Suécia suspende envio de caça Gripen para a Ucrânia em favor do F-16

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo da Suécia anunciou nesta terça (28) que suspendeu a negociação para o envio de caças Gripen para ajudar a Ucrânia em seu esforço de guerra contra a Rússia.

“Nós fomos instados por outros países na coalizão [de apoio a Kiev] para esperar com o sistema Gripen. Isso tem a ver com o fato de que o foco agora é na introdução do F-16”, afirmou o ministro da Defesa do país nórdico, Pal Jonson, à agência sueca TT.

O caça de fabricação americana F-16, o modelo mais popular do mundo, está sendo desativado como padrão de vários países da Otan, a aliança militar ocidental. O mercado está sendo tomado aos poucos pelo F-35, fabricado pela mesma Lockheed Martin.

Nesta terça, a Bélgica anunciou que dará seus 30 modelos disponíveis para a Ucrânia, durante uma visita do presidente Volodimir Zelenski a Bruxelas, dentro de um pacote de R$ 5,6 bilhões em um ano.

O envio dos Gripen começou a ser negociado em setembro do ano passado. A especulação era a doação de ao menos 18 dos 96 modelos C/D, de geração anterior, operados por Estocolmo. Como usualmente menos de 70 deles estão disponíveis para uso imediato, analistas apontaram um risco de segurança para os suecos.

O país usou isso para pressionar por sua adesão à Otan, boicotada por meses pela Turquia e pela Hungria, alegando que só poderia dar os aviões se estivesse sob o guarda-chuva do clube. Ao fim, selou a entrada na aliança no começo deste ano, de quebra vendendo o modelo para Budapeste, rompendo uma série de derrotas para o F-35 em vendas no continente europeu.

Seja como for, a adoção do Gripen e do F-16 implicaria um custoso e demorado treinamento de pilotos para dois sistemas diferentes, sendo que apenas um deles, o americano, está disponível em grandes quantidades. Além de Bélgica, os membros da Otan Dinamarca e Holanda também prometeram enviar.

Outros sete países da aliança da aliança ainda voam o caça, sendo que o maior operador, os EUA, têm quase mil em operação. Até aqui, Washington não fez menção de doação direta, apenas autorizou terceiros a enviar.

O tempo desse envio é outro problema. Os ucranianos queriam aviões já no ano passado, mas só devem ter os primeiros modelos, dinamarqueses, no início do segundo semestre. Os suecos devem gradativamente trocar sua frota de Gripen C/D pela mais moderna geração E/F, a qual também foi comprada pelo Brasil.

Outra questão é o emprego do avião, que remete ao novo foco de atrito entre o Ocidente e a Rússia na guerra: o emprego de armas de países aliados de Kiev para uso contra o território reconhecido internacionalmente governado por Vladimir Putin.

Ao anunciar o pacote de ajuda, que incluiu peças de reposição do sistema antiáero— Patriot, mas não baterias, o premiê belga, Alexander de Croo, afirmou que os F-16 não poderão ser usados para ataques contra alvos fora da Ucrânia —incluindo, claro, os cerca de 20% do país que já estão ocupados por Moscou.

Também em Bruxelas, onde Jonson estava para uma reunião UE (União Europeia), o secretário-geral da Otan, o noruguês Jens Stoltenberg, voltou a defender que os países europeus permitam o uso de armas ocidentais contra o solo russo.

“Eu acredito que chegou a hora de considerar essas restrições”, afirmou na mesma reunião da UE, reiterando sua visão de que isso não implicaria o envolvimento direto da Otan na guerra.

Esta é a leitura feita pelo Kremlin, que na véspera havia dito justamente o contrário. Stoltenberg, contudo, ressaltou que não há tropas da aliança no país, nem planos para que isso aconteça.

Alguns dos integrantes do clube discordam, ainda que o líder, os EUA, seja contra. A França está testando a temperatura da água ao enviar instrutores militares para “visitar”, nas palavras do chefe das Forças Armadas ucranianas, centros de treinamento no país invadido em 2022.

Já o chanceler da Polônia, Radoslaw Sikorski, afirmou em uma entrevista nesta terça que seu país poderá enviar forças ao vizinho. “Nós não devemos descartar. Devemos deixar Putin tentando adivinhar nossas intenções”, disse.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, comentou a situação dizendo que ela prova o envolvimento ocidental na guerra e que, por ora, a reação do governo russo será a de continuar com suas operações militares —que têm conseguido avanços no norte e leste do país.

Foi um tom abaixo da véspera e, certamente, mais comedido do que as ameaças reiteradas de Putin e outras autoridades russas de que ataques com armas ocidentais contra solo russo serão respondidas com força, podendo levar a uma guerra ampla.

Pela carta de fundação da Otan, qualquer ataque a um dos hoje 32 membros do clube implica uma defesa conjunta por todos. Na visão russa, a mão contrária vale: um ataque contra Moscou por um integrante envolveria a aliança toda.

IGOR GIELOW / Folhapress

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