SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Tatá Aeroplano lança nesta terça (15) o sétimo disco de sua carreira solo, em que deixa de lado as letras e reflexões mais narrativas que costumam aparecer em suas canções para dar vazão a versos mais minimalistas e diretos. Eles combinam com o clima sonoro eletrônico e dançante de “Boate Invisível”.
O álbum é resultado da criação coletiva de Tatá com os parceiros que o acompanham desde o disco que, em 2012, carregou seu nome, Bruno Buarque, Dustan Gallas e Junior Boca. Mas foi no álbum lançado no ano passado, “Não Dá pra Agarrar”, que ele e Dustan começaram a gestar um novo processo de criação, que se dava a partir de sessões de improviso dentro do estúdio. Dali surgiram “Chá Delícia”, “Solta o Desejo” e “Tempo que Não Cabe em Nós”.
Para levar adiante a estratégia, o grupo se juntou no estúdio Minduca, de Bruno Buarque, propondo bases e sons de forma coletiva, com muito improviso, o que gerou material sonoro para moldar. Segundo Dustan, “tem essa coisa meio jam, a gente chega e não sabe nada. Discutimos um argumento, ou não, então alguém puxa uma ideia e todo mundo compra. E uma coisa muito importante, que determina o que dá certo, é que o Tatá participa da jam cantando”.
“Gente na Praia”, por exemplo, já estava com as bases prontas quando a ideia da música chegou, no dia da morte de Gal Costa. O choque da perda de uma das maiores cantoras do país fez com que Tatá e Dustan sentissem que precisavam criar algo que desse vazão àquele sentimento.
Então tentaram assumir um devir Gal Costa, ao mesmo tempo em que pensavam qual era a imagem mais forte que tinham da cantora. A que veio, coletivamente, foi a da Gal praieira, jovem, rodeada por amigos no Rio de Janeiro entre o fim dos anos 1960 e meados dos 1970.
O paralelo traçado foi muito simples, pois eles próprios vivem reunidos, tanto para a vida, como para a música. Por fim, convidaram Guilherme Held para participar, já que ele é considerado um dos grandes discípulos de Lanny Gordin, o guitarrista dos discos do auge da carreira de Gal na fase em que ainda era atravessada pelo tropicalismo.
Aliás, o disco conta com diversas participações, como a das cantoras Malu Maria e Kika, que gravaram as vozes, que também são co-autoras de algumas faixas, como “Rio Voador”. Em “A Carta na Mão”, destaca-se o sax de Richard Fermino, com som que faz contraponto aos diferentes timbres explorados pelas programações e sintetizadores.
Assim como em vários discos anteriores da carreira de Tatá Aeroplano, “Boate Invisível” faz referência a outras bandas e cantores. Se o disco do projeto Jumbo Elektro, lá de 2004, trazia a faixa “Happy Mondays”, aqui temos “No Fusca com T. Rex” e o refrão da faixa que dá título ao disco falando sobre New Order. Com tantas bandas inglesas, Dustan sugere que “Bragança Paulista [cidade natal de Tatá] deve ser a Manchester brasileira”. E a cidade é mesmo o cenário da poética das canções.
A inspiração para a letra de “No Fusca com T. Rex” veio, segundo Tatá, assim. “Eu tive um sonho em que eu fugia de uma clínica de reabilitação com o Marc Bolan e o Raul Seixas, e a gente fugia no carro de um tio de Bragança”.
Já o New Order acompanhava o compositor durante a adolescência, quando ele escutava a banda no carro da mãe, sintonizando o rádio e gravando o que tocava, mais ou menos na época do lançamento do álbum “Substance”, de 1987.
“Me dava aquela melancolia do fim de domingo, aquela angústia de você ser adolescente mas já estar vivendo lá na frente, mas sabe que tem que passar por um período ainda muito grande até se encontrar.”
Foi aí, inclusive, que surgiu o nome do disco. A memória dos momentos dentro do carro, ouvindo música, numa espécie de boate invisível com um “céu de estrelas no chão”, verso sugerido por Malu Maria.
Nas dez faixas que compõem esse novo trabalho, Tatá reafirma tanto seu estilo, quanto abertura para inovar dentro dele, cultivando uma essência que vem descrita, por exemplo, em “Coffees e Madrix”, na qual sugere o “Desencantamento da lógica/ Desentrocamento da métrica /Desentrocamento da mantrica”.
Com mais de 20 anos de carreira na música independente, Tatá Aeroplano se consolidou como um dos nomes da música psicodélica brasileira, com composições inventivas, líricas e, sobretudo, livres. A trajetória independente é uma construção que demanda tempo e ferramentas, muitas vezes, distintas do chamado mainstream.
Como o próprio Tatá define, é como “fazer uma música na qual a gente age como agricultor orgânico”, tendo total consciência e domínio sobre a própria produção.
BOATE INVISÍVEL
Onde: Lançamento nesta terça-feira (15), nas plataformas digitais
Autoria: Tatá Aeroplano
Produção: Bruno Buarque, Dustan Gallas, Junior Boca e Tatá Aeroplano
PÉROLA MATHIAS / Folhapress