SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) deverá conhecer no próximo em 16 de agosto as propostas para a gestão do parque a ser implantado no Campo de Marte, área da zona norte da capital onde funciona o mais antigo aeroporto paulistano.
A data da sessão pública de licitação foi prorrogada nesta quarta-feira (17) por despacho publicado pelo município, ampliando em 20 dias o prazo originalmente previsto no edital. A alteração atende a pedidos de agentes privados interessados em apresentar propostas, segundo a prefeitura.
Resultado de um acordo entre município e União para um conflito que se arrastava desde a Revolução Constitucionalista de 1932, o parque será implantado dentro da área de 406 mil metros quadrados que ficou com a cidade -20% do terreno de mais de 2 milhões de metros quadrados.
Análises de representantes do poder público e do setor privado apontam o futuro parque com potencial para tornar o equipamento a nova vitrine ao ar livre da cidade, a exemplo do ocorrido após a concessão do Ibirapuera.
Mas diferente do parque mais famoso da capital, que já contava com toda a infraestrutura de lazer ao ser concedido ao setor privado, o novo equipamento será implantada do zero. Isso torna a viabilidade econômica do projeto desafiadora, segundo Fernando Pieroni, especialista em parcerias público-privadas.
O investimento mínimo previsto é de quase R$ 615 milhões em 35 anos, recurso que deverá ser obtido com a exploração da publicidade e, principalmente, o aproveitamento da vocação da região para a realização de eventos, segundo o analista.
É em busca de tornar o parque atrativo que decisões e ajustes no edital foram tomadas, como a que desobriga a concessionária a incluir no projeto um museu aeroespacial, ideia que chegou a ser manifestada pela prefeitura.
“O poder público fez estudos e consultas e isso resultou em alterações para dar maior possibilidade de receita ao concessionário, que poderá optar por um centro de eventos, algo mais viável para fechar as contas do que um museu”, diz Pieroni.
Para o órgão da prefeitura responsável pela licitação, o Campo de Marte tem potencial para se tornar um equipamento público com valor comparável ao do parque do Ibirapuera para a cidade.
Paulo Galli, presidente da São Paulo Parceiras, cita a proximidade com o complexo do Anhembi, com o Expo Center Norte, com bairros centrais e com o próprio aeroporto como pontos fortes. “Tem a mesma potencialidade do Ibirapuera e, pela sua vizinhança, atrairá pessoas de toda a cidade e [turistas] de todas as partes do Brasil e do mundo”, diz.
Quanto à realização de eventos e exploração de publicidade, Galli diz que essas atividades serão limitadas pela presença de mata nativa a ser plantada em mais de 200 mil metros quadrados de área e a instalação de equipamentos esportivos com foco em modalidades olímpicas, além de campos de futebol e outras atividades recreativas.
O potencial do novo parque também pode explicar o aumento do interesse do setor imobiliário pela entorno. Em 2022, quando o parque foi anuncia, o distrito Santana teve 114 unidades residenciais lançadas. A quantidade saltou para 872 em 2023, segundo dados do Secovi-SP, entidade que reúne empresas do setor.
COMO SERÁ O PARQUE
O parque deverá ser dividido em três núcleos, conforme o edital. O primeiro, em uma área de mata atlântica e com 266 mil metros quadrados, receberá três estações de ginásticas, pistas de caminhada, ciclovia e trilhas.
Também terá parque infantil, quiosques e postos de aluguel de bicicleta. Parte do núcleo terá algumas restrições ao público devido a necessidade de preservação.
Para o núcleo 2, o edital prevê o empreendimento associado com infraestrutura para academia, coworking, área comercial e centro gastronômico.
O centro de convivência deverá manter os cinco campos de futebol, com vestiários feminino e masculino, além de churrasqueiras, parque infantil, quadra de bocha, pista de skate e de atletismo.
Já o núcleo 3 é reservado para escolas de sambas estacionar carros alegóricos durante o Carnaval. O local, de 25 mil metros quadrados, ganhou o nome de Área de Apoio ao Carnaval e ficará à disposição da concessionária quando não estiver em uso pelo município.
Briga pelo Campo de Marte
O Campo de Marte foi alvo de uma disputa entre a prefeitura de São Paulo e a União por quase 60 anos. Inaugurado em 1929 sob a propriedade do município, o então presidente Getúlio Vargas ocupou o terreno para dar início ao aeroportuário nacional com a derrota de São Paulo na Revolução Constitucionalista.
O município e a União chegaram a um acordo somente em 2022, após costura entre Ricardo Nunes (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).
Pelo acerto, a União abriu mão de cobrar R$ 24 bilhões em dívidas do município com o governo federal, em troca da extinção da indenização pelo Campo de Marte.
CLAYTON CASTELANI – CARLOS PETROCILO / Folhapress