RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Um clássico da teledramaturgia nacional com trama de Benedito Ruy Barbosa trazido para os tempos atuais ocupando a faixa nobre da Globo? Estamos falando de “Renascer”, mas também poderia ser “Pantanal”, que em 2022 se encaixava exatamente na mesma descrição.
Em comum, ainda, o fato de que coube ao neto do autor, Bruno Luperi, a adaptação do texto original. O jovem roteirista, que estreou há oito anos (como coautor de “Velho Chico”, ao lado do avô e da mãe, Edmara Barbosa), diz que não teme a pecha de “adaptador” que alguns tentam colar nele.
“Tenho muitos trabalhos autorais na gaveta”, afirma ao F5. “Não parei de escrever, e é uma novela atrás da outra (risos), mas tenho muitos projetos. Quero ainda contar muitas histórias e quero viver disso.”
Ele diz que mesmo as adaptações têm seus desafios, cada uma a sua maneira. “‘Pantanal’ tinha uma característica muito única pelo bioma em que estava inserida, pela dinâmica das águas”, compara. “‘Renascer’ é um novo contexto, Ilhéus, sul da Bahia, todo mundo transformado pelos últimos 30 anos.”
Luperi não foge da pergunta sobre qual delas é a mais difícil de adaptar. “‘Renascer’ precisa de muito mais trabalho, muito mais suor, pesquisa e soluções criativas para a história ser contada como foi concebida”, afirma.
Passada a ansiedade com a estreia da nova versão, o autor diz ter muitas lembranças da trama original. “Foi a primeira novela que eu vi acontecer”, rememora. “Lembro o meu avô escrevendo porque nós sempre frequentamos muito a casa dele. Eu o vi chorando, sorrindo e se emocionando com os dramas.”
A saga de José Inocêncio (Humberto Carrão/Marcos Palmeira) foi tão impactante para a família que gerou anedotas que até hoje o levam a abrir um sorriso quando conta. “Não esqueço também que eu tinha mais ou menos 5 anos e, junto com o meu irmão, pegamos os ovos de Páscoa e começamos a pisar no chocolate porque a imagem de João Pedro [vivido por Palmeira na ocasião] amassando o cacau me marcou muito.”
Questionado se continua acompanhando as novelas com tanta intensidade, Luperi confessou que não consegue ver tudo o que está no ar e que sua preferência é mesmo pelas obras com características que marcaram a obra de seu avô e sua vida como um todo.
“Sou fã do gênero do meu avô, desse Brasil profundo, dessa novela que é um mergulho íntimo. Ela apela muito pouco para o maniqueísmo, carrega em tintas humanas. E o trabalho dele é rico, porque vejo minha família, a maneira como fui criado, os valores que foram passados.”
ANA CORA LIMA / Folhapress