden foi ao mesmo tempo ensaboada na questão da ajuda militar e enfática na pressão sobre Tel Aviv.
“Eu pedi a eles que fizessem o que eles estão fazendo”, disse o presidente, sem deixar claro como será preenchida a lacuna entre o discurso e a prática.
A pressão sobre Israel aumentou após o ataque de forças israelenses contra um comboio da WCK (World Central Kitchen), ONG do chef espanhol José Andrés. Sete funcionários da organização que entrega comida a palestinos na área em conflito morreram. Tel Aviv assumiu a autoria “não intencional” do ataque ao comboio, o Exército admitiu o que chamou de “erro grave”, o presidente Isaac Herzog pediu desculpas, e Netanyahu afirmou que “isso acontece em guerras”.
A decisão de reabrir as passagens e o porto foi bem recebida pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, para quem o impacto da medida deve ser avaliado em breve. “A prova estará nos resultados, e veremos isso se desdobrar nos próximos dias”, disse o americano durante visita a líderes da União Europeia, na Bélgica.
Erez era antes da guerra o principal ponto de passagem entre Israel e o agora devastado norte de Gaza. Sua reabertura, portanto, é uma mudança significativa. Tel Aviv vinha rejeitando pedidos para abrir mais pontos de entrada desde que determinaram o “cerco total” ao território palestino.
A UNRWA, principal agência de ajuda da ONU em Gaza, também celebrou a reabertura das passagens, mas afirmou que Israel precisa fazer mais que isso. A organização alega que, no mês passado, foi informada de que Tel Aviv não aprovaria mais comboios de alimentos para o norte, onde a fome se alastra.
“Pedimos às autoridades israelenses que revertam sua decisão de proibir a UNRWA de chegar ao norte de Gaza com suprimentos de alimentos”, disse a organização em um comunicado. “O relógio está correndo rapidamente em direção à fome e a agência deve ser autorizada a fazer seu trabalho e chegar ao norte regularmente com suprimentos de alimentos e nutrição.”
Para Basem Naim, alto funcionário do Hamas, a abertura da passagem era o mínimo que Israel deveria fazer. “Dito isso, estamos preocupados com a possibilidade de que o anúncio israelense possa ser apenas uma estratégia para confundir e, uma vez que a implementação comece, Israel invente pretextos para adiar ou suspender o processo”, afirmou.
Israel costuma argumentar que não impõe restrições a ajuda humanitária e culpa a suposta ineficiência das agências internacionais dentro de Gaza para fazer a logística das entregas.
Nas redes sociais, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, também disse que a reabertura das passagens está aquém do necessário. “Após a condenação generalizada do assassinato de sete funcionários da WCK pelas Forças de Defesa de Israel e a crescente pressão internacional, o governo israelense abrirá alguns corredores para ajuda humanitária. Não é suficiente evitar a fome em Gaza”, afirmou o espanhol.
“A vinculante Resolução 2728 do Conselho de Segurança das Nações Unidas deve ser implementada. Agora”, acrescentou Borrell. Ele faz referência ao texto aprovado no órgão mais importante da ONU no mês passado que demanda um cessar-fogo imediato na guerra Israel-Hamas.
Este, inclusive, foi mais um ponto de atrito entre EUA e Israel. Washington sempre blindou Tel Aviv no Conselho de Segurança com vetos a resoluções que poderiam limitar a ação militar israelense. Na última votação, porém, os americanos se abstiveram na votação do texto.
Isso abriu caminho para que a proposta fosse aprovada, embora Israel não tenha dado nenhum sinal de que pretende respeitá-la, e mesmo os EUA tenham dito que o caráter da resolução não é vinculante uma distorção do propósito de existência do Conselho de Segurança.
Redação / Folhapress