NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – O ex-presidente Michel Temer (MDB) acusou a oposição no Brasil de não cumprir o seu papel e, em vez disso, ter incorporado a ideia errônea de que, em vez de ajudar o governo por meio de críticas, deve tentar destruí-lo.
A declaração foi dada durante evento do grupo empresarial Lide em Nova York (EUA) nesta terça-feira (14), que reuniu uma série de nomes do setor público e privado brasileiros.
“Vocês sabem que no geral, no sistema democrático, existem a situação e a oposição. A oposição existe para ajudar a governar, é fundamental na democracia”, disse. “Ela existe para ajudar a governar e ajuda quando critica, quando observa, quando contesta, quando contraria, quando faz as maiores críticas, não é? Nós temos que acostumar com isso”, afirmou.
“Eu lamento dizer que não é isso que se aplica no nosso país, não é de agora, mas já do passado, de muito tempo atrás, incorporou-se ao nosso sistema a ideia de que se eu perdi a eleição, o meu dever é destruir aqueles que ganharam a eleição, e isso não contribui com o país”, completou.
Questionado pela Folha de S.Paulo se fazia referência à oposição bolsonarista, Temer negou e disse que sua avaliação é do quadro geral da política brasileira e que o problema ocorre do nível municipal ao federal.
O ex-presidente também afirmou que ainda não viu Lula fazer uma pacificação do país, como ele acreditava que o petista faria, mas disse que ainda há tempo para isso no mandato.
Falando pouco depois, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que foi ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro (PL), respondeu os comentários do ex-presidente, defendendo o papel da oposição e criticando o governo Lula (PT) por não conseguir se comunicar com a população.
“Comparo muito o que acontece no Brasil hoje com o retorno de Getulio Vargas. Getulio tinha sido um grande presidente, mas, quando voltou, voltou fora da sua época. Não conseguia mais se comunicar com a população”, afirmou Nogueira.
Seguindo a comparação, o senador afirmou esperar que venha um grande novo presidente à frente, como Juscelino Kubitschek veio após Getulio. Citando alguns nomes presentes no evento, ele apontou os governadores Ronaldo Caiado (Goiás) e Ratinho Jr (Paraná). Ambos foram aplaudidos.
Temer também abordou a tragédia Rio Grande do Sul. Ele sugeriu a criação de secretarias estaduais e uma nacional para a prevenção de incidentes climáticos.
O emedebista disse que gostaria de ter criado o sistema em seu governo, mas que não foi possível, e recomendou aos governadores presentes no evento que considerem a proposta.
Em razão do desastre no Sul, o seminário do Lide, que integra uma série de eventos relacionados ao Brasil que ocorrem nesta semana em Nova York, acabou desfalcado. Na semana passada, uma comitiva de políticos bolsonaristas foi criticada por estar em Washington enquanto ocorria a tragédia no Brasil.
O governador gaúcho, Eduardo Leite, e os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e da Câmara, Arthur Lira (PP), não participaram do evento do Lide nesta terça.
Em vez disso, os três enviaram vídeos, justificando a ausência em razão das necessidades associadas à emergência.
O evento também reproduziu um vídeo com imagens da destruição pelas enchentes, com dois QR codes ao final para os presentes fazerem doações em dinheiro ou não financeiras. Um cartão com um QR code também foi distribuído nas mesas.
As jornalistas viajaram a convite do Lide e da Ema Conteúdo.
FERNANDA PERRIN E ALEXA SALOMÃO / Folhapress