Threads, Bluesky e Mastodon desafiam Twitter; veja comparativo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – À medida que o Twitter rui, com perdas paulatinas de recursos gratuitos desde que Elon Musk comprou a rede social em outubro, novos concorrentes disputam o domínio no campo das plataformas de textos curtos. O mais recente desafiante é o Threads, do Instagram, lançado nesta quarta (5).

O BlueSky, desenvolvido com financiamento do cofundador do Twitter Jack Dorsey, também concorre por esse mercado, apesar de restringir acesso ao grande público. O Mastodon, por sua vez, tem interface similar a rede do pássaro azul e é a primeira rede aberta a romper o patamar do primeiro milhão de usuários.

A reportagem comparou as quatro redes sociais e nenhuma delas entrega uma experiência completa e acessível garantida pelo Twitter nos seus melhores dias.

Antes da compra por Musk, a plataformareunia uma base sólida de 239 milhões de usuários ativos, com recursos úteis como os assuntos do momento (trending topics, em inglês) e o Tweetdeck, que permitia visualizar diversas linhas do tempo de um só vez.

O Instagram abriu o Threads ao público como um mínimo produto viável. Usuários podem publicar textos, vídeos, fotos e interagir com a publicação de outras pessoas. Muitos dos recursos da plataforma, como a interoperabilidade com outras redes, ainda são promessas.

O uso do Mastodon envolve escolha de servidores e navegação entre eles, o que pode tornar o uso labiríntico. Embora a rede social tenha um servidor principal, a pessoa pode escolher um nicho para acessar e publicar conteúdos, de acordo com idioma, assunto de domínio e outras divisões.

Essas duas últimas plataformas fazem parte de um sistema aberto chamado Activity Pub. É uma federação de redes sociais, diz Ronaldo Lemos, cientista chefe do Instituto Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro e colunista da Folha de S. Paulo. Usuários de Mastodon e Threads poderão interagir entre si e trocar mensagens, no futuro, de acordo com a Meta.

O BlueSky emula com mais fidelidade a experiência do antigo Twitter. A restrição de acesso, no entanto, funciona como uma lâmina de dois gumes: usuários se sentem mais à vontade para publicar conteúdos mais íntimos, mas não podem encontrar a diversidade de interlocutores disponíveis em redes consolidadas.

O BlueSky também é aberto, mas está em outra vizinhança de redes sociais, chamada Protocolo AT, e, portanto, não tem comunicação com Threads e Mastodon.

NÚMERO DE USUÁRIOS

O Threads atingiu 70 milhões usuários 40 horas depois de seu lançamento, em uma conquista de usuários jamais vista, de acordo com publicação de Mark Zuckerberg na própria rede. O Twitter, por exemplo, levou dois anos para conseguir seu primeiro milhão de usuários.

A Meta aproveitou a base de mais de 2 bilhões de usuários do Instagram para impulsionar seu novo serviço. É possível acessar o Threads com a mesma conta registrada na rede social de fotos. Influenciadores, páginas de entretenimento e veículos de imprensa já estão na rede.

O Twitter, em comparação, tinha 229 milhões de usuários ativos mensais em maio de 2022, quando a empresa divulgou o último balanço. Desde a compra por Musk, a empresa saiu da Bolsa de Valores e não divulga mais essa informação. Consultorias estimam que hoje a rede social reúna 300 milhões de usuários.

O Mastodon está no ar desde 2017 e reúne 13 milhões de usuários. Esse número disparou de novembro de 2022 para cá, quando a plataforma tinha pouco mais de 1 milhão de pessoas ativas. Entre os usuários, há menos personalidades e instituições influentes..

No BlueSky estão alguns tuiteiros famosos como o perfil de política Tesoureiros e o jornalista Reinaldo Azevedo. A rede social, contudo, tem cerca de 50 mil pessoas registradas e exige convite de um membro da comunidade para dar acesso a interessados.

O QUE PODE SER PUBLICADO

Todas as quatro redes sociais permitem publicar textos curtos e imagens. Apenas o BlueSky não tem suporte para vídeo.

O limite de caracteres é de 500 por publicação para Threads e Mastodon, 300 para Bluesky e 280 para Twitter.

Contas gratuitas do Twitter podem postar vídeos de até 2 minutos e 20 segundos; assinantes do pacote plus, que custa R$ 42 ao mês, podem subir materiais de até duas horas.

O Threads limita os vídeos a cinco minutos. No Mastodon, o limite é de 40 gigabytes por arquivo.

LINHA DO TEMPO

O Twitter apresenta duas versões de linha do tempo. Uma cronológica, com publicações apenas de quem a pessoa segue. A outra usa inteligência artificial para ponderar uma série de fatores e entregar publicações que gerem mais engajamento. A rede social abriu o funcionamento desse algoritmo ao público em abril.

O Threads mostra apenas publicações de quem a pessoa segue na linha do tempo. A Meta ainda não explicou como filtra e ordenas as publicações disponíveis na linha do tempo. Nos primeiros dias de funcionamento, o feed de publicações também demorava para carregar.

O Mastodon mostra ao usuário publicações das contas e das hashtags seguidas e os post com quem elas interagem. A ordem é cronológica. Também dá a opção de acessar livefeeds, que mostram todas as publicações feitas no servidor que hospeda a conta ou em todos os servidores.

O BlueSky dá a opção de ver diferentes linhas do tempo. A “estou seguindo” mostra publicações das contas adicionadas pelo usuário. A “o que está quente” apresenta posts selecionados pelo algoritmo do BlueSky. Há também feeds temáticos de ciência, política, moda e entretenimento.

FUNCIONALIDADES COMO BUSCA, LISTA E TWEETDECK

O Threads foi ao ar sem funcionalidades conhecidas do Twitter como a busca por posts, que conta com filtros para otimizar resultados, as listas que permitem reunir perfis afins para agregar publicações de interesse ou mesmo a opção de salvar posts para ver depois. O Bluesky também não conta com esses recursos.

Há mais tempo no ar, o Mastodon reúne todas essas opções consagradas no Twitter.

Nenhuma das redes sociais, porém, tem uma plataforma auxiliar como o Tweetdeck que permitia visualizar diversas linhas do tempo de forma simultânea.

MODERAÇÃO

O Instagram confirmou na quarta que o Threads adotará as mesmas normas da comunidade da rede social de fotos. Com isso, é proibido publicar imagens de nudez, por exemplo, à exceção de situações específicas como cenas de amamentação. São vedadas também imagens entendidas pela moderação da rede como inicitação a atividades ilegais.

O Twitter tem regras mais brandas e permite, por exemplo, publicação de pornografia. Elon Musk comprou a rede social com a promessa de mais liberdade de expressão na plataforma, após políticos e ativistas extremistas serem banidos pela equipe de moderação. Hoje, a plataforma veda discurso violento ou que promova exploração sexual de menores, assédio, suicídio e atividades ilegais.

As regras de moderação variam de servidor para servidor no Mastodon.

Para Ronaldo Lemos, o Threads poderá usar a interoperabilidade com o Mastodon continuar com a audiência de quem não concorda com as regras de moderação da Meta. Quem achá-las muito estritas, por exemplo, poderá criar uma conta em um braço sem normas do Mastodon e ter acesso a contas de amigos e publicações de interesse no Threads.

O BlueSky pede que seus usuários não violem leis e não desrespeitem outros usuários. A rede social proíbe condutas extremistas com base em raça, gênero, etnia, deficiência ou orientação sexual. As normas valem apenas para o servidor do Bluesky, não para outras redes sociais hospedadas no protocolo AT.

PRIVACIDADE

O Threads pede acesso a informações pessoais, financeiras, a dados de saúde e condicionamento físico e a mensagens em outros apps. Essas solicitações não se repetem nas plataformas concorrentes.

O Threads foi projetado para importar dados do Instagram, o que inclui informações comportamentais e de consumo de publicidade.

O Mastodon não coleta dados pessoais. O Bluesky importa apenas informações de contato e relativas a navegação na própria plataforma.

O Twitter também coleta dados de compras e localização e usa informações para distribuir anúncios.

Mark Zuckerberg afirmou que o Threads vai passar a discutir como vender publicidade somente depois da rede atingir seu primeiro bilhão de usuários.

PEDRO S. TEIXEIRA / Folhapress

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