Tarsilinha questiona perícia e autenticidade de novo quadro de Tarsila do Amaral

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após a família de Tarsila do Amaral afirmar nesta segunda-feira (19) que uma tela da pintora tida como falsa é verdadeira, o marchand Jones Bergamin, que leiloou uma das obras mais célebres da artista, “A Caipirinha”, e a sobrinha-neta da artista, Tarsilinha, dizem que o mercado ainda desconfia da autenticidade do quadro.

“Acho muito difícil essa obra ser comercializada, porque o mercado, todos os marchands e galeristas brasileiros, têm ciência de que não é autêntica. Não passou na mão de nenhum perito com conhecimento sobre a obra de Tarsila”, ele afirma. “Esse quadro pode ser vendido para um incauto, alguém que não circula no meio da arte. Pode ser vendido para um comprador, não para um colecionador.”

Em comunicado conjunto enviado após a exibição de uma reportagem no Jornal Nacional, a OMA e a Tarsila S.A., empresa dos herdeiros da pintora, não detalharam como foi feita a perícia nem informaram quais elementos levaram o perito a afirmar que a tela é verdadeira. A Folha pediu uma entrevista ao perito, que prometeu se pronunciar nesta terça-feira.

A tela em questão esteve à venda na feira SP-Arte, em abril, levada pelo galerista Thomaz Pacheco, da galeria OMA, que queria vender o quadro por R$ 16 milhões. Agora, o preço quase triplicou, para R$ 60 milhões.

Se a venda for concretizada, os herdeiros de Tarsila receberão 5% desses R$ 60 milhões, o equivalente a R$ 3,5 milhões. É o chamado direito de sequência, previsto na legislação brasileira, que confere ao autor ou à sua família uma compensação financeira sempre que a obra for vendida.

Datada de 1925, a obra seria da fase “Pau-Brasil” de Tarsila, a mais valorizada da artista. O quadro ficou no Líbano desde 1976 e só voltou ao Brasil em dezembro de 2023, segundo seu proprietário.

Na época da SP-Arte, em abril, a obra foi considerada falsa por Bergamin e outros agentes do mercado que comercializaram telas de Tarsila, além de uma pessoa que selecionou obras para o catálogo raisonné da artista, o livro de referência sobre a sua obra, ou seja, tudo o que consta desta publicação tem a autoria certificada.

A tela com a autoria certificada nesta segunda-feira foi periciada por Douglas Quintale, profissional contratado pela família de Tarsila. Quem dá a palavra final, contudo, é Paola Montenegro, sobrinha-bisneta da artista, que está à frente do espólio desde 2022, quando a sobrinha-neta de Tarsila, conhecida como Tarsilinha, saiu do cargo.

Tarsilinha é respeitada pelas galerias e pelos museus mundo afora devido ao seu profundo conhecimento da obra de Tarsila, construído ao longo dos 20 anos que passou à frente do espólio. Já Paola Montenegro só agora passa a ser conhecida como quem responde pelos direitos da pintora.

Tarsilinha diz que, assim como outros representantes do mercado da arte, “não concorda com o método de análise que foi feito”. Ela afirma ainda que o quadro agora autenticado não deve afetar a credibilidade do raisonné de Tarsila, porque “sabem da seriedade das pessoas envolvidas no catálogo”. A tela de 1925 era desconhecida pelos organizadores do raisonné até sua aparição na SP-Arte, em abril.

A reportagem apurou que duas pessoas responsáveis pelo catálogo raisonné, Aracy Amaral e Regina Teixeira de Barros, teriam sido advertidas para não comentar o caso. Amaral é considerada a maior expert em Tarsila do país, e Teixeira de Barros também é uma das principais conhecedoras da obra da artista.

Thomaz Pacheco, o galerista que apresentou a obra, disse em comunicado que sempre teve o sonho de deixar um legado por meio de seu trabalho. “Me sinto muito honrado ao participar desse processo. Conseguir legitimar uma obra nova de Tarsila do Amaral é um legado para o Brasil —é aumentar o reconhecimento da produção da principal artista brasileira e a segunda maior artista da América Latina. Estou em paz e com o sentimento de gratidão.”

SILAS MARTÍ E JOÃO PERASSOLO / Folhapress

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