Toninho Geraes reafirma talento em novo disco cheio de samba de raiz

FOLHAPRESS – O mineiro Antônio Eustáquio Trindade Ribeiro, 62 anos, mais conhecido por Toninho Geraes —o apelido foi dado por Zeca Pagodinho, que, nas rodas de samba, costumava chamá-lo de “Das Gerais”— tem uma celebrada carreira de quatro décadas no samba.

Desde que chegou ao Rio na primeira metade dos anos 1980 e estreou em disco na coletânea “Na Aba do Pagode”, de 1986, Toninho se estabeleceu como um compositor querido por grandes intérpretes. Agepê gravou “Me Leva”, o amigo Zeca Pagodinho interpretou “Seu Balancê” e Martinho de Vila gravou “Mulheres”. Toninho Geraes contabiliza mais de 200 canções gravadas por nomes como Emílio Santiago, Beth Carvalho, Simone, Bezerra da Silva e Neguinho da Beija-Flor.

Apesar da carreira de sucesso, Toninho ficou mesmo conhecido do grande público recentemente, quando processou a cantora britânica Adele por supostamente ter plagiado a canção “Mulheres” na faixa “Million Years Ago”, de 2015, creditada a ela e ao produtor musical e compositor americano Greg Kurstin. O processo corre na Justiça do Rio.

É uma pena que um compositor tão talentoso seja mais conhecido por um caso jurídico do que por sua arte. Se o grande público ouvir o novo disco de Toninho Geraes, “O Amor dos Poetas”, que chega às plataformas digitais nesta sexta-feira, certamente vai perceber que ele não merece ser apenas conhecido como “o compositor que a Adele supostamente copiou”.

“O Amor dos Poetas” tem 12 faixas de samba de raiz, algumas mais animadas e festivas, outras românticas e introspectivas, mas todas com uma produção bonita em sua simplicidade e sem nenhum traço do irritante verniz de “perfeição” que se ouve nas produções recentes, com aquelas vozes autotunadas e timbres de FM.

Mérito do produtor e arranjador Alessandro Cardozo, que imprimiu ao disco uma sonoridade que consegue soar tradicional sem ser saudosista.

Toninho Geraes tem uma verdadeira voz de sambista, meio rascante, daquelas que já passaram incontáveis horas em pagodes noite adentro. E como é bom ouvir um disco de samba com um cantor que parece estar num fundo de quintal e não num púlpito.

Metade das 12 canções de “A Voz do Poeta” é composta por Toninho em parceria com Chico Alves. O mesmo Alves assina uma música sozinho, “Berço de Sereia”, e Toninho gravou, em samba, uma versão linda da balada “Sozinho”, de Peninha.

A canção que dá nome ao LP, “O Amor dos Poetas”, é uma homenagem a Luiz Carlos da Vila, morto em 2008. E algumas músicas do disco poderiam ter se tornado hits nas vozes de gente como Agepê, Roberto Ribeiro ou Luiz Ayrão, como “Um Samba de Saudade” e “Desapego”.

Toninho recebe a cantora Marina Iris para uma versão de “Samba Guerreiro”, canção de Toninho gravada em 1996 pela grande Jovelina Pérola Negra.

E o disco encerra com a animadíssima “Seu Zé”: “Quando desce o morro /ele vai trabalhar /com seu terno branco /baralho no bolso e o seu patuá /descendo a ladeira /lá vai o malandro /em cada esquina que passa /considerado ele é/ porque malandro que é malandro/ tem que respeitar seu Zé”.

O AMOR DOS POETAS

Avaliação Muito bom

Quando Lançamento nesta sexta (2) nas plataformas digitais

Autoria Toninho Geraes

Gravadora Mills Records

ANDRÉ BARCINSKI / Folhapress

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