SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Secretaria de Saúde do estado de São Paulo notificou este ano três casos prováveis de transmissão do vírus da dengue por meio de transfusões de sangue ou transplante, na capital paulista. Um dos pacientes que recebeu a doação morreu.
Os casos prováveis são aqueles que estão ainda em investigação, quando existe uma suspeita de que houve contaminação por aquela doença.
A pasta não deu detalhes, mas informou que emitiu, em julho, uma nota conjunta com entidades com a Fundação Pró-Sangue, Hemorrede e Central de Transplantes, com orientações aos bancos de sangue quanto a verificação de sintomas aos doadores.
A SES afirmou, em nota, que cumpre rigorosamente as diretrizes de testagem definidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e ressaltou que infectados com o vírus da dengue podem não apresentar sintomas no momento da doação por estar em período de viremia presença de vírus no sangue circulante.
Por esse motivo, a pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Rafaella Fortini, analisa que os casos precisam ser avaliados e que não necessariamente trata-se de uma falha por parte dos profissionais de saúde que fizeram a triagem.
“Existe um protocolo hoje determinado tanto pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] quanto pelo Ministério da Saúde e todos os hemocentros precisam seguir. Para a dengue, é a triagem clínica. Não só uma avaliação, mas uma observação do histórico de saúde nos últimos dias, histórico vacinal, de sintomas, para fazer uma definição. Sendo cumprido tudo isso e o doador não tendo sentido nada, pode não ter havido uma falha.”
Hoje, as diretrizes nacionais em relação à testagem determinam que as bolsas de sangue doadas devem passar por análise de testes sorológicos para hepatite B e C, sífilis, doença de Chagas, pesquisa do vírus HTLV I e II, e para pesquisa do vírus HIV.
Também é feito teste molecular para as hepatites B e C, para HIV (testa a presença do genoma viral) e para malária. Não há uma testagem laboratorial sobre dengue.
Essa inclusão estava sendo analisada por um grupo de trabalho de especialistas da Fiocruz, SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), ISBT (International Society of Blood Transfusion) e Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) após a epidemia de dengue que aconteceu este ano.
Esta semana, o grupo enviou ao Ministério da Saúde uma recomendação para a inclusão do rastreamento de flavivírus de relevância médica como o vírus da dengue, zika vírus, vírus da febre amarela, vírus West Nile e vírus da encefalite de Saint Louis que circulam no Brasil em amostras de doadores de sangue.
A pasta informou que recebeu a proposta, que será devidamente analisada, e afirmou que ainda não há prazo definido para a conclusão da avaliação. A incorporação de novas tecnologias ao SUS segue um processo definido pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias), que inclui a análise de evidências científicas robustas e a avaliação da viabilidade técnica e financeira.
A pasta informou ainda que a proposta também passará por análise de Bio-Manguinhos, responsável pelos testes moleculares atualmente fornecidos pelo Ministério para a Rede de Serviços de Hemoterapia.
O documento diz que é de extrema importância que a triagem para a identificação da presença de flavivírus seja realizada em doadores de sangue.
“O que queremos fazer agora é dar a esse sistema, que já é robusto e seguro, um ponto a mais de segurança para que esses receptores de sangue recebam com segurança ainda maior”, diz Fortini, que é coordenadora do grupo.
Os especialistas propõem a inclusão de uma plataforma molecular chamada de PanFlav, baseada na tecnologia de PCR em tempo real para o rastreamento. Eles destacam que a PanFlav pode ser eventualmente ser adaptada para detectar os vírus recombinantes atenuados dos sorotipos 1 a 4 do dengue, que compõem as vacinas tetravalentes Qdenga (Takeda) e Butantan-DV (Instituto Butantan).
A triagem molecular para flavivírus de doadores já existe em países como Portugal, Porto Rico e Polinésia Francesa, que introduziram o método NAT testes de amplificação de ácido nucleico para dengue em períodos epidêmicos.
Redação / Folhapress