SP deve anunciar detalhes da redução da tarifa e fatia do governo na privatização da Sabesp

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Governo de São Paulo deve definir nos próximos dias como será a oferta de privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

Pessoas familiarizadas com o processo ouvidas pela reportagem afirmam que a modelagem da venda de ações já chegou à mesa do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e que o anúncio dos detalhes da privatização pode ser feito entre os próximos dias 10 e 17 de abril.

Isso inclui informações como a quantidade de ações que o estado colocará à venda, o valuation (avaliação de valor da empresa) e o porcentual da redução da tarifa prometida pelo governo.

A modelagem da privatização, como é chamada esta etapa, precisa antes ser aprovada pelo CDPED (Conselho Diretor do Programa de Desestatização). Com o martelo batido, Tarcísio deve convocar uma entrevista coletiva para anunciar os detalhes.

De acordo com pessoas ouvidas pela Folha, após a divulgação, o governo já pode fazer a oferta de ações em Bolsa em 30 dias. A expectativa, contudo, é que o leilão de privatização ocorra até julho.

A ideia é que o Governo de São Paulo venda 30% da Sabesp, o máximo previsto em lei aprovada pela Assembleia Legislativa no ano passado. Atualmente, o estado possui 50,3% da companhia.

No entanto, segundo pessoas que acompanham as negociações, essa parcela de venda pode diminuir. Isso porque os papéis da Sabesp têm se valorizado muito nos últimos tempos, o que faz a compra ficar mais cara. A ação da companhia fechou na semana passada negociada a R$ 84. Há duas semanas, estava cotada a R$ 76.

Entre os detalhes que também podem ser definidos na modelagem está o novo estatuto da Sabesp, que estabelecerá, por exemplo, como será a composição do conselho e limite de votos.

O documento também deve manter o Governo de São Paulo como maior acionista, colocando uma trava –chamada no mercado de “poison pill”– que estabelece um valor impraticável para as ações de algum comprador que tente ter fatia majoritária na Sabesp.

Além disso, o novo estatuto estabelecerá o encarregado de escolher o CEO da companhia. Uma possibilidade é que essa prerrogativa fique com o acionista de referência, enquanto o estado será responsável por nomear o diretor financeiro (CFO).

Esse novo estatuto precisa ser aprovado em assembleia na Sabesp, mas não deve haver entraves já que o governo tem hoje a maior parte das ações da companhia.

Embora a decisão possa sair das mãos do governo, membros da gestão Tarcísio avaliam como positivo manter na companhia o atual presidente, André Salcedo, para dar uma noção de continuidade na empresa.

A figura do acionista de referência é um desejo do Governo de São Paulo para que haja um grupo estratégico comprometido com a empresa no médio prazo. O modelo é diferente de uma venda plena, quando as ações de uma companhia são pulverizadas na Bolsa.

No caso da Sabesp, o acionista de referência teria pelo menos 15% dos papéis, idealmente com experiência no setor de saneamento.

Na passada semana, a Aegea, maior empresa privada de saneamento básico no Brasil, disse estar montando um consórcio em parceria com fundos de investimentos para se tornar acionista de referência.

Segundo o CEO Radamés Casseb, entre os parceiros estão as gestoras de investimento Perfin e Kinea, assim como os principais acionistas da Aegea, Itaúsa e o GIC (fundo soberano de Cingapura). Haveria ainda outros interessados em negociação para compor o bloco.

A Aegea já era apontada como uma das interessadas em se tornar acionista de referência. Além do grupo, empresas como Votorantim, Veolia, Equatorial, Cosan e J&F também estariam sondando a oferta.

Uma pessoa a par das negociações disse que a francesa Veolia, umas das maiores empresas de saneamento do mundo, teria sinalizado uma reserva de 2 bilhões de euros (R$ 10,9 bilhões) para ofertar no leilão da Sabesp. Procurada, a Veolia disse que a afirmação não procede.

Pessoas familiarizadas com a privatização da Sabesp dizem que a previsão de ter um acionista de referência foi uma forma encontrada pelo Governo de São Paulo para evitar um “risco Eletrobras”.

Assim, o estado conseguiria pulverizar o controle, mas mantendo um grupo com maior influência na administração da empresa.

Também querem evitar mudanças constantes no conselho de administração, vistas como ruins para a imagem da empresa, a exemplo do que acontece com a Vibra, nome da antiga BR Distribuidora, privatizada em 2019.

A Sabesp registrou lucro de R$ 3,5 bilhões em 2023, 12,9% maior do que no ano anterior, segundo balanço divulgado em março. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) foi de R$ 9,6 bi, 35,9% maior do que em 2022.

RAIO-X DA SABESP

Fundação: 1973

Lucro líquido 2023: R$ 3,5 bilhões

Valor de mercado: R$ 57 bilhões

Funcionários: 11.170

Municípios atendidos: 375

População atendida: 28,4 milhões

THIAGO AMÂNCIO E THIAGO BETHÔNICO / Folhapress

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