SÃO PAULO, SP E NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – Não fosse pelo título, seria difícil para os fãs de “True Detective” identificarem “Terra Noturna” como uma nova temporada da icônica série da HBO, lançada há uma década. Os episódios que estreiam neste domingo, afinal, contrastam profundamente com o ambiente hipermasculinizado e de paleta de cores vivas daqueles disponíveis em seu primeiro ano.
Antológica, isto é, com nova trama e personagens a cada temporada, “True Detective” tem agora uma dupla de policiais mulheres à frente, interpretadas pela veterana Jodie Foster e a ex-boxeadora Kali Reis, e se passa no Alasca, com suas paisagens gélidas da noite polar, período invernal em que seus habitantes não veem a luz do Sol.
As novidades não estão restritas ao que está em cena, no entanto. Nos bastidores, também, a série ganhou pela primeira vez uma roteirista ou diretora mulher. Issa López, com seu passado escrevendo telenovelas no México, ajudou a revirar tudo o que parecia canônico em “True Detective”, que agora ganha ares mais diversos, segundo a diretora.
“As três temporadas anteriores são masculinas, e eu não digo isso como crítica, porque foi um trabalho bem feito em termos de mostrar o que significava ser um homem em meio àqueles conflitos”, disse ela em novembro passado, diante dos arranha-céus que cercam a sede da HBO em Nova York, em evento da produtora para anunciar suas apostas para 2024.
“Mas era hora de ter uma nova abordagem, e eu suspeito que a HBO queria especificamente uma mulher, então chegaram até mim. E nunca me disseram que precisávamos ter personagens femininas, mas eu achei que seria interessante fazer uma oposição à primeira temporada o masculino agora é feminino, o que era quente é frio, o que era iluminado é uma longa noite.”
Ela suspeita que, quando foi abordada pela produtora para escrever e dirigir os novos episódios, a expectativa era de que ela ambientasse a trama na fronteira dos Estados Unidos com o México, terreno fértil para conflitos policiais como os que movem “True Detective” ”talvez não, mas eu já estou tão acostumada com Hollywood”.
Sua sugestão de escolher o Alasca como lar para os novos personagens foi recebida com entusiasmo, conta, até porque a região é pouco explorada pelo audiovisual americano. E há, também, um outro grupo que pouco atrai os holofotes em foco em “Terra Noturna”.
Kali Reis, a ex-boxeadora e agora atriz, é de ascendência indígena, e a fictícia cidadezinha de Ennis, onde os episódios se passam, é habitada, em boa parte, por povos originários.
É um aceno para o que está acontecendo no mundo hoje, disse Reis em sua passagem pelo Brasil em dezembro, quando participou da feira de cultura pop CCXP. Campeã mundial de boxe em duas faixas de peso, ela tem ascendência wampanoag, nipmuc e cherokee, e diz que por ser “naturalmente uma guerreira”, não se assustou com a tarefa de contracenar com Foster, vencedora de duas estatuetas do Oscar.
Juntas, as personagens Liz Danvers e Evangeline Navarro precisam investigar o estranho caso de um grupo de pesquisadores que aparece morto, congelado, numa área remota do estado americano. Mais uma vez, há um flerte com o sobrenatural, como nas temporadas que tiveram Matthew McConaughey, Mahershala Ali e Woody Harrelson como detetives.
“Eu amo o universo de True Detective, e a Issa tinha um roteiro incrível, então foi fácil, eu soube imediatamente [que deveria aceitar o papel]”, diz Foster, numa rara aparição nas telas em anos recentes, já que ela vem tentando pôr o pé no freio da carreira de atriz.
O repórter viajou a Nova York a convite da HBO
TRUE DETECTIVE: TERRA NOTURNA
Quando Estreia neste domingo (14), na HBO e na HBO Max
Classificação Não informada.
Elenco Jodie Foster, Kali Reis e Fiona Shaw
Produção EUA, 2024
Criação Nic Pizzolatto e Issa López
LEONARDO SANCHEZ / Folhapress