SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Teve início na manhã desta segunda-feira (23) a greve dos trabalhadores de três fábricas da GM (General Motors) em São Paulo. Plantas de São José dos Campos, São Caetano do Sul e Mogi das Cruzes estão totalmente paradas, por tempo indeterminado.
Os sindicatos que representam os funcionários da GM realizaram assembleias na porta das três fábricas da GM nesta manhã e votações que ratificaram a greve aprovada no domingo (22). As reuniões ocorreram de forma pacífica. A montadora confirma a greve.
Os metalúrgicos reivindicam que a montadora cancele uma demissão em massa feita pela empresa. Os funcionários dispensados foram comunicados no fim de semana por telegrama e por email, como mostrou reportagem da Folha de S.Paulo.
Ainda não há confirmação de quantos funcionários foram demitidos, número que não foi revelado pela companhia, e de quantos aderiram à greve. A estimativa inicial dos sindicatos é de que ao menos 3.500 compareceram às assembleias em São Caetano e Mogi.
Em nota, a GM reiterou que a queda nas vendas e nas exportações levaram às demissões nas fábricas das três cidades.
“Esta medida foi tomada após várias tentativas atendendo as necessidades de cada fábrica como, lay off, férias coletivas, days off e proposta de um programa de desligamento voluntário. Entendemos o impacto que esta decisão pode provocar na vida das pessoas, mas a adequação é necessária e permitirá que a companhia mantenha a agilidade de suas operações, garantindo a sustentabilidade para o futuro.”
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, a GM descumpriu um acordo de que não realizaria demissões até maio de 2024 sem antes negociar com o representante legal dos trabalhadores. A unidade tem cerca de 4.000 trabalhadores e produz os modelos S10 e Trailblazer numa média de 150 carros por dia.
A categoria afirma que irá cobrar dos governos federal, estadual e municipais medidas imediatas para reverter as demissões. Parte dos salários dos 1.200 trabalhadores que estão em layoff é paga com recursos públicos, pelo FAT (Fundo de Amparo do Trabalhador), de acordo com a entidade.
“A GM agiu de forma ilegal, por desrespeitar o acordo e a legislação, e imoral, por desrespeitar os trabalhadores. Não vamos produzir um parafuso sequer enquanto as demissões não forem canceladas”, disse Valmir Mariano, vice-presidente do sindicato de São José dos Campos.
Em São Caetano do Sul, o sindicato havia anunciado que faria uma fogueira pública para queimar os telegramas recebidos pelos trabalhadores demitidos.
“Entre 2.500 a 2.800 pararam nesta manhã. Às 15h, haverá nova assembleia com os trabalhadores do turno da tarde”, disse Aparecido Inácio, presidente do sindicato de São Caetano.
Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, afirmou que está tentando chamar a GM para negociar, algo que a companhia tem recusado, segundo ele.
“Vamos procurar o Ministério do Trabalho ou Ministério Público [do Trabalho] para que possamos conversar com a empresa”, disse Torres.
“Ninguém sabe quantos foram demitidos, mas entre hoje e amanhã deve haver um levantamento. Sempre há uma tradição no Brasil de se negociar. Foi estranho o jeito que foi feito, uma medida radical e de desrespeito.”
A mobilização no Brasil ocorre em meio à greve histórica nos EUA contra as três principais montadoras americanas (GM, Ford Motors e Stellantis). Em paralisação que dura mais de um mês, trabalhadores do setor automotivo pressionam por salários e benefícios mais altos e pela eliminação de um padrão escalonado que paga muito menos aos funcionários mais novos.
As montadoras dizem que as exigências do sindicato prejudicariam seus lucros, já que tentam competir com fabricantes não sindicalizados, como a Tesla.
A General Motors registrou lucro líquido global de US$ 2,57 bilhões (R$ 12,94 bilhões) no segundo trimestre deste ano, com alta de 51,6% na comparação anual.
VINÍCIUS BARBOZA / Folhapress