PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Em 16 anos de carreira, o tenista belga David Goffin nunca sofrera nada igual. Quando se levantava da cadeira após um intervalo entre games, um espectador cuspiu um chiclete nele. Na quadra 14 de Roland Garros, isso não é impossível, porque a torcida fica muito perto dos jogadores.
“Está virando futebol. Daqui a pouco, vamos ter sinalizadores, hooligans e brigas na arquibancada”, reclamou. “De um ou dois anos para cá, estão ficando cada vez mais desrespeitosos. Aqui, isso faz parte do show”, disse, após derrotar um jogador da casa, o gigante Giovanni Mpetshi Perricard, de 2,03 m, por 3 sets a 2 (4/6, 6/4, 6/3, 6/7 e 6/3), avançando à segunda rodada do Aberto da França.
O público francês é conhecido pelo entusiasmo na torcida pelos tenistas locais, mas seu comportamento tem despertado críticas. Coincidência ou não, após o incidente do jogo de Goffin, realizado na noite de terça-feira (28), os juízes de cadeira se mostraram mais rigorosos com o público, pedindo a todo momento silêncio durante os pontos.
Foi o caso de um ponto decisivo da emocionante partida entre a número 1 do mundo, a polonesa Iga Swiatek, e a japonesa Naomi Osaka, que já ocupou o posto de líder do ranking. “Por favor, pedimos aos espectadores que não cantem ‘bola fora’ durante os pontos”, advertiu a árbitra durante o terceiro set.
Depois de vencer em três sets a partida de 2h57 (7/6, 1/6 e 7/5), em que chegou a salvar um “match point”, Swiatek criticou o comportamento do público na entrevista pós-jogo. “Eu tenho respeito por vocês, ganho dinheiro graças a vocês. Mas, às vezes, sob muita pressão, quando vocês gritam durante o ponto, é dificílimo manter o foco”, disse. Parte do público aplaudiu a polonesa, outra parte vaiou.
“Espero que vocês continuem gostando de mim, porque sei que a torcida francesa às vezes não gosta de alguns jogadores”, prosseguiu. “Geralmente, eu não levanto essa questão, porque quero ser o tipo de jogadora focada. Mas isso é sério para nós. Lutamos a vida inteira para estar aqui, e às vezes é difícil aceitar isso. Tem muito dinheiro em jogo aqui. Torçam por nós entre os pontos, mas não durante.”
Tricampeã do torneio (2020, 2022 e 2023), a polonesa é a grande favorita ao título -foi campeã em Madri e em Roma, os dois mais recentes torneios importantes no saibro, mesmo piso de Roland Garros.
Ela se deparou com uma ex-número 1 mundial que tenta voltar ao topo. Osaka teve dois hiatos na carreira, em 2021, devido a uma depressão, e no ano passado, para dar à luz. A japonesa parecia prestes a surpreender a campeã, mas cometeu erros não forçados nos pontos decisivos e tomou a virada no terceiro set.
O jogo poderia ser apelidado de “clássico dos caderninhos”, porque Swiatek e Osaka levam às partidas blocos onde fazem anotações. Ambas mantêm o segredo sobre aquilo que escrevem. A japonesa revelou apenas que anota aspectos do jogo em que precisa melhorar, como método de autoajuda.
Aos problemas com o público, somam-se incidentes embaraçosos. Durante a partida contra o francês Corentin Moutet, o chileno Nicolás Jarry foi derrubado por um pegador de bolas em plena corrida.
Na chave feminina, a russa Julia Avdeeva levou uma cabeçada na testa, quando ela e a árbitra se abaixaram para conferir se uma bola tinha quicado dentro ou fora da quadra. Doeu, exigiu aplicação de gelo, e ela levou outra pancada: 2 sets a 0 (6/1 e 6/1) da número 3 do mundo, a norte-americana Coco Gauff.
A quarta-feira (29) teve poucas partidas em Paris, devido à chuva que caiu o dia inteiro. Apenas as duas quadras principais são cobertas e puderam manter a programação normal.
ANDRÉ FONTENELLE / Folhapress