Tarcísio apaga marca tucana Detecta do sistema de busca das polícias de SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) apagou de quase todo o sistema de busca das polícias de São Paulo a logomarca Detecta, um dos principais legados das gestões tucanas na área da segurança pública, substituindo-a pelo símbolo de um programa ainda a ser lançado.

Os relatórios de pesquisa solicitados pela polícia vêm, agora, com a logomarca Muralha Paulista, programa anunciado pela gestão Tarcísio no ano passado, mas não ainda implementado. A mudança de logomarca ocorreu no primeiro semestre deste ano, conforme policiais ouvidos pela reportagem.

Ainda de acordo com os agentes, a mudança de nome ocorreu mesmo sem nenhum ganho operacional importante —o sistema continua praticamente o mesmo, mas agora passou estampar a marca criada pelo atual governo.

Segundo essas autoridades, desde o início da gestão Tarcísio houve apenas a inclusão de acesso ao programa federal Córtex, que permite receber alguns tipos de informação em nível nacional, como mandado de prisão em outros estados. Nada criado pela atual gestão.

Procurada pela reportagem, a SSP (Secretaria da Segurança) afirmou que o Detecta será integrado ao novo programa Muralha Paulista e que detalhes serão divulgados em decreto a ser publicado em breve (leia mais abaixo). A pasta não explicou por que o sistema já usa a nova marca.

O programa Detecta foi importado inicialmente da polícia de Nova York (EUA) e anunciado em 2014 durante a campanha de reeleição do governador Geraldo Alckmin, então do PSDB, hoje vice-presidente da República, como a mais moderna ferramenta de combate ao crime no mundo.

“O que existe de mais avançado em segurança pública”, afirmava a propaganda tucana, que na época sofria críticas da oposição pela alta de roubos.

Três anos e mais de R$ 30 milhões investidos depois, porém, o governo paulista abandou a primeira versão do sistema após uma série de falhas e iniciou uma nova fase, mas não conseguiu entregar a principal mudança anunciada ainda em 2014: os vídeos analíticos. Ou seja, o conjunto de câmeras inteligentes (analíticas) capazes de identificar atitudes suspeitas e avisar automaticamente a central da Polícia Militar para envio de uma patrulha.

Uma pessoa entrar em local de comércio usando um capacete seria uma das situações passíveis de alertas.

Conforme os policiais ouvidos, o Muralha Paulista, quando for implementado, deve tentar entregar algo parecido com essa promessa feita há dez anos: ligar uma rede de câmeras ao sistema de monitoramento e também armazenar imagens, algo não previsto pelo Detecta.

A marca Detecta deve desparecer totalmente com o tempo, com a “repaginação”.

Para o pesquisador Daniel Edler, do NEV (Núcleo de Estudos da Violência) da USP, o Detecta surgiu com as promessas de integrar diferentes aplicativos, como Infocrim e Fotocrim, e oferecer um sistema inteligente de processamento dos vídeos para identificar situações em tempo real, de interesse da polícia.

A primeira promessa foi cumprida, apesar de problemas, mas a segunda não foi concretizada.

“Então, tem essas duas dimensões. A dimensão da integração das plataformas, que funcionou mais ou menos, e essa dimensão do monitoramento algoritmo, com processamento de dados, que não funcionou nada. Foi uma promessa, na minha opinião, totalmente vazia”, diz.

Sobre a mudança de nome para Muralha Paulista, o pesquisador afirma que um investimento em propaganda para falar de uma nova iniciativa de segurança pública só se justificaria se houvesse uma reestruturação total de sistema, o que ainda não ocorreu.

Edler diz, ainda, que a conexão com câmeras públicas e particulares, nos chamados cinturões, como anuncia o atual governo, tem pouca eficiência real no policiamento.

“A questão é um pouco do que você coloca de funcionalidade em cima disso. Porque integrar a câmara é muito bom se você é um delegado que quer agilizar o seu processo de investigação. Para a Polícia Militar, se eles tiverem 2 milhões de câmeras, eles não vão ter gente para olhar isso. Eles não vão ter gente para olhar nem 1% disso”, afirma.

Para a segurança pública, avalia o pesquisador, seria muito melhor o estado investir no BO eletrônico, lançado pelo governo paulista em março de 2022, mas que ainda não foi efetivado.

“O fato de não precisar encaminhar a pessoa para a delegacia, para ficar o dia inteiro na delegacia e deixar o baseamento vazio. Esse tipo de coisa é muito mais importante para a rotina da polícia do que você ter um algoritmo que vai identificar algo”, afirma.

DETECTA SERÁ INTEGRADO AO MURALHA, DIZ GOVERNO

A reportagem perguntou à Secretaria da Segurança quais mudanças foram feitas no sistema Detecta, além da inclusão do Córtex, que permitiram a troca de nome para Muralha Paulista e informou à pasta que policiais ouvidos afirmam que nenhuma mudança importante foi feita desde o início do ano passado.

A reportagem também solicitou algum porta-voz, mas não foi atendida.

Por meio de nota, a gestão Tarcísio afirmou que o Detecta, assim como o Córtex do Governo Federal, “são sistemas que serão integrados ao novo programa Muralha Paulista, que tem como objetivos combater o crime organizado e reduzir a mobilidade criminal em todo o estado”.

“Não se trata, portanto, da substituição ou modernização de sistemas existentes, mas da criação de um novo programa e uma nova política de segurança pública. O decreto que instituirá o Muralha Paulista está em fase final de elaboração”, finaliza a nota.

ROGÉRIO PAGNAN / Folhapress

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