SP-Arte tem tela de Tarsila a R$ 16 milhões e tapeçaria rara de Judith Lauand

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma mala de madeira estofada por dentro guarda um segredo na SP-Arte -uma tela de Tarsila do Amaral de 1925. Rara, a pintura ficou no Líbano pelos últimos 70 anos e veio para o Brasil há cerca de um mês, de acordo com Thomaz Pacheco, da galeria OMA, marchand que expõe na feira mas só mostra a obra para quem sabe dela.

Segundo o galerista, o motivo da vinda foi a guerra entre Israel e o Hamas. O dono da tela, um muçulmano que mora no Brasil, teria receio de que a obra pudesse ser danificada no caso de o conflito crescer e chegar ao Líbano, vizinho de Israel.

Pacheco tem uma negociação encaminhada. Dois representantes de um museu de Doha, no Catar, podem levar a tela de Tarsila, avaliada em R$ 16 milhões. Se a venda se concretizar, será um dos valores mais altos já pagos por uma obra da modernista, difíceis de ficarem disponíveis no mercado.

Segredos à parte, os corredores do Pavilhão da Bienal estão bem cheios neste primeiro dia da edição que celebra os 20 anos da SP-Arte, mais do que no dia inaugural no ano passado. A quarta-feira é só para convidados, ou seja, quem está ali tem poder simbólico, conhecimento em arte ou dinheiro para efetivamente comprar.

“Não senti tanto oba oba. É um clima de atenção, as pessoas fazem perguntas [sobre as obras]”, afirma Gisela Gueiros, da Gisela Projects. Com o lounge dos colecionadores praticamente vazio no início da tarde desta quarta, eles deviam mesmo estar circulando antes de abrir a carteira.

Por R$ 800 mil, é possível sair de lá com uma tela em grandes dimensões de Rirkrit Tiravanija, feita sob encomenda pela galeria Gomide & Co. O artista, nome quentíssimo do circuito internacional, colocou lado a lado páginas do jornal O Globo datadas de uma semana depois da morte de Marielle Franco e escreveu “this revolution will not be televised” em cima, ou esta revolução não será televisionada. As notícias giram em torno do assassinato da vereadora.

Também na faixa de preço mais alta, há pinturas e colagens de Eleonore Koch disponíveis em várias galerias, como na Paulo Kuczynski e na Almeida e Dale, esta vendendo uma pintura a R$ 2,8 milhões. A discípula de Volpi, que durante décadas ficou na obscuridade até ser resgatada com a publicação de um livro sobre sua obra em meados da década passada, pela editora Cosac Naify, está agora nos holofotes.

Neste sábado, o Museu de Arte Contemporânea da USP abre uma mostra com 190 obras da pintora, e na semana seguinte um documentário de Jorge Bodanzky sobre a vida de Koch, “As Cores e Amores de Lore”, estreia no festival É Tudo Verdade, dando sequência à valorização do trabalho da artista, já impulsionado por uma sala dedicada às suas telas na Bienal de São Paulo de 2021.

Outro nome a chamar a atenção em diversos estandes na feira é Judith Lauand, a única mulher a participar do grupo Ruptura, dado que ela estará representada na Bienal de Veneza, a principal mostra de arte contemporânea do circuito, que começa este mês. A galerista Berenice Arvani oferece uma tapeçaria rara da artista, colorida e onde se veem formas fluidas, meio tropicais, por R$ 160 mil.

Di Cavalcanti, medalhão também selecionado para a mostra na cidade italiana, tem trabalhos à venda, a exemplo de uma pintura de uma baiana, datada de 1956, por R$ 1,8 milhão na Hilda Araujo.

Deixando os valores de lado, há obras deleite para os olhos nos dois andares da feira, como um colar de Tunga no estande do joalheiro Rafael Moraes e duas instalações inéditas de Fernanda Gomes no espaço de Luisa Strina, formadas por levíssimas tripinhas de madeira pintadas de branco. Já a Casa Triângulo exibe um compilado das pinturas habitadas por seres macabros de Eduardo Berliner.

Em outra chave, a Choque Cultural apresenta um livro de fotografias de sneakers, os tênis raros e desejáveis que tomaram a moda nos últimos anos, feito por Alê Jordão, fotógrafo e skatista. Desde os anos 1990, Jordão já acumulou 3.000 pares, parte dos quais será exposto em Londres e em Milão, em lançamentos internacionais do livro.

JOÃO PERASSOLO / Folhapress

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