Sucessão de Lira pode unir partidos contra comando duplo da União Brasil no Congresso

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Apontado como preferido do presidente Arthur Lira (PP-AL) para sucedê-lo na presidência da Câmara dos Deputados, o líder da União Brasil, Elmar Nascimento (BA), corre o risco de sofrer um revés na disputa pelo comando da Casa.

Antes mesmo do anúncio formal da decisão de Lira, dirigentes partidários têm afirmado, sob reserva, discordar da possibilidade de um mesmo partido presidir as duas Casas do Congresso Nacional.

Essa resistência ao nome de Elmar parte da constatação de que o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) é o favorito, entre seus pares, para presidir o Senado. E que, à frente também da Câmara, a União Brasil administraria toda a pauta legislativa e o destino de uma fatia expressiva do Orçamento do país.

Estes dirigentes alertam ainda para o ganho de excessiva força pelo partido diante das eleições de 2026.

Nos corredores da Câmara, deputados avaliam a costura de alianças para deter o empoderamento da União Brasil, caso Lira confirme em agosto, como prometido, sua predileção pelo nome de Elmar.

O alagoano não pode se reeleger, então tenta transferir seu capital político a um nome de sua escolha. Também são pré-candidatos o líder do PSD, Antonio Brito (BA), e o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP). Além deles, são lembrados os líderes do MDB, Isnaldo Bulhões Jr. (AL), do PP, Doutor Luizinho (RJ), e do Republicanos, Hugo Motta (PB).

Na quarta-feira (10), Elmar fez dois movimentos na tentativa de impulsionar sua candidatura. Pela manhã, reuniu-se com a cúpula do PDT, de quem recebeu indicativo de apoio do partido. Dois deputados da legenda afirmaram à reportagem, sob reserva, que se trata de um indicativo, e não da certeza do apoio. Eles dizem que a situação pode mudar se o nome escolhido por Lira for outro.

Também na tentativa de mostrar amplitude, Elmar reuniu na noite de quarta 12 ministros do governo Lula (PT) na celebração de seu aniversário, ocorrido na semana passada.

A festa de Elmar foi organizada por aliados do parlamentar numa tentativa de impulsionar a candidatura do baiano à presidência da Casa. Ocorreu um dia depois da homenagem aos aniversariantes do PSD, que serviu de lançamento informal da candidatura de Brito.

Orquestrada como uma demonstração de amplitude de sua candidatura à esquerda, a articulação provocou reação no Congresso.

Marcos Pereira, pré-candidato pelo Republicanos, afirmou à Folha que não é o momento de falar de alianças de campanha em respeito ao presidente Arthur Lira. “Meu nome estará na eleição como candidato. Se for necessário, vamos para a disputa”, disse.

A declaração de Pereira se deu em meio a rumores de que Lira estaria contrariado com o anúncio do PDT, uma vez que o presidente da Câmara disse que anunciaria sua decisão em agosto. O próprio Lira tem afirmado a interlocutores que os candidatos não devem antecipar a disputa.

Hoje um desafio de Elmar é convencer os deputados de que sua legenda não seria privilegiada em detrimento das demais, caso fosse eleito. Outro seria mitigar resistência de aliados de Lula, provando que não será um opositor do governo. O chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), foi ao aniversário de Elmar, não tendo comparecido às comemorações de Antônio Brito e Pereira.

Na confraternização do PSD, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou a jornalistas que não quer cometer o mesmo erro do partido na eleição da presidência do Senado em 2023, que reelegeu Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e impôs uma derrota ao senador Rogério Marinho (PL-RN).

De acordo com Valdemar, para ter espaço na Mesa Diretora da Câmara, o PL conversa até com o PT. Valdemar também compareceu ao aniversário de Elmar. Segundo ele, o apoio da sigla será definido com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

A congressistas governistas Elmar diz que a União Brasil no comando das duas Casas poderia resolver um impasse que prejudica a pauta do Executivo no Legislativo: a falta de sintonia entre Lira e Pacheco. Isso porque os dois mantêm relação protocolar e discordam da tramitação de matérias no Congresso, como medidas provisórias.

CATIA SEABRA E VICTORIA AZEVEDO / Folhapress

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