LEEDS, INGLATERRA (FOLHAPRESS) – A erupção do Vesúvio não foi a única responsável pela destruição de Pompeia. Durante a atividade vulcânica, em 79 d.C, a antiga cidade do Império Romano sofreu os efeitos de um terremoto, segundo pesquisa publicada nesta quinta-feira (18) na revista científica Frontiers in Earth Science.
Hoje um importante sítio arqueológico, Pompeia fica a pouco mais de 20 km de Nápoles, no sul da Itália, e é classificada como Patrimônio Mundial da Unesco. Estima-se que abrigava cerca de 13 mil pessoas e pelo menos um quinto dessa população acabou vitimada pela erupção, conforme estimativa do governo italiano. Arqueólogos já recuperaram os restos mortais de mais de 1.300 indivíduos.
A conclusão da equipe de pesquisadores em solo italiano é inédita. Estudos anteriores indicaram que a cidade registrara tremores de terra antes da erupção. Não havia, porém, descrições científicas de abalo sísmico e suas repercussões durante a erupção.
“Nosso estudo comprova que ela foi severamente afetada pelas consequências desse tremor de terra, que causou desmoronamentos de edifícios”, afirma Domenico Sparice, um dos autores do artigo e pesquisador do Observatório Vesúvio, vinculado ao Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia, na Itália.
Para chegar a esse quadro, eles se concentraram em dois cômodos de um edifício da antiga cidade romana. Dois esqueletos encontrados em um dos quartos também foram essenciais.
Inicialmente, a investigação apontou que o desmoronamento do imóvel se deu em um intervalo entre a primeira e a segunda fase da erupção. “Essa observação forneceu as pistas iniciais que nos levaram a excluir os possíveis efeitos dos fenômenos vulcânicos”, afirma Sparice.
Os cientistas recorreram, então, a métodos antropológicos para examinar os dois esqueletos. Neles havia indícios de múltiplas fraturas ósseas que se parecem com traumas decorrentes de compressão dos corpos a partir do colapso de grandes porções de paredes. Não havia marcas compatíveis com asfixia ou fatores térmicos, o que seria relacionado à erupção.
Sparice afirma que, durante um intervalo da erupção do vulcão, alguns moradores de Pompeia provavelmente pensaram que a destruição havia acabado e foi nesse momento que ocorreram os tremores de terra.
“Algumas pessoas que não fugiram dos seus abrigos foram possivelmente esmagadas pelos desmoronamentos de edifícios induzidos pelo terremoto […]. Esse foi o destino dos dois indivíduos que recuperamos”, explica o pesquisador.
Por último, uma investigação que rastreia terremotos a partir de vestígios arqueológicos indicou aos cientistas que o colapso do edifício apresenta traços semelhantes aqueles registrados quando há tremor de terra.
Foi a união de diferentes metodologias que resultou na conclusão do artigo. Por essa razão, Sparice defende a aplicação desse processo para entender o que ocorreu em Pompeia e também em outras cidades antigas atingidas por desastres.
O pesquisador cita que isso já foi feito, por exemplo, no assentamento Acrotíni, na Grécia. A região foi devastada devido à atividade do vulcão Tera, mas pesquisas recentes com materiais vulcânicos e detritos de construções apontaram que abalos sísmicos também tiveram relação com a destruição.
“A investigação vulcanológica por si só não é suficiente”, diz Sparice.
Nos últimos anos, além de restos mortais, escavações em Pompeia revelaram objetos usados à época que indicam, por exemplo, as técnicas de edificação dos romanos, e afrescos que representam, entre outros, uma cena mitológica.
No ano passado, arqueólogos disseram ter identificado um pequeno quarto que, segundo eles, teria sido utilizado por escravos.
SAMUEL FERNANDES / Folhapress