‘Temos reais chances de voltar ao Oscar’, diz Antonio Saboia, de ‘Ainda Estou Aqui’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pouco mais de um mês após “Ainda Estou Aqui” ser ovacionado por 10 minutos pelo público do Festival de Veneza, Antonio Saboia, que interpreta o criador desta história, reflete sobre as expectativas para o filme.

Em meio a nomes como Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Walter Salles, Selton Melo e Marcelo Rubens Paiva, ele enxerga no longa a oportunidade de colocar sua carreira em outro patamar, com um possível prêmio para chamar de seu.

Saboia interpreta Marcelo Rubens Paiva na história do acidente que o tornou paraplégico aos 19 anos. Paralelamente, ele conta como foi o desaparecimento de seu pai, o ex-deputado Rubens Paiva (Selton Melo) pelos militares na Ditadura.

No filme, Eunice (Fernanda Torres) —cuja busca pela verdade sobre o destino de seu marido se estenderia por décadas— é obrigada a se reinventar e traçar um novo futuro para si e seus filhos.

O mês de setembro marcou a carreira de Saboia —até agora mais voltada a filmes como “Bacurau”, “Deserto Particular”, “O Lobo Atrás da Porta”— como um período de maior contato com o público popular brasileiro. Além de interpretar Marcelo, ele esteve na primeira fase de “Mania de Você” (Globo) como Henrique, o marido assassinado por Ísis (Mariana Ximenes) e Guga (Allan Souza Lima).

O ator nasceu na França e viveu a infância no Brasil, entre São Luiz do Maranhão e Brasília. Filho de mãe franco-espanhola e pai brasileiro, ele celebra a dupla nacionalidade com a vontade de atuar em diversos países e trabalhar com diferentes culturas.

O INÍCIO

Diferentemente de muitos atores brasileiros, que se conhecem em escolas de teatro e testes para filmes ou novelas nacionais, Antônio fez seus estudos na Inglaterra. Como ele conseguiu fazer a transição para o cenário nacional? Brincando com a sorte.

“Eu já assistia, já consumia muito cinema brasileiro. Na época, ‘Cidade de Deus’ lançou e virou um fenômeno pop. Então, coloquei na minha cabeça que eu queria trabalhar com Fernando Meirelles. Saí mandando e-mail para ele e ele me respondeu. Eu também vou a cafezinhos com outros diretores. Lá fora é um pouco mais difícil”, contou o ator à Folha de S.Paulo.

Foi assim também que ele conseguiu o papel de Marcelo Rubens Paiva em “Ainda Estou Aqui”: “Eu sabia que Walter [Salles] tinha assistido a ‘Deserto Particular’ e, na cara de pau, mandei um e-mail para ele”. Depois de um café na Livraria Argumento, no Leblon, o ator saiu com o papel sonhado. “Ele me entregou o roteiro do filme, me convidando para fazer o Marcelo. Óbvio que topei na mesma hora, sem nem ler”.

O próximo passo foi conhecer aquele que iria interpretar: “Fui encontrar com o Marcelo, em São Paulo, no prédio onde ele mora. Ele me acolheu, muito fervorosamente”. “A primeira coisa que ele me falou foi: “Pô, bicho, não me imita não, por favor”, contou o ator, aos risos, com a lembrança.

Os veteranos brasileiros não paravam de aparecer na vida de Saboia. Fernanda Montenegro foi mais uma: “A Fernandona é tudo o que a gente acha e mais um pouco. É impressionante trabalhar com ela. Me acolheu com tanto carinho… Fizemos alguns ensaios na casa dela. No último, ela pegou minha mão e, muito humildemente, com um sorrisão, disse: ‘A gente dá conta. Né, meu filho?'”.

O ator contou ainda mais uma ação tocante da maior atriz brasileira. Fernanda ficou duas horas assistindo a uma cena de Saboia, em que ele precisava interpretar uma reação a ela: “Para mim foi extraordinário. Essa mulher de 94 anos ficou lá durante duas horas, quando não precisava, para me ajudar. Isso é muito raro. Eu já vi pessoas bem mais novas saírem”.

A experiência do ator na produção do filme já bastaria para ele apostar no longa como candidato ao Oscar 2024. Mas ele ainda elencou motivos para “Ainda Estou Aqui” ser escolhido como melhor filme internacional.

Ele diz que o fato de Walter Salles já ter um histórico na premiação é um fator: “Ele já tem filmes selecionados ao Oscar, ao Golden Globes, é um criador internacional, que já trabalhou em vários lugares, ele tem um nome”. “A temática do filme também pesa, já que é ano eleitoral nos Estados Unidos”, disse, referindo-se ao contexto da Ditadura Militar em que o longa está inserido.

“Fernanda Torres está maravilhosa no filme, está incrível, brilhante. Realmente merecedora de uma indicação e de ganhar esse prêmio também”, acrescentou.

Para além do cinema e depois de “Mania de Você”, Antonio quer continuar a crescer nas novelas e em outros formatos: “Como ator, é interessante transitar pela televisão, pelo cinema, pelo teatro. São modos de trabalhar diferentes”. “Tenho muita admiração por quem consegue segurar um personagem por tanto tempo. Eu adoraria fazer uma novela”, ele fez questão de enfatizar, visando novos trabalhos pela frente.

LUÍSA MONTE / Folhapress

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