Tabata anuncia como vice Lúcia França, que fala em consertar os erros dos homens

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A candidata a prefeita Tabata Amaral anuncia nesta segunda-feira (5) a professora Lúcia França como sua vice, em uma chapa pura do PSB depois de fracassada a tentativa de formar coligação com o PSDB, que era prioridade para a deputada federal e decidiu lançar a candidatura de José Luiz Datena.

Lúcia, que em 2022 foi vice na chapa de Fernando Haddad (PT) ao governo do estado e é casada com o ex-governador e ministro Márcio França (Empreendedorismo), diz à Folha de S.Paulo que o ineditismo de uma candidatura de duas mulheres na capital será um diferencial e minimiza o problema da ausência de alianças.

“É o momento de a gente poder consertar o que os homens têm feito com a cidade de São Paulo. Vejo vantagens em sermos do mesmo partido: a gente fala a mesma linguagem, pensa igual, então é mais fácil”, afirma ela, citando a educação como a principal pauta que une ambas.

O nome da ex-primeira-dama do estado passou a ser especulado como alternativa para vice depois que Tabata articulou a migração de Datena do PSB para o PSDB, na intenção de que o apresentador fosse indicado a vice pelo partido, mas ele acabou sendo estimulado pelos tucanos a concorrer a prefeito.

Os rumores aumentaram depois que a professora teve destaque na convenção do PSB, no último dia 27, quando apenas o nome de Tabata foi oficializado, com a decisão de deixar a vaga em aberto para o caso de desistência de Datena e de uma eventual retomada da negociação com o PSDB. O prazo para as convenções se encerra nesta quinta, e as candidaturas têm que ser registradas até dia 15.

Lúcia diz que não se vê como segunda opção e relata que já vinha sendo cotada como opção por Tabata e outros dirigentes do PSB, partido ao qual é filiada há 37 anos. Segundo a vice, as sondagens levavam em conta a possibilidade de não ser fechada nenhuma aliança.

“O partido, com tantos nomes importantes, apontou o meu desde sempre”, valoriza a educadora, que milita pela participação de mulheres na política.

Lúcia faz coro à candidata na avaliação de que houve descumprimento de acordo por parte de PSDB e Datena, mas evita se estender na crítica.

Diz que aprendeu com o aliado de longa data Geraldo Alckmin que, se uma pessoa não tem algo de bom para falar de outra, é melhor ficar calada. O vice-presidente da República é entusiasta da campanha do PSB na capital e, segundo Lúcia, avalizou a escolha.

Tabata disse ao podcast O Assunto nesta segunda que a dificuldade para ter aliança partidária pode ser explicada pela influência da máquina de governo, o que não é o caso de sua candidatura. “Infelizmente, a política hoje não é movida por pautas. É natural que quem não tenha a máquina na mão, sem caixa dois, com uma campanha honesta, não consiga atrair tantos apoios políticos neste momento”, afirmou.

Na convenção do partido, Lúcia fez um discurso em defesa de uma cidade mais justa e de incentivo ao empreendedorismo, tema que ela afirma querer levar o tema à campanha, aproveitando a possibilidade de ações em parceria com o ministério chefiado por seu marido no governo Lula (PT).

A vice, que dois anos atrás foi companheira de chapa de Haddad, diz ver com naturalidade o enfrentamento com o PT, apoiador da candidatura de Guilherme Boulos (PSOL).

Segundo ela, a frente partidária de 2022 precisava ser ampla para barrar a reeleição de Jair Bolsonaro (PL). “Isso foi importante. E agora é natural que as coisas comecem a voltar, que cada um tome o seu caminho.”

Proprietária de uma escola em Praia Grande (SP), o que usa para descrever a revolução que a educação fez na vida dela. Vinda de uma família de classe baixa, assim como Tabata, Lúcia nasceu em São Paulo, mas ainda jovem se mudou para a Baixada Santista, onde virou professora e depois empresária.

Ela voltou a ter casa na capital paulista desde a campanha de 2020, quando França foi candidato a prefeito. Naquela eleição, em que o ex-governador terminou em terceiro lugar, com 13,6% dos votos, a professora rodou a cidade com o marido e iniciou um trabalho de aproximação com segmentos de mulheres, da educação e da área social.

A ideia agora é aprofundar o trabalho, dividindo-se em agendas de campanha com Tabata para “multiplicar a presença” da chapa.

Lúcia, que comandou o Fundo Social de São Paulo (braço do governo estadual) quando foi primeira-dama, em 2018, afirma que a campanha de 2020 foi a que mais despertou “dor na alma” dentre todas as que fez com o marido —que foi prefeito de São Vicente por dois mandatos— porque “nunca tinha visto tanta miséria” nem esperava encontrar tantas crianças sem casa, comida e escola.

“Vou repetir o que a Tabata fala: a gente tem que entregar para o paulistano o básico bem feito. Nós temos boas ideias, e não são ideias mirabolantes, para segurança, transporte público e as outras áreas”, diz.

A campanha de Tabata tem como promessa a oferta de oportunidades iguais, algo que Lúcia elege como prioridade caso a chapa seja eleita, junto com o compromisso de alfabetizar 100% das crianças na idade adequada e garantir que saiam do ensino fundamental com conhecimento de lógica.

Embora tenha passado anos fora da capital, ela conhece a cidade “o suficiente para ficar incomodada”, em suas palavras. Afirma que hoje suas atividades estão concentradas na cidade e que se ausenta em média um dia por semana, quando vai a Praia Grande acompanhar a situação do colégio.

Lúcia rebate críticas de adversários que descartam a possibilidade de o PSB chegar ao segundo turno. “Nós estaremos lá. A Tabata sempre surpreende”, diz. “Uma cidade que é boa para a mulher é boa para a PCD [pessoa com deficiência], para a criança, para o idoso e para os homens”, segue.

Na pesquisa Datafolha de julho, a candidata registrou 7% das intenções de voto, empatada tecnicamente com outros postulantes em segundo lugar, enquanto a liderança ficou com o prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), que teve 24%, e Boulos, que alcançou 23%.

JOELMIR TAVARES / Folhapress

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