SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) prometeu nesta quarta-feira (27) a “pior punição possível” para o policial militar preso em uma operação da Polícia Federal contra uma organização criminosa responsável por um esquema bilionário de lavagem de dinheiro.
Tarcísio ainda afirmou que o governo desconhecia o envolvimento do militar com atividades suspeitas sob investigação federal. Até setembro deste ano, o suspeito atuava na Casa Militar, órgão responsável pela segurança do Palácio dos Bandeirantes e que coordena áreas estratégicas de defesa. Tarcísio ainda negou que o suspeito chefiasse a sua segurança.
“Ele não era chefe de segurança. Ele prestou serviço na Casa Militar. Estava lá há 14 anos e foi mandado embora. Não estava lá desde setembro. Trabalhou lá durante 14 anos, com vários governadores, e quando cheguei, ele foi embora. Se a gente soubesse de alguma coisa, obviamente, teria saído há muito mais tempo”, disse Tarcísio.
Uma operação da Polícia Federal realizada nesta terça-feira (26) contra uma suposta organização criminosa de lavagem de dinheiro teve como um dos presos o capitão da PM Diogo Costa Cangerana.
Segundo o governo estadual, o suspeito ingressou na Casa Militar em abril de 2012 e permaneceu na unidade até setembro deste ano, quando foi transferido para o 13º Batalhão de Policia Militar Metropolitano, na região central da capital paulista.
“Obviamente, toda instituição, infelizmente, a gente tem essas maçãs podres, e essas maçãs podres nós vamos tirar desse cesto”, declarou o governador, defendendo a Polícia Militar.
Também foi preso o policial civil Cyllas Elia, que segundo o governo está afastado de suas funções desde dezembro de 2022. Ele é dono da instituição financeira 2GO Bank. Procurada, a empresa afirmou que está colaborando com as investigações e segue à disposição das autoridades.
Elia é uma das pessoas delatadas por Vinicius Gritzbach por suposto envolvimento em um esquema de corrupção policial. Gritzbach, que também delatou integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), foi morto em um ataque no aeroporto de Guarulhos no início do mês.
A operação da PF investiga a prática de crimes contra o sistema financeiro, evasão de divisas e lavagem de dinheiro que teriam movimentado R$ 6 bilhões nos últimos cinco anos, sendo R$ 800 milhões em 2024.
O esquema contaria com a participação de dezenas de pessoas, envolvendo estrangeiros e brasileiros nas mais variadas funções e atividades como gerentes de bancos e contadores.
Duzentos policiais federais cumpriram 16 mandados de prisão preventiva e 41 mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça Federal em endereços residenciais e comerciais nos estados de São Paulo, Distrito Federal, Espírito Santo Paraná, Ceará, Santa Catarina e Bahia, segundo a Polícia Federal.
A investigação teve início em 2022 e tem como alvo um complexo sistema bancário paralelo e ilegal que teria movimentado bilhões de reais dentro do Brasil e também para o exterior.
O dinheiro teria origem ou destino em países como Estados Unidos, Canadá, Panamá, Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Peru, Holanda, Reino Unido, Itália, Turquia, Emirados Árabes Unidos e, especialmente, a China, incluindo Hong Kong.
Para funcionamento do sistema criminoso, segundo a apuração, o líder buscava a abertura de empresas e contas bancárias com capacidade de movimentação de R$ 2 milhões por dia. Segundo a PF, o objetivo do sistema era permitir um fluxo constante de dinheiro para o território chinês. Mas a organização também atendia outras pessoas interessadas em ocultar capitais, lavar dinheiro ou enviar ou receber recursos do exterior.
De acordo com os agentes federais, há indícios de envolvimento de grupos criminosos voltados ao tráfico de drogas, tráfico de armas e contrabando.
Entre os meios utilizados pela organização criminosa estão instrumentos criminais clássicos, como uso de empresas de fachada e de laranjas, falsificação de documentos de importação e exportação e operações de câmbio fraudulentas.
A lavagem de dinheiro também contava com mecanismos mais recentes, como o uso de fintechs e transposição de recursos para criptoativos.
Além das prisões e das buscas, a Justiça Federal determinou ainda o bloqueio de bens e valores em cifra superior R$ 10 bilhões, de mais de 214 pessoas jurídicas.
Os investigados, de acordo com suas condutas, vão responder, principalmente, pelos crimes organização criminosa, ocultação de capitais (lavagem de dinheiro) e evasão de divisas, cujas penas somadas passam de 35 anos de prisão, além de diversos outros já constatados durante a investigação.
A operação foi chamada de Tai-Pan, que significa chefe supremo, uma referência ao romance de 1966 escrito por James Clavell sobre comerciantes ocidentais que se mudaram para Hong Kong em 1842, após o fim da Primeira Guerra do Ópio.
Redação / Folhapress