SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As fortes chuvas que já deixaram ao menos 13 mortos no Rio Grande do Sul são um fenômeno extraordinário, afirma a meteorologista Estael Sias, sócia-diretora da MetSul.
“É um volume excepcional. É uma época em que estão previstas frentes frias, ciclones extra-tropicais e é esperada bastante chuva, mas o que choveu nestes últimos dias representa de duas a três vezes a média histórica deste período”, diz ela.
Sias afirma que, em parte, os temporais têm a ver com o El Niño. “No segundo ano de El Niño é esperado que o outono tenha períodos de chuva excessiva e enchente. No ano passado, era esperada dificuldade na colheita de soja”, afirma.
Além do El Niño, o bloqueio atmosférico que gerou a onda de calor atual também contribui para a formação dos temporais isolados no Sul.
“A onda de calor, completamente atípica, persiste no Sudente e no Centro-Oeste e faz com que a chuva não saia do Rio Grande do Sul”, afirma a meteorologista. “Ela [chuva] está espremida entre esse bloqueio atmosférico que atua no Centro-Oeste e Sudeste e uma massa de ar mais frio na Argentina.”
Os rios atingiram cheias sem precedentes no Rio Grande do Sul. Em novembro do ano passado, por exemplo, a cheia do rio Taquari foi de 29 metros. Agora, a projeção é que chegue a 35. As prefeituras de Estrela e Lajeado já disseram nas redes sociais que o nível do rio já atingiu 32,5 metros.
A meteorologista ainda cita outros rios que também registraram cheias históricas: Jacui, Guaíba, Sinos e a bacia do Caí. A situação, ela diz, deve trazer mais problemas nos próximos dias, mesmo que pare de chover na próxima semana. “Todo o escoamento dessa água ainda vai trazer mais problemas para áreas do centro e do sul do Rio Grande do Sul.”
Com a previsão de aumento do nível das águas do rio Guaíba nos próximos dias, a Prefeitura de Porto Alegre deu início na manhã desta quinta-feira (2) à operação de fechamento das comportas da cidade.
Além das 13 mortes, há 21 desaparecidos, segundo informações atualizadas no final da manhã desta quinta. Ao todo, 67.860 pessoas foram afetadas pelos temporais em 147 municípios do estado. Há também 9.993 desalojados e 4.599 desabrigados.
ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA
O Governo do Rio Grande do Sul decretou estado de calamidade pública em edição extra do Diário Oficial publicada na noite desta quarta (1º). O decreto estabelece que órgãos públicos prestem apoio à população nas áreas afetadas, em articulação com a Defesa Civil.
Os temporais destruíram moradias, estradas e pontes, além de comprometer o funcionamento de instituições públicas. As aulas nas escolas estaduais, por exemplo, foram suspensas nesta quinta e na sexta-feira (3).
ISABELLA MENON / Folhapress