PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – O nome que aparece na ligação por Zoom é Kevin Wasserman. “Pelo amor de Deus, não me chame de Kevin! Só duas pessoas me chamam de Kevin: minha mulher, quando está muito zangada, e a polícia”, diz o sujeito mais conhecido por Noodles, 61 anos, guitarrista do The Offspring.
A banda punk-pop, que surgiu há 40 anos na Califórnia, chega ao Brasil para um show no festival Lollapalooza nesta sexta-feira, às 19h05, em noite cuja atração principal é um contemporâneo da banda de Noodles, o grupo Blink-182.
O grupo volta ao Brasil dois anos após um elogiado show no Rock in Rio. Foram cerca cerca de 30 apresentações no país desde a primeira turnê por aqui, em 1997. “Temos alguma conexão especial com o público brasileiro, é inexplicável”, diz o guitarrista. “O Dexter [Holland, vocalista da banda] diz que nossas canções, apesar de serem punk, têm um groove, e isso atrai o público latino.”
Essa relação rendeu uma música em homenagem aos fãs locais, que estará no próximo disco do The Offspring, com previsão de lançamento para o primeiro semestre deste ano. “Não quero falar muito para não estragar a surpresa. Tivemos o cuidado de mostrar a letra para alguns fãs daí, para que eles nos dissessem se havia algum erro na letra”. Será uma canção em português?
O novo disco terá produção do veterano Bob Rock, um ás de estúdio cuja principal qualidade é fazer discos pesados, mas comercialmente acessíveis, como o “Black Album”, do Metallica, de 1991, e “Dr. Feelgood”, do Motley Crüe, de 1989.
Rock já produziu diversos álbuns para o Offspring, começando com “Rise and Fall, Rage and Grace”, de 2008. “Ele já nos conhece bem e sabe como tirar o melhor de nós. É um cara exigente, que vive nos empurrando para fazermos sempre o melhor. Às vezes, gravamos um refrão e ficamos contentes com ele, mas Bob chega e diz: Vocês têm certeza? E se fizéssemos de outra maneira? Vamos tentar? Isso é muito bom para nós”.
Sobre o Lollapalooza, Noodles diz que há uma chance de a banda apresentar algumas músicas do novo disco, mas que a maioria do repertório será mesmo composta por sucessos já conhecidos. “Não é um show só do Offspring, estaremos no meio de um grande festival com várias ótimas bandas, então precisamos dar ao público o que ele espera, os nossos hits.”
O Offspring já tinha uma década de carreira quando explodiu no “mainstream” com o disco “Smash”, que está completando 30 anos. O álbum foi um marco da popularização do punk californiano no mundo, com um som mais polido e acessível, que foi abraçado pelas rádios e pela MTV.
O disco trouxe megassucessos como “Come Out and Play”, “Self Esteem” e “Gotta Get Away” e vendeu 11 milhões de cópias em todo o mundo, tornando-se o álbum mais vendido lançado por uma gravadora independente a Epitaph, de propriedade do guitarrista da banda punk Bad Religion, outra contemporânea do Offspring. O disco seguinte, “Ixnay on the Hombre”, já foi lançado pela gigante Columbia Records.
Noodles diz que a banda teve muita sorte ao estourar em meio ao “boom” do rock alternativo na primeira metade da década de 1990, liderado pelo sucesso mundial do álbum “Nevermind”, do Nirvana. “Foi uma fase excelente para o rock”, diz o guitarrista.
“Havia muitas bandas maravilhosas lançando discos que se tornariam clássicos e isso ajudou a artistas de diversos estilos, do grunge ao punk. Certamente ajudou muito o Offspring. Eu sempre vi o Nirvana muito mais como uma banda punk, bem diferente de outras bandas de Seattle, como Pearl Jam e Soundgarden, que eram ótimas, mas faziam um som mais conectado ao rock tradicional dos anos 60.”
Sobre bandas novas inspiradas pelo Offspring, Noodles não precisa ir longe: o filho, que tem 21 anos, lidera uma banda que, segundo o pai orgulhoso, faz um som punk, mas “lembra bandas que nós mesmos ouvíamos há 30 ou 40 anos”. Que bandas? “Penso em Gun Club, Bauhaus, The Cure, Christian Death, essa onda meio gótica. Eles fazem uma música muito atmosférica e densa, e também põem umas coisas meio eletrônicas no meio, é um som muito diferente e muito bom.”
THE OFFSPRING
Quando Sexta (22), às 19h05
Onde No Palco Budweiser do Lollapalooza
ANDRÉ BARCINSKI / Folhapress