SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na noite de domingo (24) deste Lollapalooza, SZA expurgou coletivamente a dor de cotovelo dela e de uma multidão de dezenas de milhares de pessoas. Última headliner a cantar no festival este ano, a artista fez ressoar pelo Autódromo de Interlagos, em São Paulo, sua abordagem única das canções de sofrimento por amor.
Tocando no palco Budwiser, o principal, com uma plateia bem menos cheia que o Blink-182, na sexta, mas maior que a do Kings of Leon, no sábado, SZA subiu ao palco vestindo uma camiseta verde e amarela do Brasil. Foi recebida e saudada aos gritos e, depois de cantar umas três músicas, gritou de volta o nome do país.
Mais à frente, dançou no palco com bandeiras do Brasil, e soltou uma gravação saudando o público em português. Ela agradeceu aos brasileiros e aos povos indígenas do país por recebê-la.
Aos 34 anos, a cantora chegou ao país cheia de credenciais. Apesar de ter mais de dez anos de carreira, Solána Imani Rowe, seu nome de batismo, despontou mesmo na música em 2017, com o álbum “Ctrl”. Depois, em 2022, emplacou o hit “Kill Bill” e virou sucesso mundial com o disco “SOS”.
No último Grammy, foi o nome com mais indicações, e ganhou em três categorias entre prêmios de pop e R&B. “SOS” também conquistou a crítica e a fez quebrar recordes teve disco de R&B com mais músicas na parada americana desde 1996, e superou Aretha Franklin como a mulher que liderou por mais tempo a lista da Billboard de álbuns mais vendidos de R&B e hip-hop.
Ela começou com um trecho de “Open Arms”, passou por “Seek & Destroy” e fez o Autódromo explodir com “Love Galore”. A participação de Travis Scott no hit surgiu nos alto-falantes, de onde também vieram as backing tracks faixas vocais pré-gravadas que servem como backing vocals.
Essa técnica, muito comum no pop, pode ser confundida com o playback quando um artista só finge que está cantando. Quando mal usada, a backing track pode de fato soar como substituta da voz do cantor, ao ponto de encobri-la e maquiar eventuais falhas.
Não foi o caso de SZA. Acompanhada por baterista, guitarrista e DJ, a americana mostrou que tem gogó para segurar uma plateia do tamanho da do Lollapalooza feito cada vez mais raro do pop, ainda que seu apelo não tenha se resumido a isso.
SZA é a rainha da sofrência do pop americano, quem melhor consegue traduzir atualmente o sofrimento por amor em música. O repertório, majoritariamente romântico, também ditou o clima do show.
Houve menos momentos de pular e dançar como na pop punk “F2F”, no pop “All the Stars” e no trap “Low”, na qual flutuou no palco em uma bola gigante do que de cantar junto balançando no embalo da voz da cantora. Foi o que a plateia fez em “Supermodel”, do primeiro álbum, emendada em “Special”, do segundo, tocadas só no violão e levadas pelo coro da plateia.
E assim, de balada em balada, da radiofônica “Nobody Gets Me” à cortante “Garden (Say It Like Dat)”, SZA foi elaborando a paixão e a falta dela no palco. O público, principalmente aquele mais próximo do palco, foi junto dela.
É bem verdade que a plateia não era das mais cheias que o esperado para um headliner no Lollapalooza. Também é verdade que SZA tem apenas dois álbuns, um cancioneiro bastante curto para segurar uma apresentação de mais de uma hora de duração num megafestival.
No fim, ficou até mais confortável para quem queria e não era pouca gente curtir o show. O público dançou junto em “Kiss me More”, e cantou em “Love Language”, entre várias outras.
No palco, SZA mostrou também ter entrega, dançando naturalmente o tempo inteiro, sem passos muito duros e coreografados. Um trunfo para quem já é também cantora e compositora.
O ápice veio com a sequência “Kill Bill”, hit arrasa-quarteirão em que SZA trata o ex com a sanguinolência de Quentin Tarantino no filme que nomeia a faixa, e “The Weekend”, em que narra as desventuras de ser a mulher preterida, “a outra”, em uma relação. Na primeira delas, cantou com um facão decorativo no colo.
Depois de sair do palco ao som de “Good Days”, SZA voltou brevemente ao palco para se despedir do primeiro encontro com os brasileiros. Foi embora com o nome gritado pela plateia.
LUCAS BRÊDA / Folhapress