SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Todos os distritos da cidade de São Paulo registraram um aumento na incidência de dengue em relação à semana epidemiológica anterior, aponta boletim da prefeitura divulgado nesta segunda-feira (6). O informe se refere aos dados entre os dias 21 a 27 de abril.
Como um todo, a incidência da doença na capital paulista cresceu de 1.832,7 casos por 100 mil habitantes para 2224,7. Uma incidência acima de 300 casos por 100 mil habitantes é a métrica considerada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para classificar uma epidemia.
Na capital, todos os bairros estão em epidemia de dengue. Já são 267.090 casos confirmados e 122 mortes pela doença. Entre as duas semanas, foram registrados 47 mil novos casos.
Mesmo os distritos com as menores incidências apresentaram aumento considerável de casos por habitantes: Moema (de 304,1 para 394,3), Jardim Paulista (329,0 para 401,0), Saúde (366,2 para 465,6), Vila Mariana (373,8 para 488,5) e República (395,5 para 477,5).
Do outro lado, entre as maiores incidências da cidade, estão Jaguara (crescimento de 10.598,1 para 11.402,0), São Miguel (7.039 para 8.170), São Domingos (4.569,6 para 5.048,3), Itaquera (4.561,4 para 5.080,7) e Guaianases (4.156 para 4.911,9).
A explicação para esse aumento de casos, segundo o infectologista Alexandre Naime Barbosa, pode estar em uma associação do adensamento populacional e das ainda altas temperaturas na capital.
Uma massa de ar quente e seco ganhou força entre os dias 24 a 27 de abril e aumentou as temperaturas no estado e na capital. Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste enfrentam uma onda de calor. No último domingo (5), São Paulo teve ainda o dia mais quente para um mês em maio, em ao menos 81 anos, chegando a 32,8ºC. A média máxima para o mês de maio no município é de 23,4ºC.
Um fator que poderia piorar ainda a incidência seriam as chuvas, que, no entanto, foram abaixo da média para o mês.
“Era esperado algo que não aconteceu: queda da temperatura. Existe uma relação direta entre altas temperaturas e eclosão dos ovos do Aedes Aegypti. A dinâmica de reprodução do mosquito quase triplica acima dos 27ºC”, afirma Barbosa.
“Além disso, o adensamento populacional contribui. O mosquito pica em um raio de 100, 200 metros, então quanto mais gente perto, mais fácil ele transmitir. É esperado que a curva de desaceleração seja menos intensa em grandes capitais em relação a cidades menores”, continua.
Especialistas colocam ainda a explosão de casos no Brasil na conta do crescimento desordenado das cidades e a precariedade de serviços e de infraestrutura básica, como saneamento e limpeza urbana.
O responsável pela Covisa (Coordenadoria de Vigilância em Saúde), órgão ligado à Secretaria Municipal da Saúde, Luiz Artur Caldeira, afirmou ainda, em entrevista anterior à Folha de S.Paulo, que a altíssima incidência de casos na Vila Jaguara tem relação com uma grande concentração de casos nos meses de janeiro e fevereiro e às condições favoráveis à proliferação do mosquito.
Caldeira relatou que, durante as visitas à região, notou um grande número de casas geminadas, sem quintal e com vasos de plantas nas calçadas e dentro das residências, em corredores apertados. Muitas das casas também tinham pequenos vasos pendurados.
Na ocasião, o coordenador afirmou que ainda não é possível perceber uma diminuição da transmissão da doença, mas um platô, ou seja uma estabilidade de casos antes da queda. Segundo ele, para atingir um platô, o aumento de casos novos não pode ser o dobro dos casos novos registrados na semana anterior.
Barbosa, no entanto, diz que não há como diagnosticar um platô em tempo real ou estimar sua previsão de ocorrência.
“O platô somente se verifica após a série histórica epidemiológica. Podemos falar em estabilização da incidência quando o número de casos novos permanece estável ou em queda após 2 a 4 semanas”.
Para designar a estabilidade, deve-se considerar que variações de até 10% são consideradas, dentro da estatística em saúde, como não significantes.
Entre as semanas epidemiológicas 15 e 16, foram registrados cerca de 39 mil novos casos e entre as semanas 16 e 17, 47 mil. Barbosa lembra, no entanto, que podem haver casos represados de notificação e, portanto, ainda não é possível ter certeza se é o caso.
O Brasil ultrapassou os 4 milhões de casos de dengue no último dia 29 de abril, o maior número da série histórica, registrada pelo Ministério da Saúde desde 2000. Apesar disso, 21 estados -incluindo São Paulo- e o Distrito Federal registraram tendência de queda ou estabilidade na incidência entre os dias 21 e 27 de abril.
Apenas Ceará, Mato Grosso, Pará, Sergipe e Tocantins têm tendência de aumento.
LUANA LISBOA / Folhapress