Tesouro RendA+ e previdência privada atraem público incerto com aposentadoria oficial

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma já é consolidada no mercado, a outra, relativamente recente no mundo de investimentos. Apesar das diferenças, tanto a previdência privada quanto o Tesouro RendA+ são opções para quem quer se aposentar com uma renda extra.

Na avaliação de especialistas consultados pela Folha de S.Paulo, ambas as aplicações têm suas vantagens e seus pontos de atenção. Enquanto o RendA+ oferece a simplicidade e segurança do Tesouro Direto, a previdência privada tem como um dos principais atrativos a flexibilidade.

Criado em 2023, o RendA+ já atraiu 94,7 mil investidores, acumulando um estoque de R$ 2,74 bilhões aplicados. O título é ofertado pelo Tesouro Direito, com foco na aposentadoria.

Já a previdência privada pode ser contratada através de bancos, seguradoras ou corretoras. A depender do perfil do cliente, o investimento pode ter um portfólio composto por fundos com ações, produtos de renda fixa ou de multimercado (atrelados a índices de preços, juros e outras classes de ativos).

Viviane Varga, secretária-adjunta do Tesouro Nacional, diz que o RendA+ facilita o acesso à Previdência. “É uma forma de acumular dinheiro. A pessoa que não é contribuinte ou não sabe se terá direito ao benefício na velhice pode se antecipar e guardar um pouco da renda desde já.”

Segundo ela, os ganhos da aplicação são parecidos com os de outros títulos do Tesouro, como o IPCA+ e o Educa+. “O que muda é o apetite do investidor de preferir uma remuneração atrelada à taxa Selic, toda pré-fixada ou corrigida pela inflação”, diz.

Hoje, o Tesouro disponibiliza oito títulos RendA+ com liquidez diária. Eles podem ser comprados a partir de R$ 30,56, em qualquer frequência. A rentabilidade é referenciada ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), ou seja, compensa a inflação oficial do período e paga juros adicionais, que variam entre 6,38% e 6,44%.

Cada título oferece uma data de conversão, quando a pessoa começa a receber a renda dos investimentos. É possível escolher entre oito opções, que vão de 2030 a 2065. A partir dessa data, o investidor recebe os valores acumulados mensalmente por 20 anos.

Assim como outros investimentos de renda fixa, apenas o rendimento do título é tributado, com alíquotas que variam em função do tempo de resgate, regressivamente: 22,5%, 20%, 17,5% e 15%.

Segundo Michael Viriato, assessor de investimentos, sócio fundador da Casa do Investidor e colunista da Folha de S.Paulo, por se tratar de um produto mais simples, o RendA+ é ideal para quem tem pouco conhecimento em finanças. “Na contratação, a pessoa vai ter uma ideia do que vai ganhar e isso pode tranquilizá-la. Porém, existem produtos similares na previdência privada com vantagens fiscais maiores”, afirma.

TRIBUTAÇÃO DO RENDA+

Prazo do investimento Alíquota IR

até 180 dias 22,5%

de 181 a 360 dias 20%

de 361 a 720 dias 17,5%

acima de 720 dias 15%

Assim como no RendA+, a forma de acumulação da previdência privada também é flexível. A regularidade dos aportes pode variar de acordo com os interesses do investidor e do produto contratado.

Após concluir o período de acumulação, existem três formas principais de receber os recursos: integralmente, de forma mensal temporária ou mensal vitalícia. No primeiro caso, o investidor saca o dinheiro todo de uma vez; no segundo, recebe pagamentos mensais por um período; no terceiro, recebe todo mês até o final da vida. A escolha varia de acordo com o contrato definido e com o valor aplicado.

Para investir na previdência privada, é necessário escolher entre dois modelos: PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) ou VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre).

O PGBL costuma ser adotado por quem opta pelo modelo completo da declaração de Imposto de Renda. Assim, é possível deduzir as contribuições realizadas até o limite de 12% da renda tributável anual. No momento do resgate, a alíquota de tributação será aplicada sobre o valor total.

Por outro lado, no VGBL, não há como realizar a dedução no IR. A modalidade é mais indicada para os que declaram pelo modelo simplificado. No resgate, porém, a incidência do IR ocorre apenas somente sobre os rendimentos.

Quanto à tributação, o investidor tem a opção de escolher entre duas tabelas na hora de contratar o plano: a progressiva e a regressiva. A tabela progressiva segue as mesmas faixas aplicadas aos salários e outros rendimentos tributáveis, variando entre 0% e 27,5%. Quanto maior o investimento e a renda, maior será a alíquota aplicada.

Já a tabela regressiva possui alíquotas que diminuem ao longo do tempo conforme o período em que os recursos permanecem investidos, chegando a até 10%.

AFINAL, QUAL É A MELHOR OPÇÃO?

Viriato destaca a segurança que o RendA+ oferece ao investidor, mas chama atenção para o prazo de 20 anos para receber o investimento. Ele também ressalta que o título do Tesouro dá a oportunidade de travar o investimento em uma taxa vantajosa, o que não é possível na previdência. “Isso pode ser bom ou ruim. Você sabe quanto e quando vai ganhar, mas a taxa que você travou pode ser baixa”, diz.

Segundo Antônio Sanches, analista da Rico, tanto o Tesouro RendA+ quanto a previdência privada são boas opções para quem busca complementar a aposentadoria. “Talvez escolher um ou outro não seja o ideal, mas sim ter os dois na carteira de investimentos”, afirma.

Para ele, o RendA+ tem oferecido rentabilidades bastante altas. “Os títulos atrelados ao IPCA estão pagando taxas atípicas. É um bom momento para investir”, diz. Contudo, o especialista pondera que oscilações podem favorecer a previdência privada. “Se essa rentabilidade cair, contratar uma previdência que trabalhe com o mercado de ações pode ser uma boa saída.”

MATHEUS DOS SANTOS / Folhapress

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