Tarcísio reforça apoio a Nunes, e prefeito busca se diferenciar de Boulos em escolha de vice

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), reforçou, nesta terça-feira (16), que vai apoiar o prefeito Ricardo Nunes (MDB) na eleição municipal de São Paulo.

Depois de elogiar a parceria entre estado e prefeitura, Tarcísio foi questionado por jornalistas se o eleitor poderia entender que ele iria apoiar a reeleição do emedebista.

“Acho que o eleitor pode entender, sim. […] Jeito sutil de arrancar a informação da gente”, brincou com os repórteres. “É isso, é lógico”, completou o governador.

Tarcísio e Nunes estiveram juntos no Palácio dos Bandeirantes em um evento para anunciar crédito subsidiado para moradias e fizeram uma série de elogios um ao outro —algo comum entre eles.

“O que a gente tem aqui é uma grande parceria, uma parceria de trabalho. […] São vários programas que estão sendo realizados em conjunto. […] Felizmente, a gente tem um prefeito que dialoga muito com a gente, que tem sido muito parceiro, que é muito comprometido com a cidade; […] nos dá um grande conforto”, disse Tarcísio.

Em entrevista à imprensa, Nunes afirmou que será o responsável por escolher o vice da sua chapa, mas que levará em consideração a opinião de Tarcísio, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e dos partidos que o apoiam —grupo que inclui legendas como PL, Republicanos, PP, União Brasil e PSD.

A aliança entre Nunes e Tarcísio já era tratada como certa, com várias sinalizações do governador nesse sentido. Em 19 de dezembro, porém, depois que Bolsonaro fez um gesto de apoio à pré-candidatura de Ricardo Salles (PL), Tarcísio afirmou que não se envolveria em campanhas eleitorais onde houvesse “bola dividida”.

“O que vocês podem esperar é que eu nunca vou me colocar contra o Bolsonaro em decisão nenhuma”, disse, indicando um rompimento com Nunes.

Dias depois, no entanto, Tarcísio, Bolsonaro e Valdemar Costa Neto pactuaram o apoio a Nunes, que foi anunciado pelo presidente do PL.

Nesta terça, portanto, Tarcísio afirmou publicamente o seu apoio a Nunes, que agradeceu. “Fico feliz. Acho que é importante destacar que o trabalho conjunto tem surtido efeito”, disse o prefeito.

O primeiro anúncio conjunto dos aliados foi justamente relativo à habitação, área de atuação de Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

Auxiliares de Nunes esperam que Tarcísio entre de cabeça na campanha e ajude o prefeito a mostrar avanços sobretudo na segurança pública. Aos jornalistas o governador afirmou que “vai atacar muito forte a questão do centro” ao falar sobre ações de revitalização e projetos conjuntos com a prefeitura.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, aliados do prefeito afirmam que o anúncio de um vice deve ser feito até o limite das convenções, em julho —o foco no momento seria a gestão. Nunes deve começar a tratar do assunto em março.

Ao falar com a imprensa sobre esse tema, Nunes afirmou que sua situação é diferente da de Guilherme Boulos (PSOL), deixando implícito que a escolha de Marta Suplicy como vice foi uma ordem do presidente Lula (PT).

“O momento nosso agora tem sido de governar. A eleição está um pouco para frente. Minha situação é bem diferente do principal adversário. Eles têm uma pessoa que define o nome e pronto, acabou”, disse.

“No nosso caso, como a gente tem um processo que reúne vários partidos e tem lideranças importantes, o [ex-]presidente Bolsonaro, o governador Tarcísio. Evidentemente a gente tem que fazer uma ação democrática de escutar todo mundo. Agora, é óbvio que a decisão vai ser no final minha”, completou o prefeito.

Valdemar, por exemplo, já havia dito que poderia partir de Bolsonaro a seleção de um nome. Ainda na entrevista, Nunes afirmou que o próprio ex-presidente disse a ele e à imprensa que a escolha do vice caberá ao prefeito, algo que Tarcísio também reforçou.

“Essa escolha do vice é uma questão do prefeito, ele tem que estar confortável com o nome, ele tem que escolher. O pessoal fala ‘o Tarcísio vai escolher, não sei quem vai escolher’, quem tem que escolher é o prefeito. […] Obviamente isso depende também de uma articulação entre os partidos que vão fazer parte de uma grande frente, dessa grande aliança que vai girar em torno do Ricardo”, declarou Tarcísio.

O prefeito, por sua vez, disse que, nesse processo, vai levar em conta a opinião de Bolsonaro e de Tarcísio. “Não vou colocar ninguém que o Tarcísio não goste”, brincou.

Questionado sobre o coronel da reserva da PM Ricardo Mello Araújo, nome que está em alta entre os bolsonaristas para ocupar a vice, Nunes afirmou que esteve com ele apenas duas vezes para tratar da Ceagesp e que o ex-presidente não falou com ele sobre essa opção.

“Foram reuniões de trabalho. É um nome que eu sei que tem muito apreço, tanto pelo presidente Bolsonaro como pelo Tarcísio, mas, enfim, Bolsonaro não falou nada comigo sobre esse nome”, disse.

O nome de Mello Araújo, bolsonarista que foi presidente da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) e ex-comandante da Rota, é defendido por parlamentares da direita pela lealdade ao ex-presidente e por ter atuado na segurança pública, tema que mais preocupa o paulistano.

Segundo aliados de Bolsonaro, o ex-presidente é a favor do coronel, mas outros nomes também são cogitados. Alguns bolsonaristas lembram que Mello Araújo tem rusgas com Tarcísio, que acabou não o convidando para integrar o governo. Por isso, duvidam que ele seja o escolhido para a vice.

No evento desta terça, Nunes procurou ressaltar a parceria entre ele e Tarcísio, a quem chamou de “grande amigo” e “motivo de alegria e orgulho”. Mirando a eleição, disse que ambos trabalham com o setor privado e respeitam as leis, numa crítica velada a Boulos.

CAROLINA LINHARES / Folhapress

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