Sucessão de Lira tem reviravolta com ascensão de Motta, mas novo favorito enfrenta obstáculos

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A sucessão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sofreu uma reviravolta nesta semana após a ascensão de um novo favorito na disputa, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB). Apesar disso, ele ainda enfrenta obstáculos para se consolidar como o nome apoiado pelas principais forças políticas da Casa.

Graças a uma articulação que envolveu membros do governo Lula (PT), com participação direta do próprio presidente, o dirigente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), deixou a disputa para apoiar Motta, que é líder de seu partido.

O nome de Motta era ventilado nos bastidores como um forte candidato, que teria o apoio de diversos partidos. No entanto, ele esbarrava em Pereira, que até então negava qualquer possibilidade de desistir.

Na terça-feira (3), diante da constatação de que sua candidatura estava enfraquecida, Pereira resolveu desistir. Ele comunicou Lula e Lira.

À reportagem Pereira atribuiu ao presidente do PSD, Gilberto Kassab, sua saída da corrida. Isso porque Kassab se recusou a retirar Antonio Brito (BA), líder do PSD, do páreo.

Pereira abriu mão de concorrer, mas lançou Motta, que termina a semana com ares de favorito.

O presidente do Republicanos articulou um encontro de Motta com Lula na quarta (4). Mais cedo no mesmo dia, Motta se reuniu com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Lira não pode se reeleger e busca transferir capital político a um candidato de sua escolha. Além de Motta e Brito, estão na disputa os líderes Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL).

Elmar é o mais próximo de Lira. O presidente da Câmara sinalizou nos últimos dias que deveria apoiá-lo, o que levou a uma ala da Casa a lançar uma ofensiva contra a candidatura do deputado.

As dificuldades de consolidar a candidatura de Elmar atrasaram o anúncio de Lira sobre quem ele apoiaria.

Com a ascensão de Motta, as coisas ficaram ainda mais difíceis para o líder do União Brasil. Lira passou a indicar a aliados que deveria escolher o líder do Republicanos, por enxergar nele uma candidatura mais viável. O presidente da Câmara já afirmou diversas vezes que busca costurar um sucessor que tenha apoio do PT de Lula e do PL de Bolsonaro —as duas maiores bancadas da Casa.

Lira adotou cautela quando conversou com Elmar sobre o tema. Segundo relatos, o presidente da Câmara lhe disse que ainda não havia decidido se apoiaria Motta. Afirmou que precisava conversar novamente com o presidente da República para entender qual seria a posição dele sobre o tema, e depois tomaria sua decisão. A reunião com Lula ocorreu na tarde de quarta (4), mas Lira saiu dizendo que a conversa não havia sido conclusiva.

Diante desse movimento, Elmar buscou lideranças do MDB e do PSD na tentativa de criar uma união contra o nome de Motta. Aliados do parlamentar afirmam que ele está decepcionado com Lira —alguns também falam em traição do alagoano. Para integrantes da cúpula do União Brasil, o presidente da Câmara nunca esteve de fato comprometido com a candidatura de Elmar.

Na quarta, Elmar viajou a São Paulo para se reunir Kassab. A ideia, de acordo com relatos, é que as candidaturas sejam mantidas e, mais adiante, haja uma convergência (nem que isso ocorra somente em um eventual segundo turno da disputa). Eles planejam buscar outros partidos, entre eles o MDB.

Isnaldo Bulhões Jr. negou que o partido participará desse movimento. “Está fora de discussão e cogitação o MDB endossar o movimento de União Brasil e PSD na disputa pela presidência da Câmara. A decisão do MDB será dentro do bloco do qual ele já faz parte. Não tem discussão de bloco futuro”, afirmou.

Um aliado de Motta diz que, apesar de reconhecer o favoritismo na disputa, é preciso cautela.

Além do desgaste natural de ser favorito, uma ala do PT enxerga com ressalvas o nome de Motta por sua proximidade com o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), uma das vozes mais ativas da oposição a Lula.

Petistas também se incomodam com o histórico de ligações de Motta com o ex-deputado Eduardo Cunha (Republicanos-RJ), o principal articulador do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Motta foi da tropa de choque de Cunha, quando ele foi presidente da Câmara. A Lula ele justificou a proximidade com o deputado.

Afirmou Cunha era o líder do MDB —seu partido à época— e, portanto, ele era seu comandado. Também disse, de acordo com um aliado, que chegou a alertar Cunha que ele estava errado ao dar prosseguimento ao impeachment da ex-presidente. O líder do Republicanos, no entanto, votou a favor do afastamento da petista e foi considerado um membro da “tropa de choque” de Cunha.

JULIA CHAIB E VICTORIA AZEVEDO / Folhapress

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