RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A escalada das cotações internacionais do petróleo cria uma “tempestade perfeita” que pressiona os preços dos combustíveis no país, afirmaram em relatório divulgado nesta terça-feira (2) analistas do Itaú BBA. Eles não esperam, porém, reajustes no curto prazo.
As defasagens dos preços praticados pela estatal atingiram patamares elevados esta semana, pressionadas também pela desvalorização do real frente ao dólar diante da série de declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o câmbio.
Em encontro com analistas também nesta terça, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, reafirmou a política de preços da companhia, implantada em maio de 2023 para cumprir promessa de “abrasileirar” os preços, feita por Lula na campanha de 2022.
Os analistas Monique Grego Natal, Bruna Amorim e Eric de Mello, do Itaú BBA, calculam que a Petrobras hoje vende diesel com valor 8% inferior ao piso da banda de preços de sua política comercial. A gasolina está próxima ao piso, mas ainda acima.
Eles acreditam, no entanto, que a Petrobras deve esperar um pouco mais para avaliar a evolução do mercado antes de decidir por reajustes, já que a empresa passou um período com os preços no centro da banda, garantindo gordura para queimar.
A análise do Itaú BBA considera que o teto da banda de preços é a paridade de importação, que simula quanto custaria para trazer o produto do mercado externo ao país. O piso é a paridade de exportação, que simula o valor que a estatal ganharia ao vender o produto no exterior.
Na abertura do mercado desta terça, o preço da gasolina vendida pela estatal estava 19%, ou R$ 0,67 por litro, abaixo da paridade medida pela Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), o maior valor desde o dia 16 de abril.
No caso do diesel, a diferença era de 17%, ou R$ 0,73 por litro, a maior desde o início de outubro de 2023. A Petrobras não mexe no preço da gasolina desde setembro. O preço do diesel foi alterado pela última vez no fim de dezembro.
Com reajustes mensais previstos em contratos, o preço do QAV (querosene de aviação) vendido pela Petrobras já sentiu os efeitos do aumento das cotações do petróleo e da desvalorização cambial. Nesta segunda (1), a empresa anunciou aumento de 3,2%.
‘FUNDAMENTOS CORPORATIVOS SÓLIDOS’
Mesmo sem sinalizações pela Petrobras de valorização dos combustíveis diante da defasagem em relação aos preços internacionais, analistas do banco americano Goldman Sachs acreditam que “fundamentos corporativos sólidos” devem sustentar políticas mais alinhadas ao mercado.
Durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, a Petrobras sofreu intervenções nos preços, o que contribuiu para os prejuízos na petroleira.
Hoje, porém, os analistas Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins avaliam que a companhia possui uma melhor governança “após o processo de recuperação da companhia iniciado em 2016”.
Isso sustenta a visão deles de que não devem ocorrer grandes revisões na estratégia e nas principais políticas da Petrobras, ao menos no médio prazo.
“Mantemos nossa visão de que as leis atuais e os estatutos existentes da Petrobras apresentam desafios para a nova gestão alterar significativamente sua alocação de capital e o preço dos combustíveis” disseram os analistas Amorim, Frizo e Costa Martins em relatório, após participarem do encontro com Chambriard nesta terça-feira.
Eles dizem enxergar uma continuidade pela atual gestão das últimas políticas implementadas na Petrobras e destacaram, além da política de preços, o compromisso que a atual CEO da petroleira assumiu em relação à manutenção da política de remuneração dos acionistas.
Segundo os analistas do Goldman Sachs, esses dois assuntos (políticas de preços e de dividendos) são os que mais preocupam os investidores atualmente.
NICOLA PAMPLONA E STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress