Startup ajuda empresas a usar leis de incentivo e não ‘deixar dinheiro sobre a mesa’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Douglas Lopes, 33, participava de trabalhos sociais quando criança. Vendia rifas, sorvetes e pastéis em eventos da creche em que sua mãe fazia trabalho voluntário. Sempre tentou se manter próximo a esse mundo; quando cresceu, se interessou por gestão pública e foi estudar administração no Paraná.

Ele percebeu, com o passar dos anos, que surgiam cada vez mais leis de incentivo fiscal na esfera municipal, estadual e federal. Sempre existiram entidades necessitadas de dinheiro. Por que não criar uma empresa para fazer ligação de empresas com essas ONGs?

Em 2016, ele fundou a Incentiv, startup de impacto social para ajudar a iniciativa privada a melhorar o desempenho na agenda ESG (sustentabilidade ambiental, social e governança corporativa) e levantar recursos a projetos sociais.

“A gente percebe cada vez mais o uso estratégico das leis de incentivo. Está se tornando necessário para as empresas, não desejável. No passado, a gente ouvia: ‘vou ver se consigo encaixar nas nossas prioridades’. Hoje, há empresas que tem como um objetivo estratégico usar 100% das leis de incentivo”, diz Lopes.

Ele afirma que a Incentiv já fez diagnóstico em mais de 170 companhias e, em todas, descobriu que elas “deixavam dinheiro sobre a mesa”. Uma expressão para deixar claro que perdiam recursos em não aproveitar o retorno financeiro possibilitado pelas de renúncia fiscal, em que o Poder Público abre mão de parte do que receberia em impostos.

Isso fez a PwC firmar parceria com a Incentiv, que vai oferecer soluções nessa área para as clientes da multinacional de auditoria.

“O desafio é aumentar essa base. Temos milhares projetos cadastrados à espera de financiamento e 160 empresas em nossa base de dados”, completa.

No ano passado, a Incentiv foi escolhida a mais sustentável no South Summit Brazil, evento que reúne startups de todo mundo. A edição de 2024 foi realizada no final do mês passado, em Porto Alegre.

Já havia recebido em 2018 um aporte de R$ 1,5 milhão da Harvard Angels, Anjos do Brasil e Insper Angels. Em 2021, foram R$ 10 milhões da Synthase Ventures.

“Em um cenário de subfinanciamento do SUS [Sistema Único de Saúde] e de estrangulamento da saúde suplementar, as destinações de Imposto de Renda têm se tornado cada vez mais estratégicas para instituições de saúde filantrópicas, como nós. Há duas décadas investimos na mobilização de recursos via incentivo fiscal. E nesse sentido, a convergência de diferentes atores, como a Incentiv, se torna essencial”, afirma Ety Cristina Forte Carneiro, diretora-executiva do Hospital Pequeno Príncipe.

Com sede em Curitiba, o Pequeno Príncipe é o maior hospital exclusivamente pediátrico do país. Atende crianças e adolescentes que precisam de transplante de rim, fígado, coração, ossos e medula óssea. Oferece médicos em 47 especialidades. Tem 369 leitos, sendo 76 de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Para projeto de digitalização de dados, a Incentiv intermediou R$ 10,1 milhões doados à entidade por empresas.

“Há projetos que estão dentro de tendências de investimentos sociais. Os que atuam na área da saúde e Amazônia, por exemplo”, diz Douglas Lopes.

Do lado das entidades do terceiro setor, a Incentiv tenta preencher a lacuna que existe porque várias delas simplesmente não sabem como captar recursos. Para auxiliar a empresa, presta consultoria no orçamento e escolhe entidades e ONGs que podem receber recursos.

O cliente precisa informar seus dados tributários: quanto paga de Imposto de Renda, ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), ISS (Imposto sobre Serviços) e IPTU (Importo Predial e Territorial Urbano).

A Incentiv tem um mapa de leis de incentivo fiscal para saber onde encaixar cada companhia. Uma equipe pesquisa novas legislações em tramitação e avalia possibilidades.

“É um quebra-cabeças. Por mais que existam as tendências, precisamos ver o que é valor para cada empresa. Pode existir um projeto perfeito na região em que ela atua. A gente ajuda a definir o que é importante em determinado caso: a temática, região, causa, objetivos de desenvolvimento sustentável. Com base em tudo isso, nosso algoritmo gera um ranking de projetos”, completa.

Ainda existem, segundo ele, quem não use nada e poderia investir até R$ 10 milhões em projetos de renúncia fiscal.

“Com o apoio que receberemos neste ano, planejamos implantar quatro novas bibliotecas em três estados e entregar mais de 14 mil livros. Também promovemos formações em dez municípios e reformaremos três bibliotecas para melhorar a acessibilidade de pessoas com deficiência. Essas são apenas algumas das atividades que planejamos para 2024”, explica Fernanda Prado, gerente de relações institucionais da Associação Vaga Lume.

Entidade sem fins lucrativos, a ONG mantém 95 bibliotecas comunitárias espalhadas em 22 municípios de nove estados que formam a Amazônia Legal.

Com intermediação da Incentiv, três empresas doaram R$ 289,6 mil para a associação.

ALEX SABINO / Folhapress

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