Teorias da conspiração afirmam que acidentes da Boeing são intencionais

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Grupos de extrema direita têm disseminado afirmações falsas e teorias da conspiração sobre os incidentes recentes envolvendo aviões da Boeing. Os conspiracionistas afirmam que tudo faz parte de um plano para exterminar a civilização do Ocidente.

Nos últimos meses, as aeronaves da empresa americana enfrentaram uma série de problemas técnicos, incluindo um Boeing 737 MAX 9 que perdeu a tampa da porta em pleno voo. Embora ninguém tenha ficado gravemente ferido, as autoridades disseram que o evento não se tornou uma tragédia por pura sorte.

Já no começo da semana passada, um problema técnico em um voo da Latam que partiu de Sydney, na Austrália, deixou 13 feridos. O acidente aconteceu porque o avião parou no ar e entrou em queda livre. Alguns dos passageiros voaram de seus assentos —e a possível explicação é que um comissário de bordo teria esparrado em um botão que, por sua vez, empurrou o piloto sobre os controles da aeronave, fazendo com que ela se posicionasse com a dianteira em direção ao solo.

Figuras de extrema direita já usavam as falhas técnicas como munição para atacar os esforços da Boeing em prol da diversidade. Para eles, a contratação de grupos marginalizados, como mulheres, pessoas negras e pessoas da comunidade LGBTQIA+ compromete a segurança das aeronaves porque eles não seriam qualificados para desempenhar suas funções. Essa afirmação se baseia em estereótipos sexistas, racistas e LGBTfóbicos, sem embasamento científico.

Agora, porém, essas figuras afirmam que os acidentes estão acontecendo intencionalmente como parte de uma conspiração global para derrubar a civilização ocidental e promover o comunismo.

A campanha de desinformação ganhou força em janeiro deste ano, depois que uma parte de um avião da Alaska Airlines, construído pela Boeing, soltou-se durante um voo.

De acordo com o site Wired, um dos principais disseminadores dessas teorias é James Lindsay, um extremista conhecido por seus comentários homofóbicos e anticomunistas.

“A Boeing pode estar cometendo suicídio de forma deliberada como organização”, disse ele, em entrevista a um podcast. Lindsay afirmou ainda que o suposto plano seria substituir o Boeing 737 por um novo modelo idêntico, fabricado pela China, adicionando à teia de conspirações um suposto interesse do Partido Comunista Chinês nesse tipo de transação.

“Então talvez acabem com a Boeing e permitam que a fabricação americana de aeronaves de alta qualidade caia”, afirmou ele. “Talvez seja um grande negócio internacional sujo que está realmente acontecendo.”

Sem apresentar provas, o conspiracionista disse que executivos da Boeing estavam permitindo que os acidentes acontecessem para aumentar seus próprios bônus, concedidos por implementar políticas de ESG, sigla em inglês para o conjunto de de boas práticas nas áreas ambiental, social e de governança.

O ex-presidente americano Donald Trump também tem estimulado as teorias da conspiração. Durante um episódio de seu podcast, ele afirmou que o suposto declínio da Boeing em razão do aumento da diversidade era símbolo de um colapso mais amplo da civilização ocidental.

“Essa é a decadência americana”, disse Trump. “Está acontecendo em todo o nosso país por causa de políticas ridículas, essa estupidez de diversidade. Isso é o que está acontecendo com a América de uma forma ampla.

A Boeing disse que está cooperando com a investigação do Departamento de Justiça para apurar as circunstâncias do acidente com o Boeing 737 MAX 9. Além disso, afirma que os relatórios de diversidade referentes aos anos de 2020 e 2022 mostram que a empresa não atingiu as metas para a contratação de mulheres e de pessoas negras.

Impulsionadas por figuras públicas como Trump, as informações falsas tomam as redes sociais. “É difícil acreditar que os politicamente corretos tenham destruído a Boeing de forma tão completa”, diz um internauta. “Anotem minhas palavras: é apenas uma questão de tempo até que as medidas politicamente corretas da Boeing causem a morte de centenas de pessoas”, escreveu outra pessoa.

Redação / Folhapress

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