Takashi Morita, sobrevivente da bomba atômica de Hiroshima, morre aos cem anos em SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Takashi Morita, sobrevivente da bomba atômica de Hiroshima, lançada sobre a cidade japonesa em 6 de agosto de 1945, morreu aos cem anos, em São Paulo, no final da tarde desta segunda-feira (12), no Hospital Japonês Santa Cruz.

O velório acontece a partir das 10h, na Plena Funeral Home, no Planalto Paulista. O sepultamento está marcado para às 15h, no Cemitério Congonhas, no Jardim Marajoara.

“Encerrou uma longa jornada de cem anos. Agradecemos muito a todos que deram forças para a divulgação de como é cruel a bomba atômica, como é inútil a guerra”, disse a filha Yasuko Saito.

Em 1º de março, um dia antes de completar cem anos, ele foi homenageado em evento na Etec Santo Amaro, que em 2019 foi batizada com seu nome.

Morita, que vivia em São Paulo desde 1956, estava acompanhado de familiares e outros dois sobreviventes da bomba nuclear. Ele recebeu flores, bolo e outros presentes dos alunos.

Ele dedicou a vida para denunciar os horrores da guerra e promover a cultura de paz. Fazia palestras e participava de eventos sobre essa temática.

Em 2017, lançou a autobiografia “A Última Mensagem de Hiroshima: O que Vi e Como Sobrevivi à Bomba Atômica” (Universo dos Livros).

“Não posso esquecer esses acontecimentos. Esquecer é também enterrar a história da primeira vez que a bomba de destruição em massa foi utilizada contra a humanidade. É permitir que, um dia, alguém com supostas boas intenções —como os norte-americanos, que tomaram essa atitude drástica para pôr fim à guerra— possam repetir esse feito”, afirmava.

Em depoimento à Folha, em 2020, Takashi Morita afirmou que para derrotar a guerra “é preciso o perdão, além do amor”. Contudo, afirmou ser importante não esquecer o passado.

“Não posso esquecer esses acontecimentos. Esquecer é também enterrar a história da primeira vez que a bomba de destruição em massa foi utilizada contra a humanidade. É permitir que, um dia, alguém com supostas boas intenções —como os norte-americanos, que tomaram essa atitude drástica para pôr fim à guerra— possam repetir esse feito”, afirmou à ocasião.

Durante a Segunda Guerra, Morita foi convocado para o Exército e se deparou com a brutalidade com que novatos eram formados para que fossem soldados sem misericórdia.

Por isso, se esforçou para ser aprovado como “kempei”, um policial militar de elite. Morita tinha 21 anos quando a bomba foi lançada. Ele estava com dois “kempeis” e 12 auxiliares. O epicentro da explosão foi a 1,3 km de onde estavam. Eles foram lançados e cerca de dez metros. De seu grupo, apenas cinco sobreviveram. No mesmo instante, já passou a socorrer os feridos.

A parte da família de Morita que morava nos Estados Unidos também sofreu com a guerra.

Irmãos, cunhadas e sobrinhos foram levados a campos de concentração para japoneses, que funcionaram no país de 1942 a 1948 em locais afastados dos grandes centros.

No Brasil, Morita fundou, em 1984, a Associação Hibakusha Brasil pela Paz, que inclui também as vítimas da segunda bomba atômica, lançada em Nagasaki, em 9 de agosto. O grupo chegou a reunir 270 vítimas no Brasil.

“Para sucumbirmos à guerra, basta ocorrer um ato de vingança mais destrutivo que o outro, em um ciclo sem fim. Para derrotarmos a guerra, é preciso o perdão, além do amor”, dizia.

Segundo a filha, Morita morreu de velhice. Deixou dois filhos, três netos e três bisnetos.

FRANCISCO LIMA NETO / Folhapress

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