BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, afirma que Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi quem mais se fortaleceu, nestas eleições, como liderança política nacional. Ele reforça que o governador de São Paulo comprou uma briga importante para a prefeitura da capital do estado e ganhou.
Kassab diz que Tarcísio ajudou mais o prefeito Ricardo Nunes (MDB) do que o presidente Lula colaborou com Guilherme Boulos (PSOL), seu aliado no campo da esquerda.
“Se essa eleição tem um vitorioso, é o Tarcísio”, diz Kassab, que defende a importância do centro e afirma que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) erra no discurso.
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PERGUNTA – Qual é a sua avaliação dessa campanha eleitoral?
GILBERTO KASSAB – Existia uma expectativa, até uma torcida, de que a campanha fosse nacionalizada. O Lula e o PT gostariam que fosse, o PL gostaria. Não foi. É um sonho que aparece toda eleição e as pessoas quebram a cara. Prevaleceram os interesses locais. Havia também uma falsa percepção dos partidos que representam a polarização de que o centro ia desaparecer, uma pressão muito grande, como se o centro fosse alguma coisa ruim. Ficou claro que o centro está fortalecido.
Foi uma derrota dos que querem impor ao país uma agenda de bipolarização. O Brasil não quer isso. Mais uma vez, o país mostra que o centro é muito importante da nossa democracia.
P – O que o senhor define como centro hoje?
GK – Entre os maiores, defino como centro o PSD, o MDB e a União Brasil. E como direita, o partido do Bolsonaro, o PL, o do Ciro Nogueira, o PP, e o do Tarcísio, o Republicanos. O centro é fundamental para a governabilidade. O que não pode haver é o centro malandro, o da barganha.
P – Esse resultado mostra que o brasileiro é de centro-direita?
GK – Mostra que nas eleições locais prevaleceu o voto da centro-direita. Se você analisar estado por estado, localmente, o voto do centro foi mais alinhado com a direita do que com a esquerda.
P – O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse que o senhor vai pagar um preço alto por estar no governo Lula e no governo Tarcísio. O senhor teme uma retaliação do PL, do partido do Bolsonaro?
GK – Sempre avaliei essas manifestações como de cunho eleitoral, acho até que equivocadas como estratégia política, porque não têm repercussão, a discussão é local. O PSD e o PP, por exemplo, no estado de São Paulo, caminharam juntos nessas eleições em 174 cidades. O PSD e o Republicanos, em 232. E o PSD e o PL em 169. Isso mostra que eram muito mais manifestações para induzir o eleitor a não ficar com o centro, a ficar com a direita, estabelecendo diferenças que existem, mas que o eleitor compreendeu com naturalidade.
P – Essa rivalidade se acirra com o resultado eleitoral?
GK – O resultado eleitoral foi muito bom para o PSD. Nós não temos nenhuma vontade de acirrar nada. Acho que esses partidos erraram na estratégia, porque eles diziam que não aceitavam uma convivência, mas a eleição aceitou. Somando tudo, tivemos parceria com esses três partidos em 381 cidades. O eleitor não tem esse negócio, “poxa vida, não aceito direita ou esquerda”, não. Acho que foi errado eles quererem negar que existe o centro.
P – O governador Tarcísio disse que foi aconselhado a não entrar nessa campanha de cabeça. Acha que ele cometeu um erro ou um acerto?
GK – Realmente, não tenho informação de que ele foi aconselhado. Mas ele acertou. Acho que o governador de São Paulo tem a responsabilidade de ser o gestor, o líder maior do estado e apontar caminhos. Ele mostrou transparência, honestidade. O eleitor gosta desses posicionamentos com clareza. Então, ele foi muito firme, não mudou a postura.
P – Faltou essa transparência ao Bolsonaro nessa disputa?
GK – Bolsonaro tem de ser avaliado sob outra ótica, ele não é da política. Acho que se ele tivesse posições mais políticas, com clareza, com transparência, teria mais facilidade de somar. Bolsonaro sempre negou a política partidária. Se você vê problemas nela, melhor tentar aperfeiçoar, não negar. Talvez ele tenha errado nisso.
P – Tarcísio debutou na política eleitoral. O senhor acha que isso é uma emancipação em relação ao Bolsonaro?
GK – Emancipação é uma palavra muito forte porque ele sempre deixa claro que vai ser leal. Qualquer que seja o projeto defendido pelo Bolsonaro, ele vai estar alinhado. A emancipação dele é muito mais no plano estadual.
P – Mas acha que esse desempenho dele, a chegada do Nunes ao segundo turno, com o apoio dele…
GK – É uma grande vitória. Ele é o grande vitorioso da eleição, porque ele foi o grande apoiador do Nunes. Ele mostrou vocação, sensibilidade. Mais do que o Ricardo Nunes, o grande vencedor da eleição é o governador Tarcísio. Ele falou não, não quero ganhar a qualquer custo. Quero ganhar com aquilo que eu acho que é o melhor para São Paulo; se perder, paciência.
P – Essa vitória que o senhor credita ao Tarcísio o cacifa para uma disputa presidencial futura?
GK – A decisão é dele, né? Mas eu entendo, pela idade, pelo trabalho que ele faz em São Paulo, que precisava de circunstâncias muito fortes para ele deixar de ser candidato a governador. É importante para o Estado que ele continue. A minha modesta opinião é que o melhor caminho para ele e para São Paulo é a candidatura dele a governador.
P- O PT não obteve um bom resultado nas urnas. O resultado sinaliza para uma revisão do governo Lula?
GK – Discordo um pouco dessa avaliação. O PT, em relação a 2020, cresceu. Estava numa situação muito ruim. Teve uma participação muito maior e um resultado melhor. A vinculação com o plano nacional, com o projeto Lula, não existe. O Lula está acima do PT.
P – Por orientação do próprio Lula, o PT decidiu fazer uma ampla aliança. Acha que foi acertado?
GK – Sim. Por exemplo, no Rio, ele é um vitorioso. Em Minas, o Fuad foi para o segundo turno. Se ganhar, vai derrotar o bolsonarismo. Então, a avaliação que faço do Lula não é de derrota. Vamos comparar com 2020, né? O PT, em 2018 e em 2016, estava numa situação muito difícil. E elegeu o presidente. A reeleição do Lula não depende dos prefeitos, depende dele, do governo dele.
P – Mas o senhor acha que esse resultado não tem nada a ver com uma avaliação do governo dele?
DK – Não. A questão é local. É evidente que ele não é um governo super bem avaliado. O Tarcísio tem um governo mais bem avaliado. Tarcísio esteve muito presente na campanha do Nunes. E a aprovação dele é muito expressiva. Então, é evidente que o Tarcísio ajudou muito mais o Nunes do que o Lula o Boulos. Mas não acredito que se possa fazer uma análise de vinculação da imagem do governo com o resultado da eleição municipal.
P – O senhor aponta o Tarcísio como grande vitorioso em comparação ao Lula. E em comparação ao Bolsonaro também?
GK – São comparações difíceis de fazer. O Bolsonaro não tem cargo. Mas eu diria que o Bolsonaro erra no discurso, porque ele fala que não quer aliança com o centro, não admite que o centro converse com a esquerda, mas os partidos que estão alinhados a ele conversam. Esse erro o Tarcísio não cometeu.
CATIA SEABRA / Folhapress