Tarcísio une Bolsonaro e Kassab para eleger aliado em Guarulhos e emplacar policial na Alesp

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) quer eleger seu líder de governo na Assembleia Legislativa, Jorge Wilson (Republicanos), conhecido como “Xerife do Consumidor”, para a Prefeitura de Guarulhos (SP), o que levaria seu aliado Danilo Campetti (Republicanos), o policial federal que foi seu segurança e assessor, a ocupar uma vaga de deputado estadual.

Campetti foi eleito deputado estadual suplente e assume o mandato caso algum deputado do Republicanos deixe a Assembleia Legislativa, o que ocorrerá caso Jorge Wilson vença a eleição municipal.

Tarcísio articulou para que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) declarasse apoio a Jorge Wilson apesar de o bolsonarismo ter lançado outro nome raiz, o vereador Lucas Sanches (PL), para a prefeitura da cidade.

Sanches foi lançado por Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e tinha o apoio de vários influenciadores bolsonaristas.

Em Guarulhos, Tarcísio alcançou a façanha de unir na mesma chapa Bolsonaro e Gilberto Kassab, presidente do PSD e seu secretário estadual de Governo, que é desafeto do ex-presidente. O atual prefeito da cidade, Guti (PSD), faz campanha para Jorge Wilson.

O ex-presidente gravou um vídeo ao lado de Tarcísio, Jorge Wilson e Guti, que foi divulgado nas páginas do deputado estadual. “Olá, amigos de Guarulhos”, diz Bolsonaro. “O que eu quero para essa cidade? O melhor para vocês, tá ok? Então desejo ao nosso colega Xerife boa sorte, felicidades, estamos juntos, valeu?”, completa.

Aliados de Tarcísio afirmam que ele apoia Jorge Wilson por considerá-lo o melhor candidato e por gratidão ao seu trabalho na liderança de governo, e não apenas para ajudar Campetti, que teria outros meios para chegar à Alesp.

À Folha Jorge Wilson diz que faz uma campanha propositiva, de construção e de diálogo e que, por isso, tem o apoio de Tarcísio, Guti e Bolsonaro. Campetti não respondeu à reportagem.

Segundo suplente do Republicanos, Campetti é policial federal lotado em São José do Rio Preto (SP), foi assessor de Tarcísio no Ministério da Infraestrutura, fez a segurança dele na campanha de 2022 e estava presente no dia em que um tiroteio em Paraisópolis interrompeu a agenda do então candidato.

Desde que chegou ao Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio se empenhou pessoalmente para trazer o aliado para o Governo de São Paulo ou fazer com que ele assumisse o mandato de deputado estadual -já houve ao menos três tentativas sem sucesso. A primeira suplente do Republicanos, Coronel Helena Reis, é secretária de Esporte de Tarcísio, o que facilita a ascensão de Campetti.

Bolsonaro também é próximo de Campetti, que integrou a equipe que fazia sua segurança na campanha de 2018.

Campetti participou ainda da prisão do presidente Lula (PT) em 2018, no âmbito da Operação Lava Jato. Ele foi um dos policiais que trabalharam na condução coercitiva do petista e da ida dele ao velório do neto, em 2019, enquanto estava preso.

O agente chegou a ser nomeado por Tarcísio como assessor na pasta da Segurança Pública, mas foi requisitado novamente pela PF em junho de 2023, sob o argumento de faltar pessoal em São José do Rio Preto. Campetti foi afastado das funções de policial por alguns meses e ainda responde a um processo administrativo disciplinar sigiloso na instituição.

Aliados de Campetti falam em perseguição e retaliação contra ele por parte da PF e do governo federal.

Com a esquerda dividida em Guarulhos, Wilson é um dos favoritos. O ex-prefeito Elói Pietá, que governou por dois mandatos, entre 2001 e 2008, quando estava no PT, chegou a ser cogitado para disputar o pleito pela sigla, mas, após um desentendimento com o partido, desfiliou-se e anunciou a pré-candidatura pelo Solidariedade.

O deputado federal Alencar Santana (PT) foi o nome escolhido para concorrer pela legenda. Há ainda a pré-candidatura do deputado estadual Márcio Nakashima pelo PDT.

Como mostrou a Folha, Tarcísio já fez três movimentos para que Campetti alcançasse a Alesp. Em setembro do ano passado, o governador convidou o deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos) para ser seu secretário do Turismo, mas Abduch não aceitou.

Em janeiro deste ano, foi o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), aliado de Tarcísio e apoiado por ele na eleição, quem convidou, como um gesto ao governador, Abduch para seu secretariado. Pela segunda vez, Abduch recusou, o que irritou Tarcísio e seu entorno.

Abduch disse a colegas, na ocasião, que a mudança dificultaria sua tentativa de ser vice do prefeito na eleição de 2024 –objetivo hoje considerado distante de ser concretizado, até porque ele tem a oposição de Tarcísio.

No mês passado, Tarcísio patrocinou um acordo entre Nunes e o Republicanos para que o deputado estadual Rui Alves ocupasse a secretaria municipal do Turismo. O acerto, porém, desmoronou quando Alves foi informado de que ele e o Republicanos não poderiam fazer nomeações na pasta que assumiria -já loteada para um vereador do PL.

Campetti foi alvo de processo na Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo, que pediu que Tarcísio fosse multado sob acusação de que o policial teria empregado seus serviços, arma e distintivo na campanha no dia do tiroteio, o que é proibido.

O governo paulista afirma que Campetti estava de folga naquele dia. Em outubro de 2023, o TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) julgou improcedente representação contra o governador.

CAROLINA LINHARES / Folhapress

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