SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No show de The Weeknd, se o público piscar pode perdê-lo de vista. Em sua apresentação em São Paulo na noite desta terça-feira (10), o cantor canadense andou por um palco que se estendeu ao longo de todo o gramado do Allianz Parque, o estádio do Palmeiras, na zona oeste da capital.
Com estruturas como uma lua gigante e um corpo metálico espalhados pela arena, o artista se mexeu durante toda a apresentação. O palco de fato, onde seus músicos tocaram, foi menor do que o costume nesse tipo de show, com uma cenografia destacando miniaturas de prédios e um telão que servia como extensão do cenário.
The Weeknd mostrou seu espetáculo futurista em São Paulo depois de se apresentar no Rio de Janeiro, há três dias, no estádio Nilton Santos. O astro pop volta a se apresentar no Allianz Parque nesta quarta-feira (11).
Na contramão do que outros artistas do pop têm feito, como Rosalía, The Weeknd foi mostrado apenas em um telão pequeno, posicionado na lateral do palco, enquanto o show da cantora espanhola é filmado como uma espécie de plano-sequência exibido ao vivo enquanto ela canta.
Se para quem estava na pista foi difícil acompanhar as andanças de The Weeknd, demorou exatamente uma hora para que ele exibisse o rosto. No palco, o cantor se apresentou como uma figura de outro planeta, com um dos braços revestido por uma cobertura prateada e um capacete no estilo Daft Punk.
Ele entrou no palco às 20h45, com 15 minutos de atraso, e emendou mais de 40 músicas em cerca de duas horas de apresentação. O show foi corrido e fluido, com canções cortadas ou tendo só o refrão cantado.
Mas, diferentemente dos shows de trap, em que as músicas tradicionalmente são cortadas pelo meio, The Weeknd costurou umas nas outras sem tempo para respiro. Estrela do pop com um pé no R&B e outro num synthpop recauchutado dos anos 1980, ele foi acompanhado por uma banda de baixo, teclado e bateria.
O repertório era centrado na última década de sua carreira, quando ele foi alçado à fama a partir do álbum “Beauty Behind the Madness”, de 2015. The Weeknd entrou no palco ao som de “La Fama”, canção de Rosalía da qual ele participa, e emendou duas do disco “Starboy”, de 2016 ”False Alarm” e “Party Monster”.
Depois, puxou uma sequência de “Dawn FM”, seu trabalho mais recente, de 2022 ”Take my Breath”, “Sacrifice” e “How Do I Make You Love Me?”. “Can’t Feel my Face”, um de seus maiores hits, veio em seguida, colocando a plateia de dezenas de milhares de pessoas para pular.
A apresentação mesclou indiscriminadamente faixas de toda a carreira do canadense, entremeadas por citações de colaborações dele em músicas alheias. Foi o caso de “Hurricane”, de Kanye West, “Low Life”, de Future, “Circus Maximus”, de Travis Scott, “Creepin'”, de Metro Boomin, e e “Moph to a Flame”, do Swedish House Mafia.
The Weeknd no palco não chamou atenção pela técnica vocal, mas entregou os agudos tremidos que são sua marca e distribuiu carisma. Citou São Paulo em trechos de letras e repetiu que ama a cidade e seus fãs entre as performances.
Na primeira hora, o show foi mais guiado pela cenografia, que ainda teve dançarinos na verdade, pessoas vestidas de branco andando pelo palco extenso. Com o cantor de capacete, a relação com o público foi mais fria.
Já a reta final foi mais quente e contou com uma concentração maior de hits. Ele já havia espalhado “Starboy”, “Heartless” e “Reminder” pelo setlist, mas o show pegou fogo mesmo a partir da sequência com “Faith” e a faixa-título do álbum “After Hours”, de 2020.
O artista puxou “Earned It”, “In the Night” e “Love me Harder” antes de dizer que “Out of Time”, cantada em seguida, era sua favorita do disco mais recente. Cantou o hit no meio da plateia, colocando o microfone na boca do público para que os fãs completassem os versos da letra.
Musicalmente, The Weeknd soou menos interessante ao vivo do que em estúdio. Os graves estavam tão altos que cobriram os outros instrumentos, o que prejudicou as nuances do ritmo dadas pela bateria e as harmonias da guitarra. Soou tudo como uma maçaroca maciça.
A plateia também não foi das mais barulhentas. Cantou alto os refrões de “I Feel it Coming” e “Call Out my Name”, “Save Your Tears” e “Blinding Lights”, mas ficou mexendo no celular ou conversando em tantas outras, principalmente as músicas da trilogia de mixtapes que o revelaram em 2011, que causaram pouca comoção.
Mas essa indiferença não foi suficiente para derrubar o show. Isso porque, para cada música menos celebrada que ele cantou, tinha outros dois ou três hits para compensar, comprovando a espera e a badalação em torno do seu nome.
Além disso, as performances duraram tão pouco que não dava tempo de ficar entediado. Isso serviu também para os momentos mais animados, encerrados tão rapidamente que não dava tempo de curti-los integralmente.
Ficou a impressão de um show apressado, mesmo com com mais de duas horas, o que dialoga com um público cujo tempo de atenção tem a duração de um vídeo do TikTok. De certa forma, casou com a plateia, que em muitos momentos preferiu filmar o cantor ou se filmar curtindo a apresentação do que de fato pular ou cantar junto do músico.
LUCAS BRÊDA / Folhapress